Fruticultura e Horticultura

Plano emergencial reduz em 95% infestação da podridão da uva no polo paulista

Recuperação recorde da produção de uva Niágara


Publicado em: 24/09/2025 às 16:00hs

Plano emergencial reduz em 95% infestação da podridão da uva no polo paulista
Foto: Rafael Mingoti

Uma ação conjunta da Embrapa, órgãos estaduais e prefeituras de São Paulo conseguiu recuperar até 95% da produção de uvas Niágara em propriedades do Circuito das Frutas, principal polo produtor do estado. Em 2024, a região enfrentou uma epidemia da podridão da uva madura, causada pelo fungo Glomerella cingulata, que chegou a dizimar colheitas em Jundiaí, Louveira, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Indaiatuba e Elias Fausto. Algumas fazendas perderam 100% da produção, gerando insegurança e prejuízos financeiros aos produtores.

Plano Emergencial de Controle da Podridão Madura

O Plano Emergencial de Controle à Podridão Madura da Uva selecionou 13 propriedades para a aplicação de fungicidas e adoção de boas práticas agrícolas recomendadas pela Embrapa. As propriedades que seguiram todas as orientações alcançaram até 95% de recuperação da produção, enquanto outras obtiveram redução de até 70% da incidência da doença.

Diagnóstico e técnicas aplicadas

As recomendações da Embrapa Uva e Vinho (RS) e da Embrapa Territorial (SP) foram baseadas em ensaios de campo e coletas de restos culturais contaminados, com identificação das espécies da fase assexual do fungo e avaliação da sensibilidade aos fungicidas. O objetivo foi frear o avanço da doença e aprimorar a eficiência das medidas preventivas.

Impactos da doença na vitivinicultura

A podridão da uva madura afeta principalmente as variedades Niágara rosada e branca, causando apodrecimento e queda das bagas maduras, o que torna a colheita comercialmente inviável. Em anos anteriores, produtores precisaram antecipar a colheita de uvas ainda verdes, comprometendo qualidade e valor de mercado. Além disso, a epidemia ameaçava eventos tradicionais, como a Festa da Uva, realizada anualmente em Jundiaí.

Sérgio Mesquita Pompermaier, diretor do Departamento de Agronegócio da Prefeitura de Jundiaí, afirma: “A doença ainda persiste em alguns parreirais, mas com incidência bem menor. Mantemos atenção constante, e acreditamos que não haverá impacto negativo na atividade turística”.

Erros de manejo e fatores climáticos

Segundo os pesquisadores Lucas Garrido e Rafael Mingoti, fatores como temperaturas elevadas, alta umidade e restos culturais contaminados favoreceram a epidemia de 2024. Além disso, falhas no manejo, como aplicação inadequada de fungicidas ou uso incorreto dos equipamentos, contribuíram para os prejuízos. “Em alguns casos, o produto certo estava na propriedade, mas não foi aplicado corretamente. Isso precisa mudar”, reforça Mingoti.

Produtores como protagonistas da recuperação

O produtor Atalívio Rufino, de Elias Fausto, relata melhorias significativas após seguir as orientações da Embrapa: “Antes, retirávamos os galhos e cachos apodrecidos sem zelo. Agora, queimamos ou descartamos corretamente e ajustamos a pulverização. Hoje, estamos colhendo novamente”.

Estudos científicos embasam protocolo futuro

Pesquisas conduzidas pelo Instituto Biológico identificam diferentes espécies do fungo Colletotrichum, indicando variabilidade na resposta aos tratamentos. Os resultados servirão para desenvolver um protocolo consolidado de manejo integrado da doença, incluindo controle químico, biológico e monitoramento em tempo real, com apoio da Fapesp.

Práticas recomendadas de manejo integrado

Especialistas da Embrapa destacam medidas essenciais para o controle da podridão da uva:

  • Remoção e descarte de restos culturais infectados;
  • Aplicações de fungicidas durante a dormência das plantas;
  • Pulverizações estratégicas em floração, pré-fechamento do cacho e início da maturação;
  • Alternância entre fungicidas sistêmicos e de contato;
  • Uso de produtos biológicos e óleos essenciais na fase final da maturação;
  • Ajuste e regulagem correta dos pulverizadores;
  • Reaplicação de produtos biológicos após chuvas.
Dia de Campo e seminário reforçam disseminação de conhecimento

Os resultados e práticas de manejo serão apresentados no seminário e Dia de Campo, nos dias 16 e 18 de setembro, em Jundiaí e Elias Fausto, respectivamente. As atividades incluirão painéis sobre tecnologias de aplicação, manejo sob cobertura plástica e impactos de práticas culturais no controle da doença.

Vigilância contínua é essencial

Apesar do sucesso parcial no controle, a doença ainda exige atenção constante. O fungo pode permanecer dormente fora da lavoura, e o manejo preventivo iniciado no inverno continua sendo a principal defesa contra a Glomerella. “Não é hora de abaixar a guarda. É essencial manter vigilância, aplicar corretamente os defensivos e ajustar estratégias conforme o clima”, alerta Mingoti.

Fonte: Portal do Agronegócio

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