Publicado em: 30/04/2014 às 18:20hs
Como já se esperava, graças à liquidação dos contratos de exportação da soja, em apenas 13 dias o Banco Central conseguiu somar US$ 1,084 bilhão às reservas, que totalizavam US$ 27,8 bilhões no dia 16, último dado disponível. Apesar do fôlego, as perspectivas são pessimistas, já que o governo continua em pé de guerra com os exportadores.
Sem acesso ao mercado internacional, o governo passou a usar as reservas do Banco Central para financiar as contas públicas, sobretudo os programas de subsídios. O processo de sangria das reservas começou em meados de 2011, quando o país contava com US$ 52 bilhões de reservas.
Ao cair para níveis abaixo dos US$ 30 bilhões, em meados de janeiro, o BC deixou de intervir no mercado de câmbio e provocou a súbita desvalorização do peso, que levou o dólar oficial de 6,8 pesos para a cotação em torno dos 8 pesos, que prevalece até hoje.
As divisas do agronegócio não devem ser, porém, suficientes para estancar os problemas, segundo analistas. A economista Soledad Perez Duhalde, da consultoria Abeceb, prevê que o nível de reservas tende a subir mais um pouco nos próximos dias, por conta da colheita de grãos, que vai até julho. Mas, em seguida, voltará a recuar, fechando o ano em torno dos US$ 28 bilhões. A economista aponta a falta de medidas que evitem a necessidade de o país continuar a recorrer à emissão de moeda.
O último relatório da consultoria FocusEconomics traz previsões ainda mais pessimistas. Os analistas da consultoria internacional estimam que a Argentina terminará o ano com reservas abaixo dos US$ 25 bilhões, o que equivale a pouco mais de quatro meses de importação.
Apesar de ser o principal responsável pelas divisas que entraram no país nos últimos dias, o agronegócio continua em posição de confronto com o governo. O setor esperava que esta semana a presidente Cristina Kirchner anunciasse uma flexibilização nas regras de exportação do trigo. Mas, em pronunciamento na segunda-feira à noite, Cristina não deu nenhum sinal de recuo no sistema de intervenção nas vendas externas do setor.
Hoje, toda exportação de grãos depende de liberação do governo, que só autoriza embarques mediante a certeza de oferta suficiente para abastecer o mercado interno. A presidente reiterou, em seu discurso, a preocupação em não deixar faltar trigo, para evitar o aumento nos preços da farinha no mercado local. E disse que os empresários do setor "têm de produzir mais para ganhar mais".
Para o presidente da Sociedade Rural Argentina, Luis Miguel Etchevehere, o governo é "o único culpado" pela queda na produção de trigo, que passou de 16 milhões de toneladas, em 2007, para 9 milhões em 2013. Num comunicado, a Sociedade Rural reclamou de o governo "insistir numa metodologia de intervenção nas exportações".
Na indústria, o nível de atividade caiu 6% em 2013, segundo dados do governo, e o ritmo de exportações tende a cair com a retração das vendas de veículos para o Brasil. Havia uma expectativa da União da Indústria Argentina (UIA) de conseguir dialogar sobre os problemas do setor diante da recessão na economia do país num encontro com o ministro da Economia, Axel Kicillof. Mas os dirigentes da indústria saíram desanimados depois de um almoço com o ministro que durou três horas.
Fonte: Canal do Produtor
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