Cana de Açucar

Estudo da Embrapa revela novas regiões de destaque na produção de cana-de-açúcar e laranja no Brasil

Mapa agropecuário brasileiro passa por reconfiguração desde os anos 2000


Publicado em: 04/11/2025 às 10:20hs

Estudo da Embrapa revela novas regiões de destaque na produção de cana-de-açúcar e laranja no Brasil
Foto: Carlos Ronquim

Um levantamento realizado pela Embrapa Territorial (SP) mostra que o mapa da produção agropecuária brasileira está em transformação. O estudo, baseado em dados da plataforma SITE-MLog, revela que culturas como cana-de-açúcar, laranja, soja e milho vêm apresentando novas dinâmicas territoriais desde o início dos anos 2000, com expansão ou deslocamento de polos produtivos.

Essas mudanças ajudam a entender como o agronegócio nacional se adapta a desafios climáticos, tecnológicos e logísticos, servindo como ferramenta estratégica para o planejamento de infraestrutura, políticas públicas e investimentos privados.

Cana-de-açúcar avança para novas fronteiras agrícolas

Entre as culturas analisadas, a cana-de-açúcar é uma das que mais ampliaram sua área de destaque. Em 2000, as principais microrregiões produtoras — conhecidas como o Grupo 25 (G25), que representava 25% da produção nacional — estavam concentradas em Araraquara, Jaboticabal, Jaú, Ribeirão Preto e São Joaquim da Barra (SP), além de São Miguel dos Campos (AL).

Já em 2023, o cenário mudou: Presidente Prudente (SP), São José do Rio Preto (SP), Sudoeste de Goiás (GO) e Uberaba (MG) passaram a integrar o grupo, substituindo parte das antigas regiões.

Segundo a Embrapa, o volume nacional de cana dobrou entre 2000 e 2023, impulsionado tanto pela expansão para novas áreas quanto pelo crescimento moderado nas regiões tradicionais. Estados como Goiás e Mato Grosso do Sul se consolidaram como novas potências na produção canavieira.

Greening força deslocamento da produção de laranja em São Paulo

A produção de laranja, por sua vez, manteve-se concentrada em São Paulo, mas houve um deslocamento interno no estado. No início dos anos 2000, Araraquara, Jaboticabal e São José do Rio Preto respondiam por 25% da produção nacional. Em 2023, essas áreas perderam espaço para Avaré, Bauru, Botucatu e São João da Boa Vista.

De acordo com o analista André Farias, da Embrapa Territorial, o principal fator por trás dessa mudança é o greening, considerada a pior doença dos citros. “O avanço do greening reduziu a produtividade em regiões tradicionais, levando a migração da produção para novas áreas”, explica.

Apesar da queda na área cultivada, o aumento da produtividade manteve o volume de colheita estável. “O Brasil produz praticamente a mesma quantidade de laranja há 20 anos; o que mudou foi a reorganização geográfica da produção”, destaca Farias.

Soja segue em expansão nacional; milho se concentra no Centro-Oeste

A soja continua a se expandir e diversificar sua presença no território brasileiro. Em 2000, as microrregiões de Parecis (MT), Alto Teles Pires (MT), Barreiras (BA) e Sudoeste de Goiás (GO) concentravam um quarto da produção. Em 2023, novas áreas como Canarana (MT) e Dourados (MS) entraram no grupo.

O avanço da cultura ocorre, em grande parte, sobre pastagens degradadas e em novas fronteiras agrícolas, como o Matopiba, o norte do Mato Grosso, o Pará e o sul do Rio Grande do Sul. “A soja é hoje a cultura de primeira escolha para as safras de verão e continua abrindo novas frentes de expansão”, afirma Farias.

O milho, ao contrário, seguiu caminho oposto: concentrou-se ainda mais. Em 2000, 13 microrregiões respondiam por 25% da produção. Em 2023, esse grupo se reduziu para quatro regiões do Centro-Oeste — Alto Teles Pires (MT), Sinop (MT), Sudoeste de Goiás (GO) e Dourados (MS).

Essa concentração está ligada ao fortalecimento do milho segunda safra, cultivado após a soja. “O milho safrinha se consolidou como uma alternativa econômica viável, especialmente no Mato Grosso, onde as condições climáticas favorecem altos rendimentos”, ressalta o analista.

Algodão mantém alta concentração em Mato Grosso

Entre todas as culturas analisadas, nenhuma é tão concentrada quanto o algodão. Em 2023, a microrregião de Parecis (MT) respondeu sozinha por 25% da produção nacional — um cenário que já indicava forte concentração desde 2020, quando Primavera do Leste e Rondonópolis (MT) também faziam parte do grupo.

Segundo a Embrapa, essa especialização regional reflete ganhos de escala e infraestrutura, mas também impõe desafios logísticos e ambientais, exigindo planejamento territorial integrado.

Mudanças impactam logística e exigem adaptação regional

O deslocamento e a concentração das culturas agrícolas trazem impactos diretos à logística e à economia regional. “Quando uma atividade agropecuária perde força em determinada região, há efeitos socioeconômicos relevantes, exigindo políticas de adaptação”, explica Farias.

Ele ressalta que novas áreas produtivas também demandam infraestrutura de armazenagem, transporte, serviços técnicos, controle fitossanitário e crédito rural. “Sem coordenação, gargalos logísticos e operacionais tendem a reduzir os ganhos produtivos”, alerta o analista.

O chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, complementa que os conceitos de Inteligência Territorial Estratégica (ITE) ajudam a antecipar essas tendências, oferecendo suporte para decisões mais sustentáveis no campo.

SITE-MLog: ferramenta estratégica para o agronegócio

Criado em 2018 e atualizado em 2024, o Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária (SITE-MLog) é uma plataforma interativa da Embrapa que organiza dados sobre produção, exportação e infraestrutura logística de dez cadeias produtivas: algodão, bovinos, café, cana-de-açúcar, galináceos, laranja, madeira, milho, soja e suínos.

O sistema — gratuito e disponível no Portal da Embrapa — permite gerar mapas, gráficos e análises espaciais a partir de informações oficiais, apoiando tanto o setor público quanto o privado no planejamento e na tomada de decisões estratégicas.

A versão mais recente introduziu o conceito de “bacias logísticas”, que identifica os portos utilizados para exportação de grãos por cada microrregião. Também passou a estimar, de forma inédita, a demanda e oferta de nutrientes agrícolas com base em indicadores científicos.

Mais do que um banco de dados, o SITE-MLog transforma informações dispersas em inteligência territorial aplicada, tornando-se uma das principais ferramentas de suporte à macrologística e sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

Fonte: Portal do Agronegócio

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