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Agricultor segura produção de grãos nos EUA e investidores perdem

A estratégia coletiva surtiu efeito, contribuindo para a alta de 15% nos preços futuros do milho e de 10% na soja desde setembro


Publicado em: 04/12/2014 às 17:20hs

Agricultor segura produção de grãos nos EUA e investidores perdem

A resistência de produtores norte-americanos em negociar a produção recorde de milho e soja da temporada 2014/2015 permitiu que os preços dos dois produtos registrassem a maior alta para o período de colheita em anos. O rali de preços surpreendeu investidores, que apostavam em queda dos preços, e mesmo as principais tradings do mercado, que precisam pagar mais pelo produto para garantir abastecimento.

O produtor de grãos de Illinois Darrel Gingerich colheu uma ampla safra de milho neste outono, graças ao tempo quase impecável nesta temporada. Agora ele está armazenando a produção. "Eu não vendi nada além do necessário para cobrir custos desta temporada", disse o agricultor. Gingerich é um dos muitos produtores do Meio-Oeste dos Estados Unidos que decidiu segurar a safra, enquanto observavam os preços recuarem durante o verão.

A estratégia coletiva surtiu efeito, contribuindo para a alta de 15% nos preços futuros do milho e de 10% na soja desde setembro, além, é claro, do ritmo mais lento de colheita e da valorização de outras commodities agrícolas. A valorização do milho no período de pico de colheita, entre outubro e novembro, foi a maior em oito anos e a segunda maior em três décadas, enquanto os ganhos na soja foram os maiores em cinco anos.

O movimento de produtores também está impondo perdas a investidores e tradings. Esses agentes apostavam que a safra recorde de 365,76 milhões de toneladas de milho e de 108,8 milhões de toneladas de soja, conforme estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), manteria os preços sob pressão. As corretoras agrícolas Global Ag e Bharwani Asset Management registraram perdas de quase 20% em alguns fundos de commodities em outubro, em virtude das apostas de que os preços continuariam a cair.

Após safras volumosas e preços dos grãos em alta nos últimos anos, produtores têm ainda mais capacidade do que anteriormente para segurar a produção, forçando processadoras e indústria alimentícia a pagar um prêmio para estimular a venda de parte da safra. "Produtores exercem um controle maior (sobre os preços de milho e soja) do que tinham no passado", disse David Durra, da AgSpread Analytics. "Eles têm capacidade de criar escassez em um período de oferta ampla apenas se recusando a vender", completou. Os preços também foram impulsionados por movimentações de gestores de fundos, que entraram com US$ 24,5 bilhões no mercado de milho, apostando em novos ganhos.

Em 25 de novembro, o saldo líquido comprado, segundo a Commodity Futures Trading Commission (CFTC), era de 207 mil contratos, alta de 63% em um mês. A virada abrupta surpreendeu investidores como a Global Ag, Bharwani Asset Management e Skyline Management. A capacidade de armazenagem tem ajudado produtores nessa queda de braço. Em 2013, eles detinham capacidade instalada para estocar 13,01 bilhões de bushels, segundo o USDA.

Tradicionalmente, agricultores estocam a safra em silos de metal, mas alguns têm adotado silos-bolsa nas últimas safras, ampliando a capacidade de estocagem da safra. As tradings e processadoras de grãos, como ADM, Bunge e Cargill, também enfrentam desafios com a resistências de produtores em vender a safra. Com a necessidade de pagar mais para estimular a oferta de grãos, as margens das companhias podem ser afetadas. "De forma geral, estamos comprando menos grãos durante a colheita do que comprados nos últimos anos", disse Soren Schroder, diretor executivo da Bunge, em entrevista recente. "É uma mudança." Alguns analistas esperam, no entanto, que o recente rali de preços deve fracassar, porque produtores não podem estocar milho por muito mais tempo em virtude das necessidades financeiras.

Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO

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