Publicado em: 16/12/2013 às 19:00hs
E elas estão ocupando cada vez mais espaço nos campos de Minas. A falta da temperatura mais amena dificulta o crescimento mais rápido das lavouras de pêssegos, ameixas, figos, uvas e nectarinas. Mas já há variedades que se adaptaram ao clima do estado e conquistaram agricultores que optam por diversificar as atividades das fazendas. Os custos do cultivo são altos. Há desafios relacionados com embalagens e transporte. Mesmo assim produtores apostam na valorização das frutas que colorem e dão vida à decoração de Natal.Frutas de clima temperado, comuns nas mesas das festas de fim de ano, só não despontam no estado por causa da falta de temperaturas mais amenas. Ainda assim, são opção para o produtor.
A falta que o frio faz
Pêssegos, nectarinas, uvas, ameixas, figos e outras frutas típicas de fim de ano, estrelas dos pratos e das decorações de Natal, começam a chegar ao mercado e despontam como opção para diversificação das culturas no campo. Com a produção mineira de frutas estimada em 2 milhões de toneladas ao ano, sendo os principais destaques laranja, banana e abacaxi, que juntas respondem por 70% do total, as frutas de clima temperado, presentes nessas comemorações, ainda engatinham. Desde 2010, o pêssego, por exemplo, responde por apenas 1% da produção do estado e a uva por cerca de 1,5%, segundo dados da FAEMG. Uma das justificativas pode ser a forte dependência por frio, que surge como entrave para a expansão da produção.
De acordo com dados do levantamento anual de Produção Agrícola Municipal (PAM) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), das 1.514.768 toneladas de uvas produzidas no Brasil, 10.831 toneladas saem de Minas Gerais. Do total de 232.987 toneladas de pêssegos produzidas no país, 19.967 são do estado, e das 28.010 toneladas de figo, 5.920 saem de terras mineiras. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2006, das 205.676 ameixas colhidas no país, 15.082 saíram de Minas; das 43.013 nectarinas, 1.386 eram mineiras.
Os números, segundo Pierre Vilela, superintendente do INAES, vinculado à FAEMG, sinalizam que no contexto da fruticultura as chamadas “frutas natalinas”, ainda são pouco significantes. “Temos padrão de qualidade, mas dependemos de muitas horas de frio para uma boa safra, o que acaba fazendo com que as produções não cresçam muito mais”, explica. Ele lembra que a introdução de variedades, como a da lichia, é observada. Mas reforça que a escala produzida no estado não é capaz de evitar a importação. “Sempre vamos depender das frutas que vêm da Argentina e do Chile, por exemplo”, afirma.
Mais ao Sul No estado, as frutas de clima temperado encontram solo fértil e clima adequado com a oferta de pelo menos 400 horas de clima frio na região Central e no Sul, onde são cultivadas acima dos 800 metros de altitude. Entre os municípios produtores, Barbacena, Piedade do Rio Grande, Antônio Carlos e Alfredo Vasconcelos estão entre os destaques. Com o plantio concentrado do meio do ano até dezembro, período de início de safra e de boas vendas no comércio, o fruticultor José Lásaro Mendes Morais, da Frutas Pomme, acredita em preços 20% melhores que os do ano passado. As variedades vendidas por ele passam pelo pêssego, ameixa, nectarina e uva. Apesar de serem mais sensíveis a batidas no transporte, as frutas abastecem, além de Belo Horizonte, os mercados do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiânia.
Com 120 hectares plantados, José Lásaro, que é considerado um dos maiores fruticultores do estado, calcula uma produção por hectare que varia de 18 a 30 toneladas. O segredo para as vendas, segundo ele, é adiantar a produção para que as frutas estejam no mercado no mesmo momento em que há a demanda. “Nessa época a procura é maior, o consumo também melhora e o preço aumenta”, explica. O sucesso das frutas é tamanho, que cresce também o número de empregados. “Pelo sabor e qualidade, os produtos têm sido bem aceitos no mercado e isso faz com que nessa época empreguemos mais de 200 pessoas no campo e no beneficiamento”, conta.
Desafios que chegam bem antes do Natal
Exigentes quanto às condições climáticas, as frutas natalinas, que são de clima temperado, demandam também outro tipo de atenção dos produtores. Além da forte dependência de temperatura mais amena, as dificuldades passam pelos preços pagos ao produtor, que diante dos altos custos de insumos ficam defasados. Existe ainda a dificuldade de encontrar mão de obra mais apurada e o problema de transporte de frutas mais sensíveis em estradas mal conservadas. Outra reclamação recorrente é o alto custos das embalagens: eles oneram os produtos que chegam mais caros às prateleiras.
Segundo Gilmar Alves Garcia, que é fruticultor em Antônio Carlos, na Região Central do estado, e comercializa pêssego, nectarina e ameixa, além de frutas vermelhas, como morango e amora, a defasagem dos preços chega a 40%. “Em relação aos custos com defensivos, adubos e embalagem os preços pagos pelas frutas estão muito abaixo do que deveriam ser”, comenta. A estagnação das cotações, segundo ele, resulta no desinteresse dos produtores pela atividade. “Estar no campo é cada vez mais difícil e não recebemos muitos estímulos. Os custos são muito altos e ainda pagamos muito pelo transporte. O litro de diesel, por exemplo, teve reajuste, mas os preços das frutas foram mantidos”, comenta.
