Publicado em: 14/01/2014 às 19:15hs
Com a troca, ele saiu do vermelho e passou a ter um rendimento de cerca de R$ 630 mil ao ano, nos dois primeiros cortes da cana. Esse tipo de mudança tem sido recorrente no interior paulista, e embora seja boa para os agricultores, tem retirado de circulação mais de R$ 1,04 bilhão ao ano do estado, segundo levantamento de produtores obtido pelo DCI.
Isso ocorre porque os custos de produção da cana-de-açúcar são quase três vezes menores do que os custos de produção da laranja, dinheiro que deixa de ser empregado pelos agricultores nas economias locais. De acordo com dados levantados pelo Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, a cultura da laranja demanda gastos de R$ 16.562 por hectare, em média. Já a cultura da cana-de-açúcar é muito mais barata: cada produtor desembolsa em média R$ 6.145 para realizar os tratos do mesmo hectare.
Essa diferença tem sido motivo para que mais de dois mil produtores tenham migrado da atividade citrícola para a canavieira entre 2010 e 2012, e estima-se que esse número tenha alcançado três mil no ano passado. Para a maioria dos pequenos e médios produtores rurais, que vendem a fruta no mercado à vista, os custos de produção não têm mais sido compensados pelo preço recebido pela laranja, que só entre 2011 e 2012 caiu 55,5% em São Paulo.
"A cana é o que está nos remunerando melhor. Não é [uma receita] alta, mas não está dando prejuízo como a laranja", afirma o produtor José Colette.
De 2010 a 2012, cerca de 100 mil hectares no estado deixaram de abrigar pés de laranja para serem cultivadas com cana, segundo a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA). Considerando que o valor do custo de produção desembolsado pelos produtores circula dentro das próprias regiões produtoras, deixaria de circular neste período R$ 1,04 bilhão ao ano nas cidades paulistas.
O cálculo, feito pelo presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Sanches, pode estar subestimado, já que muitos agricultores que realizaram a mudança de cultura não são produtores de cana, mas arrendam a terra para as usinas. "Os produtores de laranja compravam e utilizavam todos os insumos e serviços no comércio local, mas as usinas compram diretamente das grandes empresas de insumos e trazem muitos funcionários de outros estados, com mão de obra mais barata", diz Sanches.
A CDA, ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, ainda não divulgou os dados de 2013, mas o presidente do sindicato de Ibitinga acredita que ano passado mais 50 mil hectares do parque citrícola tenham virado canaviais.
"Os municípios que tinham a laranja com principal atividade estão sentido fortemente essa redução. Vemos isso de forma clara em Itápolis e Tabatinga". De 2010 para cá, Itápolis têm perdido R$ 390 mil ao ano com a mudança. Até 2012, o município contava com pouco mais de mil propriedades produtoras de citros, com 4,899 milhões de pés.
Preços podem reagir
A erradicação de pés de laranja deve se refletir em uma produção menor na safra 2014/2015. A última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que tenham sido erradicados 36,7 mil hectares, dos quais 26,4 mil hectares foram direcionado para a produção de cana. Os produtores paulistas preveem uma safra de 265 milhões de caixas para o período 2014/2015, o que, junto com uma quebra de produção na Flórida, deve elevar os preços no mercado externo e interno. Após preços de R$ 5,85 a caixa em janeiro do ano passado, alguns produtores já têm recebido neste ano entre R$ 11 e R$ 12.
Segundo Sanches, as indústrias estão pagando mais "pois estão vendo que vão ter restrição de oferta para os próximos anos".
Fonte: DCI
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