Publicado em: 18/11/2025 às 15:30hs
Um estudo inédito do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) analisou o papel da bioenergia tropical na transição energética global, mostrando que soluções brasileiras podem reduzir emissões de forma mais eficaz do que algumas tecnologias favorecidas internacionalmente.
O relatório, intitulado “Bioenergia tropical e os dilemas da transição energética: neutralidade tecnológica e valorização global das soluções nacionais”, alerta sobre os riscos de políticas climáticas assimétricas que penalizam alternativas de baixo carbono de países tropicais. O estudo defende que a descarbonização deve ser baseada em desempenho climático mensurável, e não em preferências geopolíticas ou tecnológicas.
“A transição energética precisa ser guiada por desempenho, não por preferências. O Brasil mostra que é possível usar soluções locais para reduzir emissões em larga escala com sustentabilidade econômica, inclusão social e inovação local”, afirma Luciano Rodrigues, coordenador da pesquisa.
O estudo destaca a mobilidade veicular como exemplo da eficácia das soluções tropicais. Com base em Análise de Ciclo de Vida (ACV), que considera emissões desde a produção até o descarte, os resultados mostram:
“Biocombustível sustentável e eletrificação entregam eficiência imediata com custo competitivo, rede de abastecimento existente e baixo impacto climático. É uma solução tropical com resultados globais”, acrescenta Rodrigues.
O estudo também critica barreiras regulatórias e narrativas que desvalorizam a bioenergia, como o suposto dilema “food versus fuel”. Os dados indicam que os biocombustíveis contribuem para:
Outro desafio citado é a aplicação de fatores de mudança indireta no uso da terra (iLUC), frequentemente adotados com parâmetros genéricos que penalizam a bioenergia, sem considerar particularidades de países tropicais como o Brasil, que utiliza milho de segunda safra e recuperação de pastagens degradadas.
Na União Europeia, políticas recentes restringem biocombustíveis agrícolas e favorecem eletricidade e combustíveis sintéticos nas metas de energia renovável. Nos EUA, o etanol brasileiro recebe penalidades semelhantes às do etanol local, baseadas em emissões indiretas que não refletem a realidade tropical.
“Embora os resultados do Brasil sejam auditáveis, os biocombustíveis ainda enfrentam desconfiança internacional. Há viés e faltam critérios objetivos sobre o que é considerado ‘verde’ ou ‘limpo’”, explica Rodrigues.
O relatório recomenda que a neutralidade tecnológica seja adotada como princípio nas políticas globais, garantindo:
Também é defendida a integração entre bioenergia e eletrificação, criando um modelo híbrido de descarbonização com motores de combustão eficientes e tração elétrica complementar.
O estudo enfatiza a necessidade de fortalecer a diplomacia climática, reposicionando soluções tropicais na agenda global e harmonizando critérios de reconhecimento de biocombustíveis sustentáveis. Estratégias recomendadas incluem:
Com mais de 60% da energia renovável do país proveniente da bioenergia e quase 30% da oferta interna ligada ao agronegócio, o Brasil já é uma potência verde, embora pouco reconhecida internacionalmente.
O relatório conclui que a transição energética global será efetiva e justa apenas se reconhecer a diversidade de caminhos, priorizando resultados mensuráveis e comparáveis, e não a escolha de tecnologias específicas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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