Publicado em: 27/05/2014 às 13:20hs
Trata-se da Bactrocera carambolae, a única espécie do gênero com ocorrência relatada no continente americano e que preocupa tanto as autoridades sanitárias quanto os produtores de todo o mundo. Sua biologia é bastante semelhante à de outras espécies da família Tephritidae, com ovos sendo depositados em frutos, larvas se desenvolvendo no interior dos mesmos e saindo par ao solo no momento da empupação. Os adultos são de vida livre e, após a cópula, as fêmeas reiniciam o ciclo.
Mas, como uma espécie nativa do Sudeste da Ásia chegou ao Brasil? Certamente, ela não veio por meios ativos pois sua capacidade de voo é limitada a poucos metros e dois oceanos separam o Amapá de seu local de origem. A hipótese mais provávelé que ela tenha vindo através de frutos infestados trazidos da região das Guianas. E como ela foi parar nas Guianas? Através da introdução de frutos infestados trazidos por imigrantes para o norte da América do Sul. Talvez você não saiba, mas as três Guianas e Trindade e Tobago têm uma grande proporção de sua população de origem indiana que, ao se mudarem para o lado de cá do mundo, trouxeram uma série de vegetais usados na sua alimentação. Em junto com esses vegetais, a Bactrocera carambolae.
Cerca de 150 anos se passaram até que ela saísse das Guianas e fosse detectada no Brasil, provavelmente pela existência de uma grande barreira natural à sua dispersão que é a Floresta Amazônica (trata-se de uma espécie que ocorre normalmente associada à presença de cidades e povoados). A pergunta que surge, então, é: existem outras pragas nos países do norte da América do Sul que podem vir a entrar também através do Amapá? A questão reveste-se de importância ainda maior quando se considera a eminente abertura da ponteBinacional, que vai ligar o Oiapoque à Saint George na Guiana Francesa.Afinal, é sabido que, na falta de informação, a população transporta vegetais e suas partes quando viaja de um canto a outro do mundo. E, quanto maior trânsito, maior a probabilidade de entrada de material ilegalmente no país.
Durante o curso realizado de 19 a 23 de maio em Macapá, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer (na teoria) quais as espécies de pragas quarentenárias para o Brasil que ocorrem na Guiana Francesa, Suriname, Guiana e Trindade e Tobago. São pelo menos 23 espécies, entre insetos, fungos, plantas infestantes ou parasitas, vírus e nematoides. Após estudarem a biologia ecaracterísticas morfológicas dessas espécies, os alunos elaboraram um estudo sobre as formas mais prováveis de dispersão a longas distâncias que elas apresentam. O transporte em material vegetal (mudas, frutos) seguido pelo transporte em solo ou aderido a rodas de veículos/ máquinasagrícolas são os meios mais prováveis. A dispersão ativa é altamente improvável.
Os resultados apontam para a necessidade dese intensificar a vigilância tanto na região da fronteira com a Guiana Francesa quanto internamente, como forma de identificar um possível evento de invasão a tempo de tomar medidas de contenção/ erradicação. Igualmente importante é a realização de campanhas de Educação Sanitária,para que a população compreenda o impacto que a entrada de uma nova praga pode ter para o estado do Amapá e para o Brasil. É difícil precisar quando elas vão entrar e até mesmo se vão entrar, mas isso é indesejável sobretudo num momento em que a agricultura está se intensificando no estado do Amapá.
Confira, abaixo, a lista de pragas quarentenárias para o Brasil com ocorrência na Guianas e Trindade e Tobago.
Anastrepha suspensa
Ceroplastes rubens
Cleome viscosa
Colletotrichum higginsianum
Corchorus aestuans
Cronartium quercuum
Cuscuta campestris
Diaphania indica
Emex australis
Haptoncus luteolus
Leptocoris rufomarginata
Lissorhoptrus oryzophilus
Lophocateres pusillus
Myndus crudus
Pantoea stewartii
Planococcus lilacinus
Radopholus citrophilus
Scirtothrips dorsalis
Spiroplasma citri
Sternochetus mangiferae
Striga gesnerioides
Tomato bushy stunt virus (TBSV)
Toxotrypana curvicauda
Fonte: Agropec Consultoria
◄ Leia outras notícias