Publicado em: 20/02/2014 às 17:00hs
No segmento de linha amarela, duas decisões tomadas nos últimos meses são exemplos bastante claras dessa situação. Uma delas é da americana John Deere. Sem produção nacional - o que permitiria que seus clientes tivessem acesso a empréstimos mais baratos da linha de crédito Finame, do BNDES -, a empresa decidiu financiar seu comprador.
"Fizemos uma taxa de financiamento especial, equivalente ao Finame, para sermos competitivos", disse recentemente ao Valor o líder do negócio de construção da John Deere no Brasil, Roberto Marques. Segundo ele, a "taxa especial" já fazia parte do projeto da empresa quando começou a vender máquinas para construção civil e infraestrutura no Brasil, há um ano.
A partir deste ano, a empresa passa a "finamizar" seus produtos, após ter inaugurado na semana passada, com investimentos totais de US$ 180 milhões, duas fábricas de máquinas em Indaiatuba (SP), sendo que uma delas foi feita em parceria com a Hitachi Construction Machinery. A empresa pretende lançar 15 produtos no país e inscrevê-los no programa do BNDES. Enquanto os produtos não entrarem na lista do banco de fomento, a empresa pretende manter as taxas especiais aos clientes.
A brasileira BMC também teve que pressionar suas margens. Além de acelerar a finamização de seus produtos para conseguir mercado, a empresa ofereceu suas máquinas a preços próximos aos de custos para vencer licitações do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Segundo o presidente da empresa, Felipe Cavalieri, foi preciso fazer uma proposta muito boa para, com isso, estimular sua produção. No pacote oferecido ao governo, entram também serviços de manutenção para os próximos anos. Para tentar compensar a redução de suas margens de lucro, a BMC cortou despesas em outras áreas, como em marketing, por exemplo.
Em janeiro deste ano, quase metade do faturamento da companhia, de R$ 80 milhões, veio de entregas de 131 máquinas para o MDA (R$ 35 milhões). O ministério tem um programa de distribuição para pequenos municípios do país, e essa demanda contribuiu para que a BMC conseguisse um ganho de receitas, para R$ 780 milhões em 2013, que foi um ano difícil para o setor.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostram uma contração de 5,7% no faturamento das companhias no ano passado, para R$ 79 bilhões. Ao longo deste ano, como já aconteceu em janeiro, a vitória nas licitações do MDA vai puxar novamente o faturamento da BMC.
A maior competição, segundo as companhias, é com fabricantes importados. Cálculos da Abimaq mostram que nada menos do que 66% das máquinas consumidas no país no ano passado foram importadas, principalmente dos Estados Unidos (25% do total) e da China (16%).
Em um levantamento com os associados, a Abimaq identificou que, no ano passado, os fabricantes não puderam repassar um aumento de preços equivalente à inflação para seus compradores. Segundo o diretor-secretário da Abimaq, Carlos Pastoriza, as companhias que atuam no setor conseguiram reajustar suas tabelas 18% abaixo do índice de preços do período.
A entidade diz ainda que um sinal claro de que as empresas estão perdendo margens é a comparação do faturamento do setor e da produção. Até outubro do ano passado, o valor faturado pelas empresas caiu 5%, enquanto a produção subiu 5,8%.
Fonte: Agência UDOP de Notícias
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