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Trabalho dos nikkeis transformou a agricultura

Fruta ou hortaliça vistosa, com dimensões ampliadas, exposta na feira ou supermercado desperta logo a suspeita: "Deve ser coisa de japonês"


Publicado em: 15/08/2014 às 17:40hs

Trabalho dos nikkeis transformou a agricultura

A suposição tem fundamento, tamanha é a contribuição dos chamados nikkeis (imigrantes japoneses e seus descendentes) para o desenvolvimento da agricultura brasileira. A influência dessa comunidade que se formou no Brasil, a partir da imigração, a partir de 1908, foi marcante em vários episódios, desde quando foram conduzidos às lavouras de café paulistas. O talento e o cuidado no cultivo de hortaliças e frutas fizeram a diferença e contribuíram para melhorar e diversificar os hábitos alimentares do brasileiro.

O conhecimento tecnológico e a cultura associativa foram determinantes para o sucesso das atividades no campo.

Mas, para muitos especialistas, a principal contribuição japonesa para que o Brasil se tornasse o segundo maior produtor mundial de grãos foi por meio do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer) nos anos 70. Sob a orientação do então ministro da agricultura Alysson Paulinelli, o Cerrado, até então tido como impróprio, começou a ser seriamente considerado como alternativa à expansão da produção, apesar de o solo no Centro-Oeste brasileiro ser comprovadamente pobre em nutrientes, ácido, com elevado teor de alumínio (elemento tóxico para as plantas) e da baixa capacidade de retenção de umidade.

O pesquisador José Roberto Peres, chefe geral da Embrapa Cerrado, lembra que no início da década de 1970 houve uma séria crise global de abastecimento de alimentos provocada por condições climáticas adversas. Foi quando o Japão, com poucos recursos naturais, se viu em risco quanto à sua segurança alimentar. Essa teria sido uma das principais razões para o governo japonês voltar suas atenções para o Brasil. "O plano de cooperação nipo-brasileiro estava baseado em três pilares: contribuição financeira, tecnológica e organização produtiva", diz Peres. Os investimentos no projeto entre 1975 e 2001, quando ocorreu o encerramento formal do Prodecer, somaram US$ 684 milhões em valores da época para a exploração agrícola de 345 mil hectares.

A participação brasileira nessa empreitada se deu na ocasião por meio da Embrapa, então recém-criada. "Os trabalhos da Embrapa no Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados começaram a mostrar o potencial desse imenso território para o setor rural, mas foi o Prodecer que levou à conquista da gigantesca área de 110 milhões de hectares, superior à de muitos países europeus somadas", segundo artigo publicado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues na revista Agroanalysis, da Fundação Getúlio Vargas.

Mas a ocupação do Cerrado não se deu por meio do assentamento de nikkeys, cuja experiência agropecuária bem-sucedida no Brasil ocorreu em pequenas e médias propriedades. A opção foi por atrair colonos dos Estados do Sul que já dominavam tecnologia para a exploração de lavouras de culturas anuais em grande escala. Foi quando se iniciaram os primeiros experimentos para o cultivo da soja, para mais tarde ampliar o conhecimento para a produção de milho e algodão, principalmente.

Para Peres, o que mais influenciou o governo brasileiro para participar desse esforço para conquista do Cerrado foi a decisão política de levar desenvolvimento para a região Centro-Oeste do país.

Mas a participação japonesa na conquista do Cerrado não deve servir para ofuscar a contribuição dos nikkeis no desenvolvimento agrícola em outras regiões do país. Como a que ocorreu no final da década de 20, com a chegada de cerca de 2.100 imigrantes japoneses à Amazônia. A primeira leva de colonizadores chegou a Acará, hoje Tomé-Açu (PA), determinada a plantar cacau na região, no que não foi bem-sucedida. Mas, apesar das dificuldades, especialmente por causa da malária, que contaminou - e matou - parte do grupo, foi grande o sucesso com plantações de pimenta do reino durante a Segunda Guerra Mundial, quando cessaram as importações de alimentos.

O pesquisador aposentado Alfredo Tsunechiro atribui o talento dos imigrantes japoneses na atividade à sua origem, a maioria agricultores em seu país de origem. "Apesar das diferenças culturais e de hábitos, os nikkeis procuraram se adaptar às condições encontradas no Brasil."

Tsunechiro, engenheiro agrônomo que se dedicou à pesquisa de milho e sorgo no Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, é autor de um levantamento sobre o impacto da imigração japonesa. Segundo seu estudo, cerca de 5% das unidades de produção agropecuária em São Paulo - total de 14 mil -, são de propriedade de nikkeis. A área desses sítios e fazendas varia entre 53 e 72 hectares.

Fonte: Canal do Produtor

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