Publicado em: 19/05/2025 às 12:30hs
O Sistema Plantio Direto (SPD), amplamente reconhecido como uma técnica agrícola de alto valor ambiental por sua capacidade de conservar o solo e a umidade, vem sendo aplicado de forma parcial ou distorcida em diversas regiões do Brasil. A avaliação é do pesquisador científico Afonso Peche Filho, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Segundo o especialista, erros operacionais, omissões no manejo e fatores econômicos estão transformando uma prática conservacionista em um risco de degradação progressiva e silenciosa dos ambientes agrícolas.
Confira, abaixo, os principais fatores que colocam em risco a eficácia do SPD:
Um dos fundamentos do SPD é a manutenção da palhada sobre o solo. No entanto, quando essa cobertura é escassa, mal distribuída ou de baixa qualidade funcional, ela não cumpre seu papel protetivo. É comum observar solos aparentemente conservados, mas que, na prática, apresentam baixa porosidade, selamento superficial e sinais iniciais de erosão laminar.
A falta de cobertura vegetal entre safras, bem como a ausência de culturas de cobertura nas janelas de entressafra, expõe o solo, favorecendo sua degradação física.
A compactação legada, proveniente de práticas agrícolas anteriores ao SPD, continua sendo uma barreira à saúde do solo. A utilização de grades pesadas, implementos inadequados e o tráfego intenso de máquinas comprometem a infiltração de água, o crescimento radicular e a atividade biológica.
Sem práticas corretivas como a escarificação programada ou o uso de plantas com raízes estruturantes, formam-se camadas compactadas que reduzem a produtividade.
Mesmo sem revolver o solo, o tráfego de máquinas morro abaixo, contrariando as curvas de nível, provoca escoamento superficial de água e acentua a erosão. O tráfego repetido em áreas úmidas e inclinadas, sem planejamento, cria trilhas compactadas e acarreta zonas de estagnação produtiva.
A ausência de práticas como terraceamento, plantio em nível e faixas de contenção agrava ainda mais o problema.
O controle químico de plantas daninhas, realizado quase sempre por meio de herbicidas sistêmicos, tornou-se uma prática padrão, negligenciando alternativas como o uso de rolo-faca, manejo biológico e coberturas supressoras.
O uso contínuo dos mesmos princípios ativos compromete a microbiota do solo, favorece a lixiviação de compostos tóxicos e acelera a resistência de plantas invasoras.
A adubação em SPD costuma ser feita superficialmente, sem o devido monitoramento das camadas mais profundas. Isso pode gerar acúmulo de nutrientes na superfície e acidificação do perfil do solo, tornando elementos como o alumínio tóxicos e dificultando o acesso a nutrientes essenciais como fósforo e cálcio.
Sem práticas como calagem e gessagem com base em análises profundas, o solo perde fertilidade e estabilidade química.
O uso repetitivo de poucas espécies, como braquiária ou milheto, limita o potencial do SPD. A diversidade funcional das plantas de cobertura é fundamental para fornecer diferentes tipos de exsudatos radiculares, que alimentam a microbiota e ajudam na estruturação do solo.
Monoculturas de cobertura dificultam a fixação biológica de nitrogênio e reduzem a resiliência ecológica.
Mesmo sendo menos agressivo que métodos convencionais, o SPD ainda é frequentemente operado sem considerar a vida biológica do solo. A ausência de bioinsumos, compostos orgânicos, inoculações específicas e indicadores biológicos revela uma abordagem incompleta.
Essa negligência resulta em baixa atividade enzimática, pouca ciclagem de nutrientes e maior vulnerabilidade a doenças.
A maioria dos agricultores foca apenas na produtividade da lavoura, deixando de lado análises físicas, químicas em profundidade e biológicas. Essa ausência de acompanhamento técnico impede a identificação antecipada de problemas estruturais, permitindo que a degradação avance até níveis críticos.
A busca por resultados imediatos e os incentivos ao uso de insumos químicos afastam o agricultor das práticas sustentáveis de longo prazo. A ausência de políticas públicas voltadas à regeneração do solo e a predominância de soluções padronizadas tornam o SPD um sistema vulnerável.
Sem assistência técnica ecológica e apoio à diversidade de manejos, o plantio direto perde sua essência conservacionista.
Para recuperar a integridade dos solos sob SPD, o pesquisador do IAC propõe as seguintes ações:
O Sistema Plantio Direto representa um avanço significativo em relação aos métodos convencionais de preparo do solo. No entanto, sua eficácia está diretamente ligada à fidelidade aos princípios ecológicos que o fundamentam.
Quando operado com simplificações técnicas e sob influência de pressões de mercado, o SPD deixa de ser uma prática conservacionista e passa a atuar como vetor de degradação. Para manter sua promessa de sustentabilidade, é preciso resgatar o cuidado com a vida do solo, a diversidade funcional das plantas e o acompanhamento técnico qualificado.
Fonte: Portal do Agronegócio
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