Publicado em: 04/11/2009 às 17:01hs
Diversos levantamentos apontam que a metade sul do RS é, praticamente, a única região com área disponível para expansão desta cultura no Estado. Nas terras baixas, a incorporação da soja ao sistema de produção de arroz pode melhorar a fertilidade do solo, reduzir plantas daninhas e trazer, onde antes amplas áreas permaneciam em pousio, a possibilidade de uso agrícola e obtenção de recursos financeiros ao produtor. Dentre os componentes de um cenário favorável ao cultivo de soja podem-se citar, ainda, a crescente demanda mundial por alimentos e por energia, a vantagem logística regional quanto à distância ao porto de Rio Grande - condição que diminui gastos com transporte de fertilizantes e escoamento da produção - e a redução do custo de diversos insumos para esta safra 2009/10 quando comparados aos custos do ano anterior.
O ano de 2009 está se caracterizando pela abundância de chuvas em praticamente todas as regiões do RS. O fenômeno El-niño mostra sua força ao trazer precipitações, vendavais e tempestades com frequência e intensidade acima dos níveis considerados normais, o que tem causado perdas severas nos cultivos de inverno, em fruteiras e nas hortaliças, além de atrasar os preparos e a semeadura dos cultivos de verão. Ademais, os institutos que acompanham o clima mundial indicam que o fenômeno continuará atuando, pelo menos até o final deste ano.
A cultura da soja, diferente do arroz, não tolera o encharcamento prolongado do solo, e esta característica implica na necessidade de se realizar técnicas específicas de manejo quando for cultivada em terras baixas, na rotação com o arroz irrigado. Nesta safra de El-niño, alguns aspectos tornam-se ainda mais importantes e merecem atenção especial por parte do produtor. Destacam-se neste sentido, a drenagem da área, o aumento do risco de doenças na fase inicial da cultura e a maior pressão de plantas daninhas. As operações para drenagem e escoamento de água das chuvas são bem conhecidas e envolvem o uso de valetadeiras, plainas e outras máquinas que fazem limpeza de canais e drenos externos e internos da lavoura. A orientação mais crítica para este ano é que, imediatamente após a semeadura, o produtor faça os drenos e valetas internas da área, para retirar o excesso de água previsto em função do El-niño. Como o volume de chuvas estimado é alto, é prudente fazer as valetas e os drenos com planejamento para que passem com exatidão pelo centro das depressões da lavoura, além, de, preferencialmente, serem em maior número e terem profundidade maior do que nos anos secos.
O excesso de água, além de diminuir a viabilidade das sementes e prejudicar plantas novas e adultas de soja, pode ocasionar o aparecimento de doenças com maior intensidade que nos anos mais secos, principalmente na fase inicial da cultura. A indicação, nesse sentido, é que se adotem medidas preventivas para manter a população da soja, como a utilização de sementes tratadas com fungicidas específicos para esta finalidade (existem diversas marcas comerciais), e semear ao menos dezessete sementes por metro linear, no espaçamento de 45cm entre as linhas. A inoculação com rizobium, que deve ser adicionado às sementes após o tratamento com fungicidas, é importante, de baixo custo e necessária para se obter boa produtividade em áreas de terras baixas, principalmente quando a cultura for implantada sob plantio convencional ou cultivo mínimo. Por fim, os anos chuvosos são caracterizados pela elevada pressão de plantas daninhas, especialmente de gramíneas. O cultivo de soja RR facilita o controle destas invasoras, contudo, deve-se evitar o erro frequente de semear a soja e ver a mesma emergir junto das infestantes. As perdas associadas à competição não são percebidas visualmente, mas comprometem a lucratividade da lavoura. Orienta-se aos produtores que a emergência da soja ocorra sem a presença de plantas daninhas na lavoura, com a dessecação logo antes ou imediatamente depois da semeadura, ou, ainda, com gradagens nos casos de plantio convencional. Estas medidas facilitam o controle das invasoras em pós-emergência, reduzindo a probabilidade de ocorrer resistência aos herbicidas e evitando perdas de produção.
Diversas práticas culturais devem ser feitas com exatidão para que a soja apresente produtividade e lucratividade satisfatórias quando implantadas em rotação com o arroz irrigado. Além das já citadas, a análise de solo - para adição do tipo certo de fertilizante - e a aplicação de fungicidas e inseticidas somente após a população das pragas atingir o nível de dano econômico, são importantes para que o potencial produtivo da lavoura seja alcançado e mantido até a colheita, e que não se efetuem gastos desnecessários.
Nesta safra de verão 2009/2010, devido à forte influência do El-niño, crescem em importância as práticas de drenagem, do estabelecimento de população de soja em nível adequado, e do controle precoce de plantas daninhas, como mencionado. Nas terras baixas da região de Pelotas, as melhores produções de soja são obtidas com semeaduras entre 21 de outubro e 10 de dezembro, existindo diversas cultivares indicadas. Lembra-se, contudo, que os cultivares muito precoces geralmente são os menos tolerantes ao encharcamento, e que os cultivares tardios poderão finalizar o ciclo em fins de maio ou mesmo em junho, época caracterizada pela abundância de chuvas. Informações mais detalhadas sobre a cultura podem ser encontradas nos livros de indicações técnicas para o RS e SC (que, na internet, pode ser obtido nos endereços http://rps.iss.im/files/MioloSoja.pdf e em www.cnpso.embrapa.br) e, para seu cultivo em terras baixas, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado (53 3275 8400).
Giovani Theisen, Francisco Vernetti Jr., Júlio J. Centeno da Silva, Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado
Fonte: Embrapa Clima Temperado
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