Em novembro de 2024, Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, será o cenário de uma comemoração significativa: os 100 anos da chegada da soja ao Brasil. Este marco será celebrado na Fenasoja, a maior feira multissetorial do país, que ocorrerá entre os dias 29 de novembro e 8 de dezembro. A Fenasoja não apenas honrará a trajetória do grão desde sua introdução, mas também destacará seu impacto transformador na economia, na agronomia e no aspecto social do Brasil.

Embora existam registros de cultivos experimentais de soja na Bahia desde 1882, a introdução oficial da soja no Brasil ocorreu em novembro de 1914, quando o pastor Albert Lehenbauer trouxe sementes do grão dos Estados Unidos para o Rio Grande do Sul. Naquele período, a soja era uma cultura praticamente desconhecida no país. Lehenbauer doou as sementes para seus vizinhos com o objetivo de melhorar a renda familiar, com a condição de que estas famílias cultivassem e compartilhassem mais sementes.

Com o passar do tempo, a soja encontrou nas condições favoráveis do solo e do clima temperado do Rio Grande do Sul o ambiente ideal para se desenvolver. O sucesso inicial no Sul facilitou a expansão da cultura para outras regiões, e sua trajetória de crescimento passou a ser reconhecida em todo o Brasil.

“O centenário da soja no Brasil nos proporciona um momento ímpar de reflexão sobre a importância desse grão na economia e na sociedade brasileira. A soja não apenas transformou o cenário agrícola, mas também alçou o Brasil à liderança no mercado global de alimentos. Ela é mais do que um produto agrícola; representa inovação, resiliência e a capacidade do Brasil de se reinventar de forma sustentável. Ter Santa Rosa como o ‘Berço Nacional da Soja’ é motivo de grande orgulho”, ressalta Dário Jr. Germano, presidente da Fenasoja 2024.

A Evolução da Soja em 100 Anos

O estudo “Soja, Evolução”, realizado pelos pesquisadores Amélio Dalla’Gnol, Marcelo Hirochi Hirakuri, Joelsio José Lazzarotto e Arnold Barbosa de Oliveira, publicado em 2021 pela Embrapa, revela que a primeira referência de produção comercial de soja no Brasil ocorreu em 1941, com 640 hectares cultivados e uma produção de 450 toneladas. O Brasil foi reconhecido internacionalmente como produtor de soja pela primeira vez em 1949, com uma produção de 25 mil toneladas. Um marco importante foi alcançado na década de 1950, quando a produção atingiu 100 mil toneladas. A década de 1960 consolidou a soja como uma cultura economicamente relevante, com a produção saltando de 206 mil toneladas em 1960 para mais de 1 milhão de toneladas em 1969.

Em 1966, iniciou-se a Operação Tatu em Ibirubá, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de melhorar a produtividade agrícola por meio da recuperação da fertilidade do solo. O projeto, que teve resultados modestos em Ibirubá, encontrou maior sucesso em Santa Rosa, graças ao esforço conjunto de diversas instituições e agências do setor primário, incluindo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Ascar/Emater.

Nos anos 70, a produção de soja deu um impulso decisivo, passando de 1,5 milhão de toneladas em 1970 para mais de 15 milhões de toneladas em 1979, com um aumento significativo na área cultivada, de 1,3 milhões para 8,8 milhões de hectares, e na produtividade, que subiu de 1.140 kg/ha para 1.730 kg/ha.

Apesar de mais de 80% da produção brasileira de soja ainda estar concentrada nos três estados do Sul no final da década de 1970, a partir da década de 1980, o bioma Cerrado emergiu como um importante protagonista na produção de soja. A participação do Cerrado no total da produção nacional cresceu de menos de 2% em 1970 para mais de 60% em 2007.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) iniciou o acompanhamento da produção de soja na safra 1976/1977, que totalizou 12,14 milhões de toneladas. Um século após sua introdução, o Brasil se estabeleceu como o maior produtor e exportador mundial de soja, com Santa Rosa orgulhosamente reconhecida como o ponto de partida dessa revolução.

Soja: O Grão que Transformou o Brasil

Desde sua chegada a Santa Rosa, a soja desempenhou um papel crucial na transformação do Brasil em uma potência agrícola. Inicialmente cultivada no Sul, a soja expandiu-se para o Cerrado nas décadas de 1970 e 1980, revolucionando a agricultura e a economia de estados como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul. O desenvolvimento de novas tecnologias, como o plantio direto e a biotecnologia, foi fundamental para o aumento exponencial da produtividade, consolidando o Brasil como o maior exportador global de soja, responsável por cerca de 40% do comércio mundial do grão.

A pesquisa agronômica, liderada por instituições como a Embrapa, foi essencial para o desenvolvimento de variedades adaptadas ao clima tropical e para a criação de técnicas que preservam a sustentabilidade do solo. Essas inovações permitiram que regiões antes improdutivas se tornassem essenciais na produção de grãos.

Fenasoja 2024: Atrações e Homenagens

A Fenasoja 2024 contará com uma programação especial para comemorar o centenário da soja, oferecendo diversas atrações para o público agrícola e visitantes em geral. Entre os destaques estão:

• Memorial da Evolução Agrícola: Área especial dedicada à trajetória da agricultura no Brasil, evidenciando os avanços tecnológicos e os impactos econômicos atuais.
• Simpósios e Palestras: Painéis e debates com grandes personalidades do agronegócio brasileiro e mundial sobre inovação, sustentabilidade, biotecnologia e o papel da soja no desenvolvimento global.
• Exporural: Uma área três vezes maior que a edição anterior, com mais de 60 expositores divididos em 97 lotes, ampliando as oportunidades de negócios.
• Shows e Cultura: A programação cultural incluirá 6 shows nacionais e diversas apresentações artísticas, fortalecendo o vínculo entre a agricultura e a comunidade, beneficiando mais de mil artistas.

“Nossa feira é um dos maiores eventos sociais do mundo organizados por voluntários e, na edição de 2024, celebramos um marco histórico do agronegócio brasileiro: o centenário da chegada da soja. Este ciclo centenário da soja proporcionou ao Brasil e ao povo brasileiro um período de prosperidade e desenvolvimento econômico, social e humano sem precedentes na história da nação. Esta edição da feira é ainda mais especial, pois o Brasil se consolida como o maior produtor e exportador de soja, produzindo de forma sustentável alimentos e energia renovável para bilhões de pessoas em todo o mundo”, destaca o presidente da Fenasoja.