Publicado em: 01/07/2025 às 11:30hs
O mercado do milho no Brasil apresenta estabilidade relativa, porém com pouca movimentação e preços travados em diversas regiões, conforme análise da TF Agroeconômica. No Rio Grande do Sul, as cotações permanecem estáveis em cidades como Santa Rosa (R$ 66,00/saca), Marau (R$ 68,00/saca) e Lajeado (R$ 70,00/saca), enquanto em Santa Catarina o mercado está travado devido ao descompasso entre preços pedidos e ofertas, como no Planalto Norte, onde os valores pedidos chegam a R$ 82,00 por saca, mas as ofertas não ultrapassam R$ 79,00.
No Paraná, o cenário é de negócios estagnados, com milho disponível a R$ 76,00/saca FOB nos Campos Gerais e ofertas CIF para a indústria de rações em torno de R$ 73,00. Já em Mato Grosso do Sul, a comercialização está lenta, com preços variando entre R$ 47,00 e R$ 50,00 nas principais praças, ainda tentando se recuperar após perdas recentes.
O planejamento para a safra de milho 2025/26 é marcado por preocupações com o aumento dos custos de produção, especialmente dos fertilizantes, em meio a um cenário de preços estáveis ou em queda para o milho. Segundo Anderson Galvão, diretor da Célieres Consultoria, cerca de 70% a 75% dos fertilizantes usados no Brasil são importados, tornando o setor vulnerável às oscilações do mercado internacional.
O conflito entre Israel e Irã, importantes fornecedores de ureia e fósforo, traz incertezas sobre a oferta e preço desses insumos. Por outro lado, a valorização do real frente ao dólar, apesar de facilitar a compra dos insumos, pressiona para baixo os preços domésticos do milho, afetando a competitividade dos produtores. A variação cambial pode reduzir o preço da saca em quase R$ 5,00 para cada aumento de 10 centavos na cotação do real.
Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest, alerta para a necessidade de planejamento financeiro rigoroso, com travas de custos e receitas para proteger margens de lucro, especialmente para o milho safrinha, que representa grande parte da produção no Centro-Oeste.
Clodoaldo Calegari, presidente da Aprosoja Goiás, destaca o aumento significativo nos preços dos fertilizantes desde o início do ano e a perspectiva preocupante de custos superiores com preços do milho iguais ou inferiores à safra anterior, o que pode tornar o cenário econômico bastante desafiador para os produtores.
Em contrapartida, um relatório recente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica uma pequena redução de 0,29% no custo operacional do milho de alta tecnologia para 2025/26, estimado em R$ 3.216,06 por hectare, explicada pela queda nos custos de sementes, corretivos e macronutrientes.
Porém, o custo total, que inclui despesas financeiras e com máquinas, subiu para R$ 6.638,14 por hectare, devido ao aumento da taxa Selic. Para cobrir o custo operacional, o produtor precisaria vender o milho a pelo menos R$ 40,33 por saca, preço próximo ao praticado atualmente, mas que pode não garantir margens confortáveis frente às demais variáveis do mercado.
O aumento no preço do petróleo, decorrente dos conflitos no Oriente Médio, pode elevar os custos dos combustíveis no Brasil, mas também tende a impulsionar a indústria de etanol, que usa o milho como matéria-prima, ampliando sua demanda.
Segundo Ronaldo Fernandes, analista da Royal Rural, a guerra gera incertezas significativas para os custos da próxima safra, especialmente pela importância do Irã e Israel no fornecimento de fertilizantes. Muitos produtos já estão sendo retirados do mercado, aumentando a cautela dos produtores.
Apesar disso, a demanda interna por milho permanece forte, puxada pelo setor de proteína animal (avicultura, suinocultura e laticínios) e pelo crescimento do mercado de etanol de milho. As exportações também devem continuar elevadas, com previsão superior a 47 milhões de toneladas para 2025/26.
No mercado futuro da B3, os contratos do milho apresentaram queda nos últimos dias de junho, pressionados pela colheita da segunda safra em ritmo lento e pela desvalorização do dólar. Mesmo com a baixa diária, o mês fechou com valorização modesta de 0,78%, indicando estabilidade.
A colheita da safrinha avançou para apenas 10,3% da área nacional até 21 de junho, ritmo inferior ao registrado no ano passado e à média dos últimos cinco anos, o que tem limitado quedas maiores nos preços.
Nos contratos, o julho/25 fechou a R$ 63,54 e o setembro/25 a R$ 66,25, ambos com leves recuos semanais. No mercado internacional, na CBOT, o milho teve desempenho misto, com o contrato julho em alta e o setembro em queda no mês, pressionado pelas expectativas de safra recorde nos EUA.
O mercado do milho no Brasil segue em equilíbrio instável, sustentado por uma demanda firme e preços estáveis, mas pressionado por custos elevados e incertezas cambiais e geopolíticas. Produtores enfrentam o desafio de conciliar planejamento financeiro rigoroso e adaptação a um cenário de volatilidade, com a expectativa de que os preços se recuperem no segundo semestre, apoiados pela forte demanda interna e externa.
Fonte: Portal do Agronegócio
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