Publicado em: 05/05/2025 às 16:30hs
No entanto, a expansão esbarra em desafios como o controle estatal rigoroso, a desconfiança da população e os resultados insatisfatórios de testes em campo. Embora a área de plantio de milho GM tenha crescido exponencialmente, o país ainda enfrenta incertezas quanto à eficácia e à aceitação dessa tecnologia.
A área de cultivo de milho geneticamente modificado na China deverá crescer de forma expressiva em 2025, alcançando entre 40 milhões e 50 milhões de mu (cerca de 3,3 milhões de hectares), segundo estimativas da CITICS Research e fontes da indústria de sementes. O número representa um aumento de quatro a cinco vezes em relação ao plantio realizado no ano anterior.
Esse avanço ocorre após décadas de hesitação, período em que o governo chinês evitava liberar amplamente as biotecnologias agrícolas. No entanto, nos últimos dois anos, houve um aumento significativo na aprovação de variedades geneticamente modificadas, em uma estratégia para fortalecer a segurança alimentar nacional.
Embora o impulso pelo milho transgênico não esteja diretamente vinculado à guerra comercial com os Estados Unidos, a medida pode afetar o volume de importações chinesas. Em 2024, os EUA foram responsáveis por cerca de 15% do milho importado pela China, e a ampliação da produção local pode reduzir essa dependência, favorecendo a posição da China em disputas tarifárias com Washington.
Apesar da expansão, o milho GM ainda representa apenas 7% da área total cultivada no país, número distante dos mais de 90% de penetração observados em grandes potências agrícolas como Estados Unidos e Brasil.
O avanço do milho geneticamente modificado na China ainda esbarra em controles estatais rigorosos, que dificultam o planejamento e geram acúmulo de sementes nas empresas nacionais, segundo fontes do setor. Para Matthew Nicol, analista do China Policy, o sucesso da adoção comercial depende do desempenho agronômico das sementes e da capacidade do governo de lidar com o ceticismo persistente de consumidores e agricultores.
Apesar do potencial de aumento de produtividade de 6% a 13% apontado por analistas, os testes com as variedades transgênicas apresentaram resultados abaixo do esperado. Em algumas regiões que participaram dos ensaios entre 2022 e 2023, os rendimentos foram até 20% menores do que os observados com cultivares tradicionais.
As falhas foram atribuídas à inadequação das sementes às condições locais e à falta de retrocruzamento genético, técnica fundamental para estabilizar as características desejadas. Os resultados desses testes não foram divulgados publicamente, o que gera ainda mais desconfiança sobre o real desempenho das novas sementes.
Mesmo diante das incertezas, alguns produtores têm recorrido a sementes transgênicas ilegais ou híbridas convencionais na busca por melhores rendimentos. Essa prática revela uma demanda latente por cultivares com características agronômicas superiores, como destacou Nicol.
Em resposta, o Ministério da Agricultura da China emitiu um alerta às províncias solicitando ações de repressão à produção e venda ilegal de sementes geneticamente modificadas.
Com a transição dos ensaios piloto para o cultivo em larga escala, a produtividade pode cair inicialmente, segundo Even Rogers Pay, analista da Trivium China. Isso porque os agricultores não conseguem dedicar o mesmo nível de cuidado a cada planta, o que exige tempo de adaptação às novas variedades.
Apesar disso, a expectativa é de continuidade na expansão. “Se os resultados forem positivos, é razoável esperar que o cultivo siga crescendo. O gênio proverbial já saiu da lâmpada”, afirmou Pay.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias