Soja

Brasil precisa ampliar oferta de derivados de soja, diz pesquisadora da Embrapa

Conforme Mercedes Panizzi, país não oferece carne à base do grão com a praticidade necessária para atender pessoas em busca de proteína vegetal


Publicado em: 12/05/2022 às 17:40hs

Brasil precisa ampliar oferta de derivados de soja, diz pesquisadora da Embrapa

Quais produtos utilizam a soja como matéria-prima e qual o potencial de expansão do grão em tintas, lubrificantes, plásticos e outros bens de consumo? Este é o destaque trazido pelo 35º episódio do programa Aliança da Soja.

A cooperativa Cocamar, no Paraná, por exemplo, tem capacidade de processar 3.200 toneladas de soja por dia e utiliza o grão para fabricar diversos alimentos. Tamanha oferta encontra demanda nas prateleiras de supermercados com consumidores cada vez mais à procura de proteína de origem vegetal.

O gerente industrial da cooperativa, Valdemar Cremoneis, conta que a capacidade de envasamento de óleo de soja por lá é de 500 mil garrafas por dia. "Trabalhamos 25 dias por mês na área de envaze, totalizando em torno de 14 milhões de frascos por mês para o mercado de prateleira, ou seja, nos supermercados, especialmente os do Paraná, interior de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul", conta.

A Cocamar investiu, recentemente, na construção de uma usina de biodiesel. Com isso, há perspectivas de alta no volume de esmagamento de soja, passando de 930 mil toneladas em 2021 para 1 milhão de toneladas neste ano. Deste total, 70 mil toneladas serão destinadas para a produção do combustível. "Estamos iniciando a planta este ano, mas ainda não está liberado para produção porque precisa do aval da ANP [Agência Nacional do Petróleo]", afirma Cremoneis.

Usos diversos

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o Brasil exportou 86,1 milhões de toneladas de soja em 2021, além de 17,2 mi/t de farelo e 1,6 mi/t de óleo. Para a engenheira agrônoma, doutora em Ciências de Alimentos e pesquisadora da Embrapa Trigo, Mercedes Panizzi, o país cresceu muito em níveis de processamento de soja.

"Quase todas as grandes companhias de laticínios têm uma linha de extrato proteico de soja, além de pães. Há uma grande quantidade de produtos à base de soja no mercado, algo que não existia há cerca de 20 anos. Mas ainda tem possibilidade de crescimento porque são inúmeros produtos que podemos fazer à base de soja", considera.

Segundo ela, nos Estados Unidos, há uma grande variedade de produtos que utilizam a oleaginosa como base de ingredientes. "Acredito que os norte-americanos investiram mais em tecnologia porque, por exemplo, a proteína texturizada de soja, a chamada carne vegetal, nós no Brasil não temos tanta oferta como eles têm. Nós compramos a proteína texturizada ainda seca e temos de tratar em casa para colocar como uma carne no alimento, enquanto que nos Estados Unidos é bem comum encontrar essa proteína hidratada, congelada, como uma carne moída já, sendo muito fácil de usar e boa de sabor, o que facilita muito o uso. Então, em se falando de produto industrializado, acho que temos de ter alimentos à base de soja de fácil utilização", constata.

Para Mercedes, a questão cultural entre os dois países deixou de ser um obstáculo à oferta de alimento feito com soja e disposto de forma mais prática em locais de venda. "O segmento de vegetarianos e veganos aumentou muito no mundo, então essas pessoas precisam de alimentos disponíveis. Além desse uso industrializado da soja, temos a oportunidade de usá-la in natura, a soja verde, que é bem tradicional nos países orientais [...]".

Melhoramento genético

A pesquisadora lembra que através da pesquisa, é possível alterar as variedades de soja mais indicadas ao consumo alimentar. "Por meio do melhoramento genético, podemos modificar muitas características de qualidade da soja, como o sabor através da eliminação de enzimas lipoxigenase, que desenvolve aquele sabor de soja que as pessoas não gostam dependendo do tipo de processamento", conta.

A melhora das características do óleo da soja é outra área que já existe melhoramento genético, conforme a especialista. A substituição de quase todos os derivados do petróleo pelo insumo proveniente da oleaginosa é uma possibilidade, conforme Mercedes. "O biodiesel, por exemplo, é uma utilização já estabelecida. Temos também outros produtos, como tinta de jornal que, ainda que não seja mais tão utilizada como antigamente por conta da menor circulação desse meio, é muito interessante", afirma.

Segundo ela, nos Estados Unidos, por exemplo, existe a soy ink, utilizada para impressão. "Ela é uma tinta biodegradável, feita a partir de óleo de soja. Quando se vai imprimir colorido, as cores ficam mais vivas porque o óleo de soja é mais limpo do que o químico [convencionalmente usado nessa atividade]. Ele também não exala compostos voláteis que fazem mal para a saúde e também não provoca alergia em quem vai ler", enumera. Mercedes também cita que os adesivos de compósitos, como compensados de madeira que existem nos móveis, podem se utilizar do óleo de soja em substituição às colas tradicionais.

Fonte: AGÊNCIA UDOP

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