Publicado em: 04/07/2014 às 19:00hs
Mesmo com um volume ainda modesto, a Argentina tenta ampliar a exportação de citros para o Brasil, o que deixa o setor produtivo nacional em alerta. Representante dos exportadores das frutas cítricas do país, a Câmara de Exportadores de Citros do Nordeste Argentino (Cecnea) articula junto ao governo local estratégias para ampliar o comércio com o "sócio do Mercosul", justamente no momento que o Brasil tem problemas internos para escoar os frutos. Em entrevista por e-mail, o diretor-executivo da Cecnea, Mariano Caprarulo, relatou à reportagem ter recebido a informação do Ministério da Agricultura argentino de que "em breve" o país "poderá exportar tangerinas ao sócio do Mercosul, o Brasil". "Poderíamos começar com o envio de tangerinas conforme volumes acordados e necessidades do Brasil. Existe atualmente um excedente possível de ser exportado", completou. Com 11 sócios, a Cecnea responde por uma produção de 60 a 70 mil toneladas de tangerinas, o que não deve prejudicar os produtores brasileiros, caso haja a exportação. No entanto, Caprarulo diz estar preparado para a exportação de laranjas para o Brasil se for de interesse do consumidor do País. Por pressão de produtores e da indústria brasileira, a importação de laranja para o Brasil caiu a zero e sempre há questionamentos do governo quando os argentinos tentam retomar o comércio.
Maior produtor mundial de laranja, o Brasil sempre reagiu às tentativas de exportações da fruta argentina quando havia oferta e preço do País vizinho, com o governo local cedendo às pressões dos produtores daqui. O citricultor e presidente da Câmara Setorial da Citricultura, Marcos Antonio Santos, afirmou que a Argentina é tema constante dos debates no órgão consultivo do Ministério da Agricultura brasileiro. Recentemente, a Câmara questionou a utilização da Argentina para a entrada de citros espanhóis no Brasil. Grandes produtores europeus, os espanhóis teriam enviado citros de mesa para o mercado brasileiro passando pela Argentina, cuja entrada é livre, para evitar impostos incidentes sobre as frutas. "Essa triangulação é um problema e foi alvo de questionamento dos produtores, principalmente do Sul", disse Santos. Em relação à entrada de laranja, a questão é também sanitária, segundo o presidente da Câmara Setorial. "Eles não têm controle de cancro cítrico lá e isso é uma ameaça para nós", disse. Já o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, lembrou que o "o Brasil tem sofrido com excesso de fruta nos últimos anos, o que fez com que os estoques se acumulassem". "Pensar que um parceiro comercial do Brasil pretende entrar no País aumentando ainda mais a oferta de fruta é um assunto que deve merecer atenção de toda a cadeia e, claro, da coordenação do governo por envolver questões de acordos comerciais", concluiu.
Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO
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