Publicado em: 07/05/2019 às 10:30hs
Depois do turbilhão no mercado de ontem, as cotações da soja na Bolsa de Chicago trabalham com estabilidade nesta manhã de terça-feira (7). As cotações, perto de 7h40 (horário de Brasília), perdiam entre 1 e 1,50 ponto. Os traders buscam estabilidade depois da despencada do pregão anterior.
O mercado, apesar das movimentações bem mais contidas hoje, segue focado na guerra comercial entre China e Estados Unidos e quais serão as próximas movimentações de ambos os países depois das últimas declarações do presidente americano Donald Trump sobre aumentar tarifas de 10% para 25% sobre produtos chineses.
"Após o tweet de Trump no domingo, o mercado espera retaliação da China. Há pressão da comunidade internacional para chegar a um acordo que possa impedir maiores problemas não somente ao produtor americano, mas também para a economia mundial como um todo", explica Steve Cachia, diretor da Cerealpar, direto de Malta.
O clima nos EUA também continua a ser acompanhado pelos traders, no entanto, com menos peso depois dessa reviravolta nas negociações entre chineses e americanos. O plantio tanto da soja quanto do milho mostra atraso em relação ao ano passado e a média das últimas cinco safras em função das adversidades, como mostrou o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em seu reporte semanal nesta segunda (6).
Até o último domingo (5), os EUA tinham 6% da área de soja já semeada, contra 3% da semana anterior e projeções que variavam de 6 a 13%. A média dos últimos cinco anos é, no entanto, de 14%, mesmo número do ano passado nesta época.
"Situação altista porque é indicação de que o clima não está regular no Centro-Oeste americano, mas baixista porque o clima pode provocar transferência de área de milho para soja", completa Cachia.
Veja como fechou o mercado nesta segunda-feira:
Soja: Prêmios sobem no Brasil em dia turbulento em Chicago; negócios travados no mercado interno
A mais recente participação de Donald Trump no Twitter sobre as relações da China com os Estados Unidos bagunçou ainda mais o mercado de commodities nesta segunda-feira (6), e os preços da soja vão terminando o dia com perdas de mais de 1% na Bolsa de Chicago, ou mais de 11 pontos nos principais contratos.
O Bloomberg Grains Subindex Total Return, um índice da agência internacional para os preços dos grãos no mercado global, caiu para sua mínima desde 1997, ou seja, seu mais baixo patamar em 42 anos.
"Um único tweet de Donald Trump acaba com qualquer otimismo de um acordo, principalmente nesta semana. Esperamos que a volatilidade continue bastante elevadada até que tenhamos alguma clareza sobre esta situação", diz Jacob Christy, trader da consultoria internacional The Andersons Inc, à Bloomberg.
Ao longo do dia, as baixas foram ainda mais intensas na CBOT, com o contrato maio/19 batento na mínima de US$ 8,04 e o julho, o mais negociado neste momento, batendo em US$ 8,16 por bushel.
Na contramão, os prêmios subiram no Brasil na tentativa de amenizar parte do recuo no mercado internacional. Somente nesta segunda-feira, as principais posições de entrega registraram ganhos de 4,17% a 14,29% em relação à última sexta-feira (3), e variam de 25 a 50 cents de dólar sobre os valores praticados ao longo do dia.
Nos melhores momentos do dia para os pêmios, os valores chegaram a marcar algo até perto de 70 a 90 cents contra referências anteriores de 55 e 60 cents, com os vencimentos julho e agosto. Para o spot, conversas do lado vendedor de algo entre 55 e 60 pontos e do comprador, entre 40 e 42.
"Isso aconteceu mesmo apesar de muitas tradings terem ficado ausentes do mercado e esperando pelo que virá pela frente. Se não houver nenhuma nova reviravolta e o governo dos EUA efetivamente elevar a tarifa de importação de 10% para 25% sobre o lote de produtos chineses, aí teremos certeza que os prêmios irão se firmar ainda mais", explica o economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais.
No entanto, o especialista afirma que é importante aguardade a efetivação desta medida. A alta, de acordo com os tweets de Trump e que ainda não foi oficialmente informada pelo governo norte-americano, aconteceria nesta sexta-feira.
"Mas, de maneira geral, podemos falar em alta, ainda muito nominal, de algo entre 15 e 25 pontos nos prêmios em relação à semana passada", completa Motter. "Estes novos indicativos de prêmios acabaram compensando - até com vantagens - as perdas verificadas na CBOT. Mas, tudo isto é ainda muito no calor das palavras do Trump. Precisamos ver o que vai efetivamente acontecer", conclui.
