Publicado em: 03/10/2025 às 13:30hs
Ao focar na produção de soja de baixa emissão e práticas regenerativas, o Brasil tem potencial para liderar a transição global para uma agricultura de baixo carbono e conquistar mercados que exigem rastreamento e sustentabilidade. No entanto, desafios como metodologias internacionais que desconsideram a realidade tropical e a percepção equivocada da produção nacional, frequentemente associada ao desmatamento, ainda persistem.
A CJ Selecta, empresa atuante na cadeia da soja, tem mostrado que é possível mudar essa narrativa por meio de mensuração precisa das emissões, uso de dados primários e engajamento com produtores certificados.
Patricia Sugui, Head de ESG e Comunicação Corporativa da CJ Selecta, explica que calcular a pegada de carbono é essencial para tornar a sustentabilidade mensurável. Segundo ela, muitas estimativas internacionais não refletem a diversidade do Brasil, com seus seis biomas e diferentes sistemas de produção:
“Usar médias para estimar nossas emissões não é tecnicamente correto e distorce a percepção internacional.”
A empresa realizou um estudo detalhado da pegada de carbono do SPC não transgênico, coletando dados primários nas fazendas fornecedoras e utilizando análise via satélite do uso da terra. O resultado foi uma emissão de 0,617 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de produto, muito abaixo da média atribuída à soja brasileira (entre 4 e 6 toneladas).
Patricia destaca que bases de dados internacionais frequentemente superestimam as emissões brasileiras ao desconsiderar práticas como cobertura vegetal, rotação de culturas, uso racional de fertilizantes e biotecnologia.
Um ponto crítico do inventário é a mudança no uso da terra, que pode representar até 80% da pegada de carbono. Garantir o não desmatamento, aliado a energia renovável e logística regionalizada, permitiu à CJ Selecta reduzir significativamente esse impacto.
Apesar do custo elevado de monitoramento, reporte e verificação (MRV), a empresa enxerga nisso uma oportunidade de diferenciação no mercado. Patricia ressalta que, mesmo que o mercado ainda não remunere totalmente os produtores por carbono evitado, já valoriza produtos de baixa emissão.
“Estamos diante de uma janela estratégica para o Brasil se reposicionar no cenário internacional como referência em agricultura regenerativa e descarbonização da produção de alimentos.”
A executiva também defende a criação de um mercado de carbono estruturado e transparente no Brasil, com incentivos financeiros, prêmios verdes e adoção de soluções digitais para coleta de dados no campo.
“Precisamos fortalecer uma nova narrativa sobre a soja brasileira. Existe agricultura regenerativa sendo praticada no país, capaz de alimentar o mundo sem agredir o meio ambiente. Mas é fundamental que os modelos de mensuração reflitam nossa realidade e que os mercados reconheçam esse valor.”
A apresentação de Patricia Sugui integrou o painel sobre mudanças no mercado e exigências ambientais durante a RTRS International Conference 2025, realizada em São Paulo. O evento reuniu especialistas, empresas e produtores para debater o futuro sustentável da soja e da cadeia agrícola internacional.
Fonte: Portal do Agronegócio
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