Publicado em: 13/08/2014 às 15:20hs
Nem sempre uma boa safra garante altos rendimentos ao agricultor. Um exemplo disso é a produção paranaense de feijão, cujo excesso de oferta e a baixa demanda têm forçado o preço do produto para baixo dos valores mínimos estabelecidos pelo governo federal. No Estado o cenário desfavorável já é denominado por algumas entidades como a crise do feijão.
Segundo Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), desde o início do ano o setor já estava em alerta devido à alta oferta do grão no mercado interno. O excesso, avalia ele, certamente forçou o preço do produto para baixo. O valor do feijão cor em julho, por exemplo, fechou o mês com média de R$ 61,27 a saca, muito abaixo do custo de produção operacional calculado para o Estado em R$ 104/sc, segundo a Faep. No mesmo período de 2013, a saca de feijão era negociada a R$ 153,94.
Loyola explica que no ano passado a situação era inversa, ou seja, baixa oferta e alta demanda pelo grão. "Isso motivou muitos produtores de todo o Brasil a investirem mais na cultura, o que resultou nesta superoferta", justifica o especialista. Segundo ele, nem o preço mínimo, estipulado em R$ 95/sc, deve ajudar muito nesta atual situação de queda de preços. Contudo, salienta que esse recurso pode ser a salvação de muitos produtores de feijão.
O economista da Faep ainda afirma que é necessário a liberação de mais recursos do programa de Aquisições do Governo Federal (AGF), o que ajudaria a equilibrar um pouco o mercado. "Desde o início do ano temos alertado o governo federal sobre essa alta oferta de produção." Além disso, completa Loyola, o governo não está cumprindo com o preço mínimo. Paulo Morceli, superintendente de gestão da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), afirma que já está disponível para os produtores do Estado R$ 11 milhões para compra de feijão este mês. "É só emitirem as notas que a verba será paga aos agricultores", garante.
Morceli avalia que o custo de produção variável, base de cálculo da Conab, está em R$ 68,12/sc, a um preço mínimo de R$ 95/sc. Morceli completa que a Conab utiliza o custo variável e não o total por causa de inúmeros fatores. Um deles a oscilação do valor da terra em determinadas regiões do Brasil, que altera o custo total de produção.
Qualidade
Além da oferta elevada, outro fator que tem contribuído para depreciar ainda mais a saca de feijão é a queda na qualidade do grão em algumas regiões do Estado por causa das chuvas. De acordo com o especialista da Faep há relatos de produtores vendendo uma saca da leguminosa a R$ 30 por causa da má qualidade.
Por ser um produto com validade menor se comparado a outros tipos de grãos, a exemplo do milho e da soja, muitos agricultores são obrigados a esvaziar os armazéns mesmo em tempos de preços baixos. Mesmo assim, completa o especialista, o Paraná ainda possui 165 mil toneladas de feijão para serem comercializadas. "Pedimos aos produtores que notifiquem a Conab sobre a situação", recomenda Loyola. Ele observa que em maio deste ano foram liberados por meio do AGF apenas R$ 2 milhões para o Estado. Em junho R$ 5 milhões e em julho R$ 17,5 milhões.
Produção
Carlos Alberto Salvador, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), explica que somente nesta segunda safra houve um crescimento de 4% em área e 19% em produção se comparado ao mesmo período do ano passado. Com 100% da área colhida, os produtores paranaenses destinaram para o grão neste inverno 275,14 mil hectares e chegaram a colher 403,68 mil toneladas.
Ainda de acordo com dados do Deral, o Paraná corresponde a 24% da produção nacional de feijão, quando somadas as três safras do ano. Na primeira safra, colhida no início deste ano, a produção obteve um incremento de 23% em relação ao primeiro ciclo de 2013. Salvador observa que, no somatório do ano, o Estado deve produzir 21% a mais em 2014 em relação ao ano passado.
Fonte: Folha de Londrina
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