Publicado em: 06/08/2014 às 13:10hs
A autossuficiência se estende para o comércio interestadual: boa parte da Lavoura vai, semanalmente, para Goiânia e Anápolis (GO). O negócio, tocado por agricultores familiares em núcleos Rurais de cidades do DF, será celebrado em agosto na Semana do Pimentão, em Planaltina. O evento, diferentemente da Festa do Morango, de Brazlândia, é voltado para a instrução de produtores de hortaliças. Na programação, além dos tradicionais shows e concursos, aulas de conservação e técnicas de plantação. A semana vai de 13 a 16 de agosto.
Mesmo com a proximidade da festa, o trabalho diário segue normalmente e sem interrupções, segundo o agricultor Guilherme Rodrigues Oliveira, 44 anos. "Quem trabalha com terra sabe: fica escravo da horta. Aqui, não tem feriado, não tem folga, não tem férias. Tem que estar aqui todos os dias para cuidar", afirma. Ele produz várias hortaliças além do pimentão, mas em menor quantidade. "Não posso dizer que gosto de comer, mas é a minha maior plantação. Cuido de mais de 20 mil pés", comenta. Para não faltar para as feiras brasilienses, ele mantém a produção em três estágios diferentes, garantindo que a produção semanal siga a pleno vapor.
Guilherme saiu da terra natal, Unaí (MG), em busca de uma nova profissão. Lá, trabalhava com cuidados de gado, mas preferiu tentar a vida como agricultor em Brasília. No Núcleo Rural Taquara, ele conseguiu comprar uma casa e um pedaço de terra. "Com certeza foi uma boa decisão. Com a Agricultura, o manejo é mais fácil, não preciso acordar de madrugada, o dinheiro é melhor. A vida aqui é mais cara, mas ganho mais. Trabalhei por 22 anos como cuidador de gado, mas não consegui juntar muita coisa. Aqui, em oito anos, tenho uma casa e a minha produção", pondera.
O DF produziu, em 2013, 18,3 mil toneladas de pimentão (veja quadro). O Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, é o maior produtor da região: foram 8 mil toneladas da hortaliça em 2013, que movimentaram R$ 10 milhões e geraram cerca de 500 empregos diretos. O segredo para a larga produção no DF é a técnica: além de manter as plantas constantemente irrigadas, elas são protegidas com tela ou estufa, a depender da estação do ano.
De acordo com Fabiano Ibraim Carvalho, técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), o esforço para manter os pimentões se paga durante as vendas. "É uma das culturas mais rentáveis, mais até que a do tomate, porque a oscilação dos preços é menor. O produtor sabe por quanto vai conseguir vender o pimentão", garante. Do Núcleo Taquara, saem caminhões semanalmente para Goiânia, Anápolis e São Paulo. Das cidades goianas, outros transportadores levam o produto para o norte do país. "Em termos de hortaliças, é a maior cultura da região. Essa é uma das colheitas mais produtivas do Distrito Federal, tanto em termos de produção quanto de lucro", afirma.
Na estrada
As hortaliças produzidas no Núcleo Taquara - pimentões, tomates, abóboras, abacates, entre outros - são embaladas e transportadas pela Cooperativa Agrícola da Região de Planaltina (Cootaquara). Parte da produção é direcionada para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest-DF) e não pode ser vendida. O restante entra nos caminhões da empresa para abastecer o Distrito Federal e algumas regiões do Brasil.
Por trás do volante de um dos caminhões da Cootaquara está o motorista Carlos Alberto Rodrigues, 42 anos. Funcionário da cooperativa há 11 anos, fez muitas viagens para Goiás, São Paulo e, alguns anos atrás, para o extinto escritório em Tocantins. "Viajo aos domingos de madrugada, para chegar às 5h em Goiânia. Só transporto o pimentão verde. Mas não sei o que fazem com tanto, porque eu mesmo detesto o gosto", brinca.
Fonte: Correio Braziliense
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