Fruticultura e Horticultura

Fruticultura ganha vida nova em Minas Gerais

Pomares iniciados em 2008 por meio de projeto desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), na região de São João del- Rei, no Campo das Vertentes, têm dado bons resultados para produtores rurais de pequenas e médias propriedades


Publicado em: 24/01/2019 às 18:40hs

Fruticultura ganha vida nova em Minas Gerais

A ideia era aproveitar o microclima da região para o cultivo de frutíferas típicas de áreas temperadas, como pêssego, uva, ameixa, figo, marmelo, maçã e amora. A implantação foi feita a partir da instalação de Unidades Demonstrativas da Epamig, com base em financiamentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

As unidades demonstrativas são espaços montados em regiões onde não há fazendas experimentais da Epamig, que dão acesso aos produtores a cursos de capacitação, encontros técnicos, orientações ambientais e prestãção de assistência técnica. Segundo os pesquisadores da Epamig Paulo Norberto e Ângelo Alberico, a experiência em São João del-Rei começou no Campo Experimental da Epamig, com a avaliação do desenvolvimento produtivo de diferentes espécies e variedades frutíferas, identificando aquelas de maior potencial produtivo para a região.

As unidades demonstrativas somam, hoje, 31 empreendimentos, espalhadas por nove municípios do entorno da cidade histórica. O conhecimento de introdução e manejo dessas culturas, nos mais variados microclimas é gerado e difundido para consolidar a produção de diferentes espécies frutíferas. O objetivo é aumentar a área cultivada com frutas, bem como o número de fruticultores na região, possibilitando assim, a criação de uma atividade alternativa para geração de emprego e renda de forma sustentável para esses produtores, que têm na pecuária de leite de pequeno porte sua principal atividade.

A Epamig realiza a geração de tecnologias, capacitação de produtores e técnicos, bem como o fornecimento de mudas, junto ao trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais (Emater-MG). Paulo Norberto conta que já há demandas para a implantação do projeto em novos municípios. “O conhecimento das técnicas de cultivo e do mercado de frutas é conseguido, à medida que o produtor trabalha na área e vai adquirindo experiência, aprendendo com os erros e os acertos,” afirma o pesquisador.

O interesse pela fruticultura de clima temperado tem crescido tanto devido à produção bem-sucedida da uva, entre outras frutas. quanto em razão da possibilidade de processamento, a exemplo do figo, na fabricação de doces. Há cinco anos no comando de uma unidade demonstrativa da Epamig, o produtor Vando Geraldo da Silva, do município de Carandaí, começou na atividade com 200 mudas de videira, da variedade Niágara Rosada, doadas pela empresa de pesquisa. Atualmente, são mais de 1 mil mudas produzindo dentro de sua propriedade.

“Enfrentamos problemas como doenças e pragas, mas estamos muito satisfeitos com o resultado. Esperamos que, este ano, a produção seja muito boa, e pretendemos vender em mercados locais como sacolões, feiras e supermercados de Carandaí, além de mandar uvas para a Ceasa, em Contagem”, afirma o produtor, que também destaca o auxilio de técnicos da Emater-MG durante todo o processo.

Metabolismo Paulo Norberto conta que a principal característica das frutíferas de clima temperado é a perda das folhas no inverno. “Quando se começa a registrar o abaixamento das temperaturas e o inicio do período de estiagem, a planta adota esta estratégia a fim de reduzir seu metabolismo, economizando suas reservas para atravessar esse período de estresse”, explica o pesquisador da Epamig.

Contudo, o frio é um fator determinante para o bom desenvolvimento dessas espécies, que, ao longo do seu ciclo de crescimento, precisam de um determinado número de horas de baixas temperaturas, para que possam brotar, florescer e render bons frutos. Por esse motivo, o conhecimento e a escolha correta de qual variedade se adapta melhor ao clima é muito importante.

A maça Eva, por exemplo, depende de cerca de 200 horas de frio, durante o inverno, a uma temperatura na casa dos 7,2 graus, para se desenvolver e produzir a contento, enquanto, por exemplo, outras variedades de maça precisam de cerca de 1.000 a 1.200 horas, não sendo recomendadas para a região,

Como a atividade não demanda grandes áreas e muitas vezes a mão de obra é familiar, a fruticultura de clima temperado tem se tornado uma boa opção para a pequena e média propriedade rural. Normalmente, a colheita inicia-se no fim de novembro e vai até fevereiro ou março, quando, com o passar do tempo, as plantas já começam a entrar em dormência, para realizar novo ciclo produtivo.

Doçaria dá mais valor à produção

A maioria das unidades demonstrativas da Epamig implantadas na região do Campo das Vertentes exploram as culturas da figueira e da videira, além de mais algumas espécies, porém em menor escala. De acordo com o pesquisador da Epamig Paulo Norberto, o trabalho foi iniciado com a cultura da figueira, fácil de ser cultivada, e que oferece a possibilidade de agregação de valor ao produto, com a doçaria. Os produtores não haviam trabalhado comercialmente com fruticultura, o que levou à escolha de uma fruta que pudesse promover o aprendizado deles atividade, para que, posteriormente, eles enfrentassem novos desafios, com árvores mais exigentes, como o pessegueiro, videira e goiabeira.

“Em Minas Gerais não temos o costume de comer o figo maduro. Aqui a fruta verde é transformada em doce, o que é um bom negócio. Enquanto o quilo do figo verde pode ser vendido por R$ 7, o quilo do doce chega a custar R$ 25, sendo que sua produção geralmente utiliza mão de obra familiar”, relata o pesquisador.

A demanda pela fruticultura tem sido crescente entre os produtores, principalmente por ser uma atividade de alta remuneração, quando bem conduzida no campo e na fase de comercialização da produção. Como exemplo, Norberto cita a amora preta, que chega a valer R$ 10 a cada 100 gramas comercializadas.

Ainda segundo o pesquisador da Epamig, à medida em que as unidades demonstrativas vão obtendo bons resultados, os produtores vizinhos dessas propriedades passam a se interessar pela cultura e pela fruticultura. A partir desse momento, é iniciado trabalho de difusão e de transferência de tecnologia com a promoção de eventos como o Dia de Campo e as visitas técnicas, oportunidades em que todos os produtores da comunidade rural e do município são convidados a conhecer o trabalho e a atividade da fruticultura de clima temperado.

Fonte: Estado de Minas

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