Biológicos e Bioinsumos

Tecnologias biológicas e manejo do solo: estratégias para enfrentar o déficit hídrico na agricultura brasileira

Aliando ciência e práticas sustentáveis, produtores rurais apostam em bioinsumos e manejo inteligente para preservar a produtividade diante das adversidades climáticas


Publicado em: 08/05/2025 às 15:00hs

Tecnologias biológicas e manejo do solo: estratégias para enfrentar o déficit hídrico na agricultura brasileira

De acordo com análises realizadas pelos agrônomos e coordenadores técnicos de mercado da Nitro, Carina Cardoso e Augusto Sanches, o déficit hídrico representa um dos principais obstáculos à produtividade agrícola no Brasil, afetando diretamente culturas estratégicas como soja, milho, feijão e café. A escassez de chuvas em fases críticas do ciclo das plantas — como germinação, florescimento e enchimento de grãos — compromete significativamente a formação das lavouras e pode reduzir expressivamente os rendimentos. Em diversas regiões do país, os produtores enfrentam a terceira safra consecutiva com perdas severas, reflexo não apenas da seca, mas também da combinação com estresses térmicos extremos.

Diante desse cenário, o uso de tecnologias biológicas vem se consolidando como uma ferramenta fundamental para garantir o potencial produtivo inerente à genética das sementes utilizadas. Com o agravamento das condições climáticas, torna-se essencial adotar estratégias que auxiliem a planta a manter sua fisiologia ativa durante períodos de estresse. Em situações de déficit hídrico, por exemplo, o vegetal tende a adotar um modo de sobrevivência: encurta seu ciclo, aborta vagens, altera sua morfologia e canaliza energia apenas para assegurar a reprodução. Esse comportamento, controlado por fatores hormonais e fisiológicos, limita a produtividade.

É nesse contexto que os bioinsumos ganham relevância. Eles atuam no equilíbrio fisiológico da planta, permitindo que mantenha sua função produtiva mesmo sob pressão ambiental. Um exemplo prático é o uso de combinações de microrganismos de diferentes cepas do gênero Bacillus — como Bacillus aryabhattai, Bacillus subtilis e Bacillus amyloliquefaciens. Essas bactérias formam biofilmes espessos e hidratados ao redor do sistema radicular, criando um microambiente com potencial osmótico que retém a umidade junto às raízes. Isso reduz a desidratação e melhora a absorção de água, fator decisivo para o funcionamento da planta em momentos críticos.

Além de proteger fisicamente e fisiologicamente as raízes, esses blends também estimulam o desenvolvimento reprodutivo das plantas. Os resultados incluem maior engalhamento, fixação de flores e melhor formação das chamadas “cachopinhas” — pequenos aglomerados de vagens, que podem conter de três a quatro grãos, dependendo da genética da cultivar. Ensaios de campo conduzidos em diferentes regiões brasileiras indicam que lavouras de soja tratadas com esse tipo de bioinsumo apresentaram aumento médio de oito a nove sacas por hectare em comparação com áreas não tratadas, independentemente de a aplicação ocorrer no sulco ou via tratamento de sementes.

Outra frente promissora envolve o uso isolado de Bacillus aryabhattai, bactéria extraída de solos da Caatinga, que demonstrou ser eficaz no retardamento dos efeitos do estresse hídrico e na promoção do crescimento radicular. Essa estratégia visa ampliar o volume e a profundidade das raízes, facilitando o acesso a água e nutrientes em camadas mais profundas do solo, o que constitui uma espécie de “escudo” natural contra a estiagem.

A aplicação foliar de aminoácidos e nutrientes como potássio, magnésio e boro na fase final do ciclo produtivo também se mostra benéfica, colaborando para a translocação eficiente dos fotoassimilados e garantindo o enchimento dos grãos, mesmo sob condições adversas. A Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul aponta que essas práticas, quando bem executadas, podem reduzir perdas em lavouras em até 30% em situações de seca intensa.

Por fim, o manejo inteligente do solo permanece como peça-chave para a sustentabilidade das lavouras. Práticas como o plantio direto, a rotação de culturas e o uso de cobertura vegetal não apenas ajudam na conservação da umidade, como também enriquecem o ambiente biológico, favorecendo o desenvolvimento radicular e a ação dos bioinsumos.

Combinadas às tecnologias já disponíveis, essas estratégias oferecem aos produtores brasileiros a possibilidade de reduzir riscos, proteger seus investimentos e manter a produtividade mesmo diante de um cenário climático cada vez mais desafiador.

Fonte: Portal do Agronegócio

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