Soja

Soja se beneficia de pesquisa com genética da cana-de-açúcar para ser mais tolerante à seca

Pelo menos a metade dos 33 milhões de hectares de terra utilizados para o plantio de soja no Brasil sofre quedas expressivas de produtividade por problemas de escassez de chuvas


Publicado em: 15/12/2021 às 13:30hs

Soja se beneficia de pesquisa com genética da cana-de-açúcar para ser mais tolerante à seca

Pesquisas genéticas ligadas ao Programa de Bionergia (BIOEN) da FAPESP têm obtido resultados que vão além daqueles inicialmente previstos. Os estudos que buscam identificar genes que contribuam para aumentar a tolerância da cana-de-açúcar à seca também podem gerar benefícios a outros produtos agrícolas, entre eles a soja. A NovAg Agrícola S/A, uma empresa brasileira voltada para a pesquisa e desenvolvimento na área de biogenética agrícola, firmou parceria com o Laboratório de Genoma Funcional da Unicamp para o desenvolvimento de novas variedades de soja mais tolerantes à seca. E, entre elas, estão algumas que utilizarão genes que foram inicialmente desenvolvidos para a cana.

“Estamos agora na fase de definição do protocolo de transferência do gene para a soja”, diz Giovani Saccardo Clemente, engenheiro agrônomo e sócio-diretor da NovAg. Segundo ele, após definido e validado o protocolo da pesquisa, a NovAg Agrícola terá as primeiras mudas e sementes com os genes da cana.

Mitigar os efeitos da seca na planta é apenas uma das várias estratégias que a NovAg utiliza para aumentar a produtividade. Clemente explica que muitas vezes a soja, sob estresse hídrico, acaba gerando poucas vagens e logo seca, derrubando a produtividade. O objetivo é fazer com que a planta entre numa espécie de estado de ‘hibernação’ no caso de seca e só volte a crescer quando houver a disponibilidade hídrica necessária para a produção de uma quantidade expressiva de vagens. “Nosso foco está no hormônio etileno, responsável pela maturação da planta”, diz o diretor da NovAg.

Para Clemente, há um potencial imenso para uso da soja mais tolerante ao estresse hídrico no país. Segundo ele, pelo menos metade dos 33 milhões de hectares de terra utilizados para o plantio de soja no Brasil sofre quedas expressivas de produtividade por problemas de escassez de chuvas. Além disso, há mais cerca de 10 milhões de hectares de terras abandonadas, ou que se tornaram pastos de baixa qualidade, por problemas de disponibilidade hídrica. Essas áreas poderiam ser utilizadas para plantio de soja. “Se tivermos uma variedade com boa tolerância, podemos dobrar a produção de soja no país sem ter de derrubar um metro quadrado sequer de mata”, acredita.

Para o diretor da NovAg, o desenvolvimento tecnológico é fundamental para o Brasil se reposicionar diante do mundo em temas relativos à sustentabilidade. “Há muita terra improdutiva disponível. Não precisamos desmatar nada, mas sim levar mais ciência e tecnologia ao campo”, aposta.

A Pangeia Biotech, uma startup da área de biotecnologia e parceira de pesquisas da Unicamp, participa do projeto e é a responsável por fazer a introdução dos genes na soja e preparar mudas que produzirão as sementes da soja transgênica que, espera-se, terá maior potencial de suportar períodos de estresse e resistência à seca com menor perda de produtividade.