Publicado em: 30/06/2025 às 18:00hs
O mercado de milho no Brasil passou por uma retração significativa nos últimos três meses, com os preços do grão recuando 23% desde março, segundo o Indicador do Milho Esalq/USP, em levantamento citado pelo Rabobank. A tendência de baixa foi impulsionada por diversos fatores, como a melhora nas condições climáticas no Brasil, perspectivas de aumento da produção nos Estados Unidos e valorização cambial.
Em março de 2025, os preços haviam alcançado o maior patamar do ano, sustentados por incertezas em torno da safrinha e expectativas de maior consumo interno. No entanto, a divulgação, no fim daquele mês, da intenção de plantio recorde de milho nos EUA para a safra 2025/26 passou a pressionar as cotações internacionais, movimento que acabou refletindo no mercado brasileiro.
Outro fator determinante foi o aumento das projeções de produtividade no campo, resultado das chuvas de abril, que melhoraram as condições para o desenvolvimento do milho safrinha. Além disso, um caso confirmado de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul elevou as incertezas sobre a demanda, afetando negativamente os preços.
Aproveitando os bons preços registrados no primeiro trimestre, muitos produtores anteciparam as vendas. Dados do IMEA mostram que a comercialização da safra 2024/25 atingiu 51% até junho, avanço de 15 pontos percentuais na comparação anual. Apesar disso, o número ainda está 10 pontos abaixo da média dos últimos cinco anos, o que mostra uma cautela por parte dos agricultores diante do cenário de preços em queda.
A colheita do milho safrinha, por sua vez, avançava lentamente até meados de junho, alcançando apenas 4% da área total — um atraso de quatro pontos percentuais em relação à média histórica para o período, segundo a Conab. No Paraná, as chuvas previstas devem continuar dificultando o progresso da colheita.
A expectativa de uma safra recorde nos Estados Unidos é um dos principais fatores de pressão sobre os preços do milho. O último relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projeta uma produção de 402 milhões de toneladas para o ciclo 2025/26 — 24 milhões a mais do que na safra anterior. Com isso, espera-se uma recomposição dos estoques norte-americanos, o que tende a reduzir ainda mais os preços globais.
Em contraste, a relação estoque/consumo global deve recuar, sinalizando que o alívio será mais concentrado nos países exportadores. Ainda assim, o aumento da oferta entre os três maiores exportadores — Estados Unidos, Brasil e Argentina — tende a manter as cotações do cereal sob pressão ao longo do segundo semestre.
Outro fator que contribuiu para a retração dos preços do milho foi a valorização do real frente ao dólar. A moeda brasileira mais forte reduz a atratividade das exportações nacionais, ao mesmo tempo em que favorece os embarques norte-americanos. Isso amplia a concorrência internacional e pode levar a uma maior oferta de milho no mercado global.
Apesar do cenário de queda nos preços, a demanda interna pelo milho continua firme, especialmente para a produção de etanol. Nos primeiros cinco meses de 2025, o consumo do cereal para esse fim somou 8,6 milhões de toneladas, um aumento de 17% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com dados do Rabobank. A expansão das usinas de etanol de milho segue como um dos principais vetores de sustentação da demanda no Brasil.
Fonte: Portal do Agronegócio
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