Publicado em: 24/09/2025 às 10:10hs
A agropecuária brasileira apresenta forte concentração geográfica em diversas cadeias produtivas. Apenas três microrregiões — Parecis e Alto Teles Pires (Mato Grosso) e Barreiras (Bahia) — foram responsáveis por metade da produção nacional de algodão em 2023. Essa realidade se repete em outras culturas estratégicas, como laranja, café, eucalipto, milho e soja, além de cadeias de proteínas animais como suínos e aves【Fonte: Embrapa Territorial】.
A laranja é um exemplo clássico de concentração. O estado de São Paulo domina a produção, e dentro dele poucas microrregiões se destacam. Avaré, Bauru, Botucatu e São João da Boa Vista somaram, sozinhas, um quarto da colheita nacional em 2023.
Entre as cadeias animais, a bovinocultura é a menos concentrada. Para alcançar metade da produção nacional, é necessário reunir 56 microrregiões espalhadas por todas as regiões do país. O Norte tem papel importante, com destaque para Pará, Rondônia e Tocantins. Já a produção de frangos e suínos se concentra fortemente no Sul, sobretudo em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Segundo André Rodrigo Farias, analista da Embrapa Territorial, a concentração varia de acordo com as exigências de cada atividade. Culturas como o algodão dependem de maquinário e infraestrutura específicos, exigindo altos investimentos e limitando a expansão para áreas mais competitivas.
No caso de aves e suínos, fatores históricos e culturais têm grande peso. A colonização do Sul do país e a forte presença da agricultura familiar, organizada em cooperativas, ajudaram a consolidar a região como polo dessas cadeias produtivas. Já a pecuária bovina, por ser menos dependente de tecnologia avançada, mantém presença mais distribuída pelo território.
O café e o eucalipto, por serem culturas perenes e dependentes de condições climáticas e de solo específicas, também se concentram em polos. No caso do eucalipto, três microrregiões — Três Lagoas (MS), Bauru (SP) e Porto Seguro (BA) — responderam por um quarto da produção nacional em 2023. O café é liderado por Minas Gerais, mas também apresenta polos em estados como Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Rondônia.
A cana-de-açúcar, historicamente concentrada em São Paulo, expandiu-se para regiões próximas em Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Em 2023, 20 microrregiões produziram quase 400 milhões de toneladas destinadas a açúcar e etanol.
Já soja e milho, embora cultivados em praticamente todo o território nacional, têm sua produção mais concentrada no Centro-Oeste. Quatro microrregiões — Alto Teles Pires (MT), Dourados (MS), Sinop (MT) e Sudoeste de Goiás (GO) — responderam por um quarto da produção de milho. A soja, por sua vez, teve seis microrregiões responsáveis por 25% da colheita nacional.
A análise da Embrapa mostra que a concentração produtiva tem efeito direto na logística. Para cadeias muito concentradas, como laranja e café, o desafio está em tornar mais eficientes rotas já consolidadas, principalmente pelo