Subida dos prêmios ainda não compensou a queda em Chicago
No Brasil, o ritmo de novos negócios ficou ainda mais travado, com os compradores e vendedores redefinindo suas estratégias diante dessa reviravolta. E apesar dessa melhora nos prêmios, ela ainda não acontece na mesma medida em que caem os futuros na Bolsa de Chicago.
"Para confirmar uma explosão dos nossos basis (prêmios) tem que haver um enxugamento das ofertas, deixar o mercado rodar, consumindo soja, o Brasil exportando soja e os chineses comprando soja aqui esses prêmios podem se fortalecer bastante, mas não tanto quanto aconteceu em 2018, por conta de uma produção na Argentina de praticamente 20 milhões de toneladas a mais este ano, e também a peste suína fazendo a China consumir pelo menos 6 milhões de toneladas a menos. Então, o mercado está aí fazendo seu papel", explica o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities.
Ainda segundo o executivo, uma soja com prêmio custo e frete China com 130 cents acima de Chicago registrou uma alta desse valor para algo próximo a 155.
Os próximos movimentos dos prêmios agora irão, como explicaram analistas e consultores de mercado, depender dos próximos movimentos da China e dos Estados Unidos. Fato é que se a China voltar-se com força ao mercado brasileiro, esses valores serão, inevitavelmente maiores.
Araújo explica também que os chineses têm ainda mais de 7,5 milhões de toneladas de soja compradas no mercado norte-americano, que poderiam ser canceladas ou revendidas por lá. "Fazendo essa compra vir para a América do Sul, poderia ficar no Brasil e temos também a oferta da Argentina, que hoje corre por fora, e que poderia limitar essa escalada dos prêmios aqui no Brasil", diz.
Com a nação asiática trazendo essas compras para o mercado brasileiro, as exportações de soja do Brasil, de acordo com a análise da Agrinvest Commodities, passariam de algo entre 65 a 68 milhões de toneladas para um volume entre 72 e 75 milhões de toneladas, com compras de 7 a 10 milhões.
Isso confirmado provocaria uma redução nos estoques nacionais de estimados 8 milhões para algo perto de apenas 1 milhão de toneladas. "Se a China voltar pesadamente a comprar no Brasil, acima de 7 milhões de toneladas, os estoques passam de 8 mi para 1 milhão de toneladas. Se comprar acima de 7 milhões, podemos ter um racionamento e esse racionamento vai se dar via alta dos prêmios, ou seja, um mercado descolado de Chicago", diz.
Dessa forma, reforça-se a orientação de acompanhar quais serão as próximas notícias vindas dos dois lados - China e EUA - e por enquanto, tudo segue no campo das especulações, esperando definições e confirmações.
Peste Suína reduz compras chinesas
Afinal, na outra ponta, há ainda os fatores negativos, como a redução das compras chinesas em função da epidemia de peste suína que acomete o país neste momento e reduz severamente seu plantel. Além disso, como lembra o analista, ainda é difícil afirmar que toda essa demanda chinesa se voltará para o Brasil.
Os importadores também ainda não têm demonstrado uma corrida intensa para garantir suas compras diante de uma oferta mais 'confortável' de produt neste momento. "Ainda não bateu um desespero e eu vejo que o poder do mercado ainda está do lado do comprador neste momento", afirma o representante da Agrinvest.
Diante de todos essas possibilidades de cenários, a orientação é de que o produtor, neste momento, evite novas vendas e observe as próximas definições. Momento é de buscar recomendações e definir, cada vez mais, estratégias de comercialização eficientes, que protejam suas margens de renda.
"Nesse momento, a melhor estratégia seria o produtor esperar um pouco mais a definição desse mercado, já que temos uma tendência de valorização dos prêmios no curto prazo em função dessa mudança do quadro de oferta e demanda, com essa possibilidade da migração da demanda chinesa voltando a comprar mais ativamente no Brasil e ele fazer suas contas. E lembrando, ficar fora do mercado também é uma estratégia para o comprador e para o vendedor", conclui Araújo.
Para as cotações na Bolsa de Chicago, as perspectiivas continuam indicando pressão, podendo fazer inclusive o bushel bater nos US$ 7,80 caso as baixas intensas se mantenham. A falta de demanda pela soja americana segue, o programa de exportações norte-americano tem o menor ritmo em sete ano e assim, os estoques finais da safra 2018/19 dos EUA poderiam, inclusive, ficar próximos de 30 milhões de toneladas.
Fonte: Notícias Agrícolas
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