Agrotóxicos e Defensivos

Operação de barter chega aos canaviais

O barter, que vincula a entrega de produto agrícola ao recebimento de insumos para as lavouras, já é uma operação comum na cadeia de grãos, mas ainda está distante da realidade dos produtores de cana terceirizados, que representam cerca de 30% do cultivo da matéria-prima no país e complementam a produção própria das usinas


Publicado em: 31/08/2021 às 16:40hs

Operação de barter chega aos canaviais

O produtor goiano Nycollas Cestari participou no mês passado de uma operação inédita no segmento canavieiro: com apoio da sucroalcooleira BP Bunge e da cooperativa Coopercitrus, travou os valores da compra de insumos agrícolas e da venda do açúcar que será extraído da cana que ele vai entregar apenas na próxima safra (2022/23), garantindo o financiamento de sua produção, via barter, pelos próximos meses.

O barter, que vincula a entrega de produto agrícola ao recebimento de insumos para as lavouras, já é uma operação comum na cadeia de grãos, mas ainda está distante da realidade dos produtores de cana terceirizados, que representam cerca de 30% do cultivo da matéria-prima no país e complementam a produção própria das usinas.

Por ser uma operação nova no ramo, os volumes foram pequenos. Cestari, dono da Avance Agropecuária, que tem uma fazenda em Itumbiara e outra em Cachoeira Dourada, ambas em Goiás, comprometeu-se a entregar o suficiente para que a BP Bunge produza 361 mil quilos de açúcar - o que deverá demandar cerca de 3 mil toneladas de cana. Em contrapartida, garantiu o recebimento, da Coopercitrus, de inseticidas e fungicidas para aplicação nos canaviais.

Segundo Cestari, os volumes foram baixos para testar a nova ferramenta, mas também porque ele acredita que os preços do açúcar e do etanol vão continuar a subir no próximo ano.

A entrega da cana para a produção do açúcar ocorrerá em setembro de 2022. O preço do açúcar já foi travado pela BP Bunge no mercado futuro, pelo equivalente a R$ 1.037,80 a tonelada, e o valor será pago à Coopercitrus pelo fornecimento dos insumos. "Se eu fosse comprar [os insumos] à vista, até sairia mais barato, mas diminuiria meu fluxo de caixa", diz Cestari, que é associado à cooperativa, a maior de São Paulo.

Ele afirma que o financiamento à produção de cana de fornecedores costuma ter entraves por causa da burocracia dos bancos e porque nem sempre as condições são consideradas adequadas. "Por mais que a usina dê uma carta de crédito garantindo a compra da cana, é difícil. Os juros são bem mais altos que os cobrados na soja", afirma.

Em experiência recente, o produtor acertou um empréstimo com juros de 8% para financiar a cana, enquanto as taxas cobradas para a soja giravam em torno de 6,7%, conta Cestari, que também produz grãos em suas fazendas.

Ele diz que é cedo para avaliar se a experiência será positiva ou negativa, mas vê no barter uma alternativa de segurança em meio às incertezas do mercado. "Com preços de insumos exorbitantes, explodindo junto com os preços das commodities, decidimos conhecer a ferramenta".

Com 3 mil hectares de cultivo de cana em sua propriedade, Cestari diz que a operação deverá acelerar sua decisão de investir para melhorar a produtividade. O rendimento agrícola de sua cana nesta safra 2021/22 está em 72 toneladas por hectare, 6% acima do ciclo passado, mas abaixo da média do Centro-Sul, que está em 75 toneladas por hectare na temporada atual.

"Estamos renovando os canaviais e isso tem resultado em produtividade maior, mesmo com as geadas", afirma o produtor. Cestari espera alcançar uma produtividade da ordem de 90 toneladas por hectare em 2023, investindo em canaviais mais novos e com variedades mais resistentes.

Fonte: AGÊNCIA UDOP

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