Publicado em: 27/03/2014 às 17:50hs
Nos últimos três meses, choveu apenas 50 milímetros na microbacia Brejo da Piedade, em Quissamã, no Norte Fluminense. Embora este volume seja aproximadamente dez vezes menos do que o previsto para a época, o agricultor familiar Durval de Souza Filho não sofreu com a falta d'água. Mesmo com a estiagem, uma barragem subterrânea implantada pelo Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura, em setembro de 2009, vem garantindo a disponibilidade hídrica na propriedade.
A tecnologia, que permite o armazenamento de água sob o solo, é uma das práticas incentivadas pelo Rio Rural para promover a conservação e o uso racional de água. A barragem foi instalada a partir de uma pesquisa realizada em parceria com a Pesagro-Rio e o agricultor.
Na última segunda-feira (24), técnicos da Emater-Rio que executam o Programa Rio Rural em microbacias de outros municípios do Norte e do Noroeste Fluminense participaram de uma visita técnica à propriedade, para conhecer os resultados do projeto, com o objetivo de disseminar a tecnologia entre os demais produtores rurais do estado. Os extensionistas rurais, que atuam em áreas que vêm enfrentando a escassez de chuvas, ouviram o relato do agricultor e do engenheiro agrônomo José Márcio Ferreira, coordenador da unidade de pesquisa.
A barragem subterrânea foi instalada no local onde, até a década de 1960, existia uma lagoa.
- Eu aprendi a nadar aqui, nessa região. Depois começaram a derrubar tudo que era mata em volta para plantar cana e a nossa lagoa acabou", lembrou o produtor.
Segundo o pesquisador José Márcio, desde aquela época o índice pluviométrico mudou na região.
- O agricultor nos contava a história da propriedade e pudemos comprovar um veio de água subterrâneo, onde aplicamos a técnica. Assim conseguimos mudar a expectativa para esta propriedade e podemos dizer que a técnica é possível em outros municípios do Norte Fluminense - revelou o engenheiro agrônomo aos técnicos da Emater-Rio.
Com a implantação da barragem, o agricultor pôde investir também em um pastejo rotacionado, financiado pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), e em seguida melhorou a qualidade do rebanho de leite, através do Programa Rio Genética, da secretaria estadual de Agricultura. Tudo isso só foi possível graças à disponibilidade de água, base para toda atividade agropecuária.
Desde que a captação de água na barragem começou, a produção de leite das dez vacas da propriedade aumentou 30%, segundo o produtor rural. De acordo com dados da pesquisa, a barragem acumulou mais de 100 mil litros de água e, por dia, são gastos 22 mil litros para a irrigação do pasto.
- A gente liga a irrigação por uma hora e meia e, não passa muito tempo, o nível da água volta ao normal. Isso aqui mudou a minha propriedade - orgulha-se Durval.
- Muita gente me chamava de doido, falava que não ia dar certo. Agora quando vejo os vizinhos sem água, tenho orgulho da minha teimosia - disse o agricultor aos visitantes.
A pesquisa
A barragem subterrânea é feita com a instalação de uma lona plástica na parte mais baixa do terreno, impedindo que a água das chuvas escoe e permitindo um reservatório para a irrigação. Na propriedade de Durval, foi colocada uma lona com 100 metros de extensão e 2,5 metros de profundidade. O pesquisador da Pesagro-Rio lembra que as barragens subterrâneas são utilizadas com sucesso nas regiões do semiárido brasileiro e que o período de estiagem no Norte Fluminense pode chegar a dez meses.
- Este ano por exemplo, o verão foi totalmente atípico. É muito difícil que chova agora no outono e no inverno. Aqui o agricultor não vai ter crise de água - explicou.
Fonte: SEAPEC RJ - Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária
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