Feijão e Pulses

Feijão-caupi conquista mercado internacional

A BRS Guariba, cultivar de feijão-caupi desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte (PI), após oito anos de intensas pesquisas no campo e em laboratório, já responde por 85% das exportações de feijão para o Oriente Médio, Ásia e Europa


Publicado em: 03/09/2014 às 14:50hs

Feijão-caupi conquista mercado internacional

A BRS Guariba, cultivar de feijão-caupi desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte (PI), após oito anos de intensas pesquisas no campo e em laboratório, já responde por 85% das exportações de feijão para o Oriente Médio, Ásia e Europa. A cultivar tem excelentes características comerciais: é de cor branca, tem o formato arredondado, alta produtividade e é rica em proteínas, ferro e zinco. 

Em 2013, o Brasil exportou 24 mil toneladas de feijão-caupi, num total de US$ 16,5 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os maiores compradores foram a Índia e o Egito. Mas o braço exportador brasileiro alcançou também os Emirados Árabes, Arábia Saudita, Irã e Indonésia. Na Europa, Portugal concentra as importações. Para este ano, a previsão é que os números se repitam.

O maior exportador individual de feijão do Brasil, Paulo Henrique Ribeiro de Aguiar, sócio-gerente da Brasil Agropulses, com sede no município de Sorriso, a 420 quilômetros de Cuiabá, no norte mato-grossense, comercializou, no ano passado, 9,5 mil toneladas. Para este ano, ele acredita que vá negociar pelo menos dez mil toneladas. O exportador vende também internamente para as regiões Norte, Nordeste e Sudeste, com destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Paulo Henrique diz que os outros 15% das exportações brasileiras de feijão para o Oriente Médio, Ásia e Europa, foram feitas com a cultivar BRS Novaera, também desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte. Todo o feijão exportado pelo Brasil é produzido no Mato Grosso e sai do País pelo porto de Paranaguá, na região metropolitana de Curitiba.

Conhecido também como feijão-macassa e feijão-de-corda, o caupi é cultivado com destaque nos estados do Ceará, Bahia e Piauí, no Nordeste; e Pará, no Norte. Nas duas regiões, a produção é consumida internamente, sendo base da alimentação das famílias principalmente nas áreas semiáridas do Nordeste. Três países se destacam com 80% das exportações de feijão-caupi: Estados Unidos, Peru e Brasil.

O passo a passo no nascimento de uma cultivar

O desafio para desenvolver a BRS Guariba começou em 1996. O procedimento a que se chegou foi por cruzamento controlado, e fez parte de projeto coordenado pelo geneticista Francisco Freire Filho. O passo seguinte foi instalar, em regime de sequeiro, 23 ensaios de Valor de Cultivo e Uso, no Piauí e Maranhão, onde foram feitos os testes de campo. Neles, uma revelação animadora: a produtividade média atingiu 1,5 toneladas por hectare. À época, na região, a produtividade média de outras variedades alcançava apenas uma tonelada por hectare.

No trabalho diário, que envolveu diretamente mais cinco pesquisadores e dez auxiliares de pesquisa, o geneticista seguia à risca o ritual dos cruzamentos vegetais, seguindo as seguintes etapas: primeira, retirada dos órgãos masculinos da flor; segunda, coleta do pólen na flor masculina e terceira, polinização do botão floral, do qual foram retirados os órgãos masculinos.

Francisco Freire Filho diz que o desenvolvimento de novas cultivares é sempre prazeroso: "As flores do feijão-caupi são perfeitas e, quando elas abrem no início da manhã, geralmente já estão autopolinizadas. Desse modo, a retirada das anteras – órgãos que abrigam os grãos de pólen da flor feminina – é indispensável para a obtenção de cruzamentos controlados. Contudo, as flores do feijão-caupi são relativamente grandes, o que facilita muito o manuseio desses órgãos no processo de polinização controlada".

Em laboratório, a cultivar passou por testes rigorosos de teores de proteína, ferro, zinco e para determinar o tempo médio de cozimento. Os testes revelaram o seguinte perfil nutricional: proteínas, 22,7%: lipídios, 1,0%: fibras digestivas, 24,9%; carboidratos, 47,3%; ferro, 69 mg/kg e zinco, 33 mg/kg. O tempo médio de cozimento atingiu, no máximo, 21 minutos. Aprovada no campo e em laboratório, a BRS Guariba chegou com força ao mercado em 2004.

Mais três cultivares chegam ao mercado em 2015

Até o final do primeiro semestre de 2015, o mercado brasileiro de grãos ganhará mais três cultivares de feijão-caupi: BRS Brancão, BRS Ouroverde e BRS Inhuma, desenvolvidas pela Embrapa Meio-Norte e que serão recomendadas para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

Coordenadora nacional do Programa de Melhoramento Genético do Feijão-Caupi, a Embrapa Meio-Norte trabalha hoje com quatro projetos com foco na tolerância à seca, na biofortificação e na caracterização de germoplasma. Os estudos buscam melhor produtividade das cultivares, resistência a pragas e doenças e boa qualidade comercial do grão. Entre as novidades estão a redução do impacto de doenças que estão surgindo agora, como as nematoides e as bacterianas, e cultivares com foco em tipos comerciais de cores preta, creme e rajada.

 

Fonte: Embrapa Meio-Norte

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