Maurício Kanshiro Nomia, produtor em Barbacena, também na Região Central, que produz pêssego, ameixa e nectarina e vende as caixas por preços que vão de R$ 15 a R$ 25, de acordo com o tamanho das frutas, avalia que este ano, embora a produção tenha sido boa, com a colheita de 30 toneladas por hectare, os preços pagos ao produtor não acompanharam. “Há 20 anos os valores são os mesmos. Os insumos sobem, a mão de obra fica cada vez mais cara e os preços são os mesmos”, reclama.
O principal vilão da fruticultura, segundo José Lásaro Mendes Morais, da Frutas Pomme, que envia ao mercado toneladas de produtos durante este mês, é o custo da embalagem, que responde por 24% do valor total do produto. “A embalagem é mais cara que a mão de obra, que o defensivo ou o adubo”, afirma. A dependência das caixas feitas de papelão virgem é justificada pela segurança no transporte e apresentação do produto no mercado. “Pela sensibilidade da fruta dependemos da embalagem, e não podemos enviá-las em caixas feias”, argumenta o produtor, que lembra que os próprios fruticultores da região reformaram uma das estradas municipais de Barbacena para dar vazão à produção.
Ainda de acordo com Morais, os problemas passam pela falta de incentivo dos governos em pesquisas e mais informações aos produtores e investimento em rodovias. “Temos como referência projetos realizados em Jaíba e Janaúba, no Norte de Minas, com manga e banana, que deram certo, e seria interessante que algo parecido incentivasse os produtores de Barbacena e de outros municípios das regiões Central e Sul”, sugere.
Pesquisas com bons presentes
Diante das demandas dos produtores, que buscam meios para a expansão do cultivo no estado, os órgãos de pesquisa assumem a missão de melhorar as espécies produzidas por aqui. No caso do pêssego, estão presentes no campo as variedades maciel, eldorado, pampeano, diamante, chimarrita e as lançadas pela Embrapa Clima Temperado, kampai e rubimel. As uvas já conhecidas pelos produtores são a crimson, benitaka, red globe, niágara branca e rosada. O figo roxo de valinhos é o mais usado no cultivo. As ameixas irati, gema de ouro, roxa de delfim moreira, gulf blaze, frontier e santa rosa e as nectarinas sanracer, sunripe, centenária, josefina e rubrosol também se revelaram produtivas nas lavouras.
Pequeno produtor em Barbacena, Maurício Kanshiro Nomia aponta como um dos problemas desse tipo de cultivo a vulnerabilidade das frutas. “A produção é melhor a partir do terceiro e ou quarto ano de vida e nesse período ainda temos que arcar com prejuízos causados por pragas, como maritacas”, lembra. Só este ano, o irmão de Maurício, que também é produtor na região, perdeu 50% da lavoura de nectarina por causa dos ataques das aves. Outro problema, segundo ele, é o clima. “No ano passado não tivemos frio. As árvores floresceram, mas as flores caíram. Este ano tivemos problemas com granizo, que baixa o valor do produto”, completa.
Com o objetivo de fazer com que o produtor saia ganhando no cultivo dessas espécies, a Embrapa Clima Temperado, que fica no Sul do país, encabeça uma série de pesquisas que têm como resultado ganhos de qualidade e de condições de cultivo. De acordo com a pesquisadora da unidade Maria do Carmo Bassols Raseira, o cruzamento de espécies e o melhoramento das cultivares de pêssegos levou à criação da variedade fascínio, que promete reverter o problema de logística, recorrente entre os produtores.
“Nossas variedades de massa branca e doces, preferidas entre os consumidores, eram muito macias e chegavam amassadas ao mercado. Se colhidas verdes, não alcançavam a qualidade ideal. Portanto desenvolvemos uma fruta com todas essas características, mas ao mesmo tempo firme e que pode ser colhida quando madura”, revela.
Para chegar a resultados como esse, nos quais o produtor saia ganhando, Maria do Carmo Bassols lembra, no entanto, que os estudos perduram por 10 ou 12 anos. Ainda de acordo com ela, há outras pesquisas em andamento e seleções sendo testadas no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo, e Minas Gerais.
De acordo com o pesquisador da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) Emerson Dias Gonçalves, os resultados que passam pela descoberta de novos métodos de superação da dormência para uniformização da floração e por métodos alternativos para controle de doenças e mosca-das-frutas permitem uma melhor entrada dos agricultores no mercado. “Por estarem perto de centros consumidores como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, os produtores mineiros têm enxergado o potencial do mercado das frutas de clima temperado”, diz. Ele observa que aqui, as árvores entram em produção antes das lavouras do Sul do país. Essa oferta antes do ápice da safra gera um bom retorno financeiro. “Mas para que elas cheguem com mais cor e sabor, atendendo o que o consumidor procura, desenvolvemos as pesquisas”, afirma.
Fonte: Estado de Minas
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