Publicado em: 08/10/2014 às 17:20hs
É da força dos braços e da agilidade das pernas que os pequenos produtores rurais de Prudentópolis, no Centro-Sul do Paraná, se valem para plantar e colher as safras de feijão preto. Cerca de 3 mil lavradores, que vivem principalmente ao norte do município, usam os mesmos tipos de ferramentas empregados por seus avós. E o resultado de seu suor coloca Prudentópolis entre os 10 maiores produtores de feijão do Brasil.
A terra dobrada, que atrai os pequenos produtores pelo preço mais baixo que o da área plana, impede a entrada de maquinário sofisticado. Onde a tecnologia não chega, a velha matraca – usada para semear o grão – é a aliada dos agricultores, que também fazem a colheita manualmente.
José Bodnar, 46 anos, planta feijão preto há décadas numa área de 12 hectares que fica na região de serra próxima à foz do Rio Ivaí. O trator só é usado numa porção de três hectares. No restante da área, que tem topografia acidentada, ele usa matraca. A queima do mato, que prepara a terra para o plantio, deixa restos de tocos na pirambeira. “É um tombo por dia”, resume Bodnar.
José Bodnar usa matraca para plantar a lavoura em declive: rotina antiga e solitária
O plantio da safra das águas começou em agosto e ainda resta um hectare a semear. A colheita ocorre em dezembro. Embora o plantio e a colheita sejam manuais, ele trabalha sozinho e recorre à esposa na época da colheita. As plantas arrancadas, reunidas em montes e levadas para uma área plana para serem batidas ou malhadas para soltarem os grãos. A produção que alcança boa qualidade é separada vendida aos cerealistas.
O preço nem sempre compensa o suor. “Na safra passada pegamos R$ 50, R$ 60 pela saca, mas nem por isso eu diminuí a área para este ano. Aqui sou só eu, a mulher e o piá: dá para viver”, comenta.
Os preços não têm sido atraentes para os produtores. A cotação do feijão preto vem se mantendo perto de R$ 95 na média estadual e de R$ 90 na região de Prudentópolis, segundo a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). E o preço mínimo (que normalmente empata com os custos) é de R$ 105/sc. O quilo do produto sai do campo a R$ 1,5 e chega ao consumidor o dobro mais caro.
Trabalho árduo perpetua modelo de produção
O plantio manual, apesar de ser mais penoso que o mecanizado, é considerado mais barato pelo produtor, que muitas vezes não contabiliza sua mão de obra. O lavrador Pedro Mazur, 38 anos, conta que a matraca custa em média R$ 60 e pode ser usada em até duas safras. Já a locação de trator para uma área plana sai, em média, por R$ 150 por hora, conforme o gerente da Emater de Prudentópolis, Marlon Tiago Hladczuk.
Com a matraca nas mãos, Mazur leva uma semana para plantar dois hectares, área que pode ser percorrida por um trator com plantadeira em poucas horas. Outros fatores como o uso de insumos, normalmente menor nas áreas que dependem de trabalho manual, também são avaliados pelos produtores.
“Calculo que o custo de produção caia uns 20% no plantio manual”, acrescenta Hladczuk. A terra também é mais barata. Conforme a Seab, o hectare da terra mecanizável custa em média R$ 12,4 mil na região de Prudentópolis, enquanto que nas áreas “dobradas”, o preço cai para R$ 5,6 mil.
A produtividade da área montanhosas do Norte de Prudentópolis é compensadora. “Chega a render de 35 a 40 sacas por hectare”, comenta o secretário de Políticas Agrícolas da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Paraná (Fetaep), José Carlos Castilho — ante uma média estadual de 30 sacas por hectare. Ele lembra que a região Centro-Sul do Paraná é a que mais recorre ao plantio manual de grãos por causa da topografia das áreas agrícolas.
Paraná deve recuar 5% na colheita, mas Centro-Sul mostra persistência
A safra das águas vai colocar menos feijão paranaense no mercado, conforme estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). O estado está plantando 206 mil hectares – área 13% inferior à de um ano atrás – e deve colher 384 mil toneladas, 5% a menos. Trata-se da primeira e mais importante das três safras anuais que fazem do Paraná o maior produtor brasileiro de feijão.
De acordo com o engenheiro agrônomo do Deral Carlos Alberto Salvador, a concorrência com a soja e o preço baixo pago na atual safra fizeram muitos produtores diminuírem a área de feijão. Um reflexo pode ser a queda na oferta do alimento no início do ano que vem e, como consequência, o aumento no custo do quilo para o consumidor final.
Neste sentido, o mercado pode ficar vantajoso para o produtor de Prudentópolis, segundo o gerente local da Emater, Marlon Tiago Hladczuk, já que a agricultura familiar não reduziu a área. O município tem 6 mil produtores de feijão, sendo que 85% plantam feijão preto e o restante, de cor. Perto de 50% dos produtores, conforme o secretário municipal de Agricultura, Edegard Pilati Filho, usam o plantio manual do grão.
Pedro Mazur, que usa a matraca para cultivar a área, não sabe em qual mesa vai parar o feijão preto que planta nos seus sete hectares na localidade de Barra Seca. “Eu entrego para o cerealista, a gente não fica sabendo onde é vendido”, diz. Conforme o secretário Pilati, o feijão produzido no município abastece o varejo local e vai para os estados do Sudeste, como Rio de Janeiro e Espirito Santo.
Fonte: Gazeta do Povo
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