Maquinas e Implementos

Venda de caminhões e maquinários avança 50% mesmo com crise de peças

Licenciamentos de veículos acompanham forte crescimento do agronegócio ao longo deste ano


Publicado em: 26/10/2021 às 18:00hs

Venda de caminhões e maquinários avança 50% mesmo com crise de peças

O setor de veículos de carga dribla a escassez de componentes eletrônicos e vive um 2021 de forte expansão. O segmento de caminhões já acumula alta de 51,8% na comparação entre os períodos de janeiro a setembro de 2020 e de 2021. O crescimento é puxado pelos extrapesados, modelos de maior agregado e mais demandados pelo agronegócio.

“Estamos no meio de mais uma safra recorde e o agro é a principal certeza para os negócios de caminhões em 2021”, diz Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing da divisão caminhões e ônibus na Mercedes-Benz do Brasil.

“Isso traz reflexos muito positivos para as vendas no mercado interno, especialmente nos segmentos que transportam as produções do campo, como soja, milho e outros grãos, além da cana-de-açúcar que segue para as usinas.”

Com os recordes, veículos voltados para o agro ocupam cada vez mais espaço nas linhas de montagem. Na fábrica da Scania, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), essa fatia já representa algo entre 40% e 45% da produção de caminhões.

Tanto na Mercedes quanto na concorrente de origem sueca, já há entregas programadas até o fim do primeiro semestre de 2022. A capacidade de produção está no limite, o que resulta em uma espera maior por parte dos clientes.

O mesmo ocorre no setor de máquinas, em que o Brasil é referência global no desenvolvimento de tratores, plantadeiras e colheitadeiras, entre outros equipamentos voltados para o campo.

De acordo com previsões da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), a venda de maquinário agrícola deve crescer entre 30% e 40% em 2021 na comparação com o ano passado. O bom resultado se reflete em contratações: hoje há cerca de 60 mil trabalhadores nas indústrias do setor, uma alta de aproximadamente 35% em relação a 2020.

“Quando iniciou a pandemia, uma das medidas que tomamos foi faturar só o que os clientes pediam. Mas, para nossa surpresa, ninguém pediu para segurar nenhum produto, continuamos crescendo”, diz Rodrigo Junqueira, gerente geral da AGCO e vice-presidente da Massey Ferguson América Latina.

A empresa, que produz tratores e maquinário agrícola, tem três fábricas no Brasil, localizadas em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) e nas cidades de Canoas, Santa Rosa e Ibirubá, no Rio Grande do Sul.

A produção foi prejudicada pela falta de componentes, e a companhia teve que ajudar alguns fornecedores. Hoje a AGCO precisa gerenciar a fila de espera: alguns equipamentos têm entrega prevista para março de 2022.

E se há crescimento na comercialização de máquinas e caminhões, há expansão também no segmento de implementos. Segundo a Anfir (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários), o setor registrou um crescimento de 42% entre janeiro e setembro sobre o mesmo período do ano passado.

Na venda de carrocerias sobre chassis, se destacam as opções para carga seca, que incluem os graneleiros usados no transporte de soja e milho. Os baús frigoríficos, necessários para o transporte de carnes, também figuram entre os itens mais demandados.

Na ponta do negócio, há a distribuição nos centros urbanos, que movimenta as linhas de produção das fabricantes de furgões. A Iveco, por exemplo, registrou uma alta de 79% na comercialização de seus veículos entre janeiro e setembro em relação ao mesmo período de 2020.

O principal produto da marca no Brasil é a linha de vans Daily, que é produzida em Sete Lagoas (MG). A empresa atua também no segmento de caminhões extrapesados com o modelo Hi Way.

Os recordes de produção e o consequente crescimento do setor de veículos, maquinário e implementos está relacionado às novas tecnologias utilizadas no campo. Um dos exemplos é a plantadeira Valtra Momentum, marca do grupo AGCO. O equipamento é capaz de colocar as sementes na distância e na profundidade corretas, mesmo em um terreno acidentado.

Segundo Junqueira, a plantadeira proporciona ganho de produtividade tanto pela tecnologia aplicada como pelo manuseio mais prático. “Um cliente gasta um tempo enorme de desmonte no modelo normal. A Momentum ‘fecha’ em 1 minuto e 20 segundos.”

A automação de equipamentos é o próximo passo do setor, com máquinas e caminhões que andam lado a lado sem a necessidade de intervenção humana. Experiências têm sido feitas no setor, mas ainda sempre com um operador a bordo.

“O trator autônomo foi apresentado em 2017, na Agrishow. É um caminho sem volta e, embora ainda não exista escala, traz um nível mais alto ao setor”, afirma Thiago Wrubleski, diretor de planejamento e serviços comerciais da CNH Industrial para a América do Sul.

Segundo o executivo, há também colheitadeiras que tomam suas próprias por meio de geoposicionamento via satélite.

Esses equipamentos de ponta chegam a custar R$ 3 milhões, enquanto um caminhão extrapesado ultrapassa os R$ 700 mil. As empresas evitam falar de valores e, grosso modo, explicam que há customizações de acordo com as necessidades dos clientes. Ou seja, tudo é negociável.

“O que fazemos é entender a operação, carga transportada, topografia, uma série de informações para configurar o caminhão, sempre pensando no custo operacional”, afirma Alex Nucci, diretor de vendas de soluções de transporte da Scania.

Para que todas as tecnologias funcionem a contento, é preciso conectividade. Uma das soluções é o pool de empresas Conecta Agro, que tem levado sinal de internet mais estável ao campo. O setor, contudo, aguarda o edital para o leilão do 5G.

“Dentro desse edital há o compromisso de levar a tecnologia 4G nas rodovias do interior e, para nós do agro, não precisamos do 5G”, explica Junqueira, da AGCO. “Com o 4G já conseguiremos aproveitar mais as tecnologias disponíveis nas máquinas”

Fonte: Folha de S. Paulo

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