Publicado em: 11/03/2021 às 11:40hs
As usinas do Centro-Sul não deverão repetir na próxima safra (2021/22), que começa em abril, o desempenho produtivo da temporada atual, que deverá terminar como uma das três maiores da história. Após a falta de chuvas em importantes regiões produtoras, a oferta de matéria-prima na região deverá cair - e, assim, afetar a fabricação de açúcar. A boa notícia para as usinas é que isso deverá dar sustentação aos preços da commodity por mais tempo.
Em estimativas divulgadas ontem, a consultoria Datagro prevê redução de 3,8% na oferta de cana para moagem nas usinas do Centro-Sul, de 607 milhões de toneladas esperadas na safra atual para 586 milhões na próxima. Com isso, a produção de açúcar deverá alcançar 36,7 milhões de toneladas, prevê a consultoria.
A redução da moagem ocorre após um verão com chuvas irregulares no Centro-Sul, sobretudo em São Paulo, com precipitações em média 20% abaixo das médias, após uma longa estiagem no ano passado, segundo Bruno Freitas, analista da Datagro.
O cenário não é uniforme para todo o Centro-Sul. Em algumas importantes regiões produtoras, como Ribeirão Preto e Bauru, as chuvas estão 40% e 47% abaixo do esperado, respectivamente. Já em Minas Gerais e Goiás, os volumes de chuvas estão mais favoráveis.
O desenvolvimento da cana ainda deve se aproveitar de umidade suficiente no solo, mas isso dependerá do ritmo do início da moagem, diz Freitas. Além disso, falhas na fase de rebrota, causadas pela escassez de chuvas em 2020, podem afetar a produtividade. A Datagro estima que a concentração de sacarose na cana também deve cair, mas, ainda assim, para patamar historicamente elevado, de 141 quilos por tonelada moída.
A produção de açúcar só não deverá ser mais afetada porque boa parte das exportações do adoçante já estão "contratadas", com fixações de preços fechadas pelas usinas no mercado nos últimos meses para aproveitar a elevada remuneração em reais. Com isso, a consultoria estima que a produção no Centro-Sul cairá 1,8 milhão de toneladas, para 36,7 milhões.
Do total de açúcar que se estima que deve ser exportado, a Datagro avalia que entre 80% e 82% do volume já está com preço travado em patamares historicamente elevados - a média é de R$ 1.480 a tonelada. Por isso, a projeção da consultoria é de que 46,5% da cana vá para a produção de açúcar - acima inclusive do mix do ciclo atual, de 46%.
A consultoria não vê mudança nessa tendência mesmo com a recente valorização do etanol no mercado interno, que já oferece às usinas remuneração mais próxima da do açúcar. Segundo Freitas, a diferença entre a remuneração do etanol hidratado e o açúcar, que chegou a 420 pontos (em centavos de dólar por libra-peso) no início do ano, agora diminuiu para 148 pontos. E o etanol anidro, já superando a remuneração do açúcar, está equivalente a 15,73 centavos de dólar a libra-peso do preço do açúcar posto no Porto de Santos.
A redução da produção do Centro-Sul, ainda que limitada, já será suficiente para diminuir a oferta no mercado internacional. Por isso, a Datagro estimou que o mundo terá nesta safra 2020/21 um déficit de 1 milhão de toneladas.
Já a trading francesa Sucden prevê um superávit "bem pequeno". A projeção considera uma produção de 39 milhões de toneladas de açúcar no Brasil, queda de 10% na produção da Tailândia e aumento na fabricação da Índia, para 31,2 milhões de toneladas, segundo o trader Ulysses Carvalho. Ele avalia que, se caírem, os preços do açúcar não ficarão abaixo dos 15 centavos de dólar a libra-peso "por muito tempo".
Fonte: AGÊNCIA UDOP
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