Soja

Capitalizado, produtor ainda segura a soja

Apesar da sinalização de que os preços da soja tendem a cair no segundo semestre de 2014, diante da previsão de colheita recorde nos Estados Unidos, os agricultores brasileiros não demonstram interesse em acelerar as vendas da commodity


Publicado em: 01/07/2014 às 12:00hs

Capitalizado, produtor ainda segura a soja

De maneira geral, as negociações do atual ciclo 2013/14 ainda estão atrasadas em relação à temporada passada e a comercialização antecipada da nova safra custa a deslanchar.

A lentidão das vendas domésticas de soja tem sido uma marca de 2013/14, principalmente porque os produtores do país estão capitalizados após sucessivas safras de boa rentabilidade - o que lhes dá fôlego financeiro para estocar a oleaginosa, na expectativa de novas valorizações. Alguns agricultores mantêm os olhos no enxuto estoque americano para justificar a aposta arriscada de "sentar" sobre a soja, mas esse argumento também tem perdido sustentação.

Ontem, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicou que havia 11,02 milhões de toneladas nos estoques do país em 1º de junho, 7% menos que no mesmo momento de 2013. A expectativa do órgão é que o país encerre a safra 2013/14, ao fim de agosto, com apenas 3,4 milhões de toneladas nos armazéns, 11% abaixo do ciclo anterior. Mas o fato é que a área plantada com a oleaginosa no ciclo 2014/15 deve ser recorde nos EUA, o que enche de nuvens escuras o horizonte de preços - em junho, as cotações da soja na bolsa de Chicago já recuaram quase 5% ante maio.

"Já não sei se é capitalização ou teimosia o motivo [do atraso nas vendas]. O produtor brasileiro tinha que estar vendendo mais a esta altura", diz João Claudio Pereira da Silva, diretor da Grãomar Corretora de Mercadorias, de Maringá (PR). De acordo com Silva, há compradores em sua região oferecendo R$ 65 por saca no mercado disponível, mas os agricultores querem algo em torno de R$ 68. O corretor ainda não fechou nenhum contrato da safra 2014/15, que começará a ser plantada em setembro. "Ocorre que a safrinha [de milho] já começou a ser colhida e não vai ter armazém para toda essa soja e esse milho que o pessoal está querendo guardar", afirma.

A consultoria Céleres estima que 69% da safra 2013/14 de soja já tenham sido comercializadas, aquém dos 77% do mesmo período do ano passado. Nos últimos dois meses, as vendas evoluíram somente 9 pontos percentuais.

No Paraná, embora as vendas estejam percentualmente à frente do ano passado (73%, ante 71%), o volume negociado no acumulado desta temporada é menor. "Houve quebra de produção, em função de problemas climáticos", explica Aline Ferro, analista da Céleres. O Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) prevê uma colheita de 14,54 milhões de toneladas de soja no Estado, 8% abaixo da temporada 2012/13.

Em Mato Grosso, maior produtor nacional da oleaginosa, 77% da safra estão vendidas, frente aos 90% de um ano atrás, nas contas da Céleres. De acordo com Leonir Christ, da Seeds Corretora, situada no município mato-grossense de Primavera do Leste, as vendas antecipadas do ciclo 2014/15 também estão paradas. "Esporadicamente, sai alguma troca por insumos", diz.

Christ conta que um dos motivos para a resistência do agricultor é a paridade de troca. Segundo ele, vender hoje a soja que ainda será plantada é uma operação inviabilizada pelo custo, porque a commodity está com preços mais baixos, e os insumos, com preços mais altos. "Uma boa relação de troca aqui na região é de cerca de 20 sacas de soja por tonelada de adubo, mas atualmente está 15% a 20% acima disso", explica ele.

Ainda conforme o corretor, no mesmo período do ano passado, mais de 15% da safra nova já estavam comprometidas em Primavera do Leste. Christ diz que, com a demora em se decidir pela venda, muitos produtores terão seu poder de barganha diminuído. "Quem chega no limite do plantio sem os insumos, terá de comprar a qualquer preço", avalia.

Ele acredita que os agricultores optem por esperar até que a indústria entre em um período mais crítico, entre outubro e novembro, mas o risco de preços deprimidos naquele momento será ampliado pela concorrência com a soja americana, que começa a entrar no mercado em setembro. "E bastam dois anos de cotações ruins para que todo o caixa feito nos últimos anos vá por água abaixo", conclui.

Fonte: Canal do Produtor

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