Publicado em: 26/02/2014 às 10:20hs
Sem dar trégua, a colheita vai sendo adiada, o grão colhido apresenta problemas pela alta umidade, os que estão em formação são afetados pela falta de luminosidade. Fora as consequências agronômicas, o mau tempo dificulta a operacionalização no campo e o escoamento da oleaginosa. Assim como a falta, o excesso de chuvas traz invariavelmente prejuízos financeiros ao sojicultor que começa a contabilizar suas perdas.
O produtor de Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá), Leandro Gazola, está refazendo suas contas e projeções e estima que do total da área plantada, 20% serão perdidos. “Dos 7.050 hectares vou colher só 80%, tivemos muita chuva nos últimos dias que dificultaram a colheita”.
As regiões que estão sentindo mais a presença da chuva são a norte e a oeste com soja de ciclo tardio pronta para ser colhida. Segundo relatos dos produtores, a soja avariada está em 10% a 15%, sendo que o permitido pelas receptoras (em geral as tradings) é de até 8%, acima disso há descontos no valor pago ao produtor. Já a umidade da soja colhida está em 20% a 25%, com o permitido até 14%. A diferença entre essas porcentagens é descontada do produtor, ou seja, ao entregar uma tonelada ele não vai receber o equivalente, vai receber menos.
Já nas regiões sul e leste, por enquanto, há o registro de dificuldade em colher, mas caso a chuva continue após a semana que vem, haverá perdas.
Concentração - Apesar de a colheita ainda estar adiantada no Estado em relação à safra anterior, há grande quantidade de soja para ser retirada em um mesmo período. Esse volume acumulado é resultado de uma concentração de semeadura por conta de falta de umidade no plantio. “Mais de 45% da área foi semeada em um período de 15 dias, atingindo a maturação em meados de fevereiro a início de março”, explica O diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), Nery Ribas. O pico de safra no Estado será marcado pela influência da concentração do plantio no ano passado e a concentração da colheita, já que as chuvas incessantes represam os trabalhos. Quando o tempo favorecer, os produtores terão de aproveitar ao máximo a janela para colher a maior quantidade possível de soja para evitar que o grão apodreça e brote na própria vagem, situações já relatadas e registradas pelo coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso (CDSV/Mapa), Wanderlei Dias Guerra.
Os problemas em decorrência das chuvas provocam uma reação em cadeia no campo. Como explica a Aprosoja/MT, as precipitações não permitem a retirada da soja da lavoura porque as máquinas não conseguem entrar nos terrenos encharcados. Logo, o grão pronto para ser colhido fica sob chuva e vai perdendo qualidade, ganha umidade e pode apresentar outras avarias que depreciam seu valor. “O intervalo para colher a soja é em média sete dias após a aplicação do dessecante”, lembra o diretor técnico. Com as chuvas ininterruptas os intervalos entre as aplicações estão superior a uma semana. Já quando a chuva dá uma trégua, a colheita é intensificada para tentar assegurar a qualidade do grão, ocasionando problemas de logística com muitos caminhões nas estradas e filas nos armazéns, porque todo mundo corre para colher ao mesmo tempo.
Como reforça o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a semana passada foi marcada com a intensificação das chuvas e com isso o ritmo da colheita reduziu. Foram colhidos 10,9% da área no período, cerca de 900 mil hectares (ha), contra 1,2 milhão/ha da semana anterior. Ao todo, a colheita atinge 47,3% de uma área total semeada de 8,2 milhões/ha. “Mesmo com uma evolução menor, a colheita nesta safra se encontra à frente da anterior em 4,2 pontos percentuais e em números absolutos são 520 mil ha a mais colhidos”, apontam os analistas.
Em cadeia - A logística caótica do Estado e o déficit em capacidade de armazenamento, em algumas regiões, aumentam as perdas, como explica o delegado da Aprosoja em Água Boa (730 quilômetros a leste de Cuiabá), Cesar Giacomolli. “Os armazéns não estão dando conta de secar a soja devido ao grande volume recebido simultaneamente e a capacidade de armazenagem aqui no município é para 2,5 milhões de sacas e devemos colher 7 milhões”.
Clima - De acordo com a Somar Meteorologia, os maiores volumes de chuvas dos próximos 20 dias devem se concentrar entre os dias 2 e 6 de março, principalmente nas regiões médio norte, centro-sul e oeste de Mato Grosso.
Fonte: Diário de Cuiabá
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