Publicado em: 05/06/2025 às 11:45hs
Duas novas variedades de laranja-doce, Kawatta e Majorca, que combinam precocidade e alta qualidade de suco, serão lançadas no dia 3 de junho durante a 50ª Expocitros — um dos maiores eventos da citricultura mundial. Desenvolvidas pela Embrapa, Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM/IAC) e Fundação Coopercitrus Credicitrus (FCC), as novas cultivares representam um avanço tecnológico importante para o cinturão citrícola paulista, atendendo à demanda do setor por variedades mais produtivas e sustentáveis.
Kawatta e Majorca foram avaliadas desde os anos 1990 e mostraram resultados superiores às variedades precoces mais cultivadas atualmente no Brasil, como Hamlin e Valência Americana. Além de colherem mais cedo (entre maio e agosto), essas variedades apresentam sucos com coloração mais intensa, sabor mais equilibrado e melhor relação entre sólidos solúveis e acidez — critérios essenciais para a qualidade do suco.
Segundo o pesquisador Eduardo Girardi, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, as variedades precoces são mais vantajosas para os citricultores, pois possuem ciclo de produção mais curto, reduzindo riscos de seca e facilitando práticas como poda e, futuramente, a colheita mecanizada. Ambas produzem mais de 30 toneladas por hectare sem irrigação e são compatíveis com os principais porta-enxertos usados no estado de São Paulo.
A pesquisadora Camilla Pacheco, da Citrosuco, destaca que o setor enfrenta limitações na oferta de cultivares precoces com qualidade sensorial elevada e alto teor de sólidos solúveis, o que dificulta a produção do suco pasteurizado não concentrado (NFC) — que possui maior valor agregado em comparação ao suco concentrado. Além disso, doenças como o HLB (huanglongbing ou greening) prejudicam a qualidade do suco, aumentando a acidez e provocando amargor. Kawatta e Majorca são suscetíveis a essas doenças, exigindo manejo adequado.
Kawatta foi introduzida no Brasil em 1969, e Majorca, no final da década de 1980, pelo IAC. Ambas passaram por processo de microenxertia e limpeza clonal para garantir sanidade e resistência a doenças. As avaliações começaram em 1990, em Bebedouro (SP), e duraram 14 safras, incluindo comparações com variedades tradicionais. Após o sucesso inicial, testes continuaram em diversas regiões paulistas, confirmando boa adaptação, produtividade e compatibilidade com os principais porta-enxertos.
Além da alta produtividade, Kawatta destaca-se pela coloração mais intensa da polpa, enquanto Majorca apresenta maior teor de vitamina C. Ambas são indicadas tanto para processamento industrial quanto para consumo in natura, apesar de possuírem algumas sementes. Testes mostraram que as variedades se adaptam bem a diferentes climas do estado de São Paulo, oferecendo maior resiliência diante das mudanças climáticas.
O engenheiro-agrônomo Luiz Gustavo Parolin ressalta que Kawatta e Majorca têm maturação ligeiramente mais lenta que a Hamlin, o que permite melhor planejamento da colheita pelos produtores. No entanto, não retêm os frutos por tanto tempo quanto a laranja Pera. Parolin também adianta que outras quatro novas cultivares de laranjeiras e tangerinas estão em fase final para lançamento nos próximos anos.
O trabalho conjunto da Embrapa, CCSM/IAC e FCC visa ampliar o portfólio de variedades para atender às diferentes necessidades do setor. Em 2023, essas instituições já lançaram outras variedades de laranja e lima ácida. O legado deixado pelo pesquisador Eduardo Stuchi, falecido recentemente, é destacado como um marco importante na evolução da citricultura brasileira. A colaboração entre universidades, produtores e instituições públicas e privadas é essencial para o desenvolvimento e validação dessas cultivares.
A curadora do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do CCSM/IAC, Marinês Bastianel, observa que os produtores estão cada vez mais abertos a novas variedades, priorizando qualidade de fruto mesmo que a produtividade seja similar ou um pouco menor que a das cultivares tradicionais. Variedades que superem Hamlin em qualidade têm grande potencial de aceitação no mercado.
O material propagativo das novas variedades estará disponível para viveiristas a partir do segundo semestre de 2025, por meio da oferta de borbulhas de plantas básicas no estado de São Paulo, em parceria com o IAC. A estratégia visa garantir a produção em larga escala de mudas com qualidade e sanidade, assegurando que as cultivares cheguem ao mercado com o máximo de conhecimento sobre seu desempenho.
Oscar Franco Filho, superintendente da FCC, destaca a importância da parceria entre as instituições para o fortalecimento da citricultura nacional. Ele reforça o compromisso de continuar investindo em pesquisas que tragam inovação e sustentabilidade para o setor, mantendo o Brasil como líder mundial na produção e exportação de suco de laranja.
Fonte: Portal do Agronegócio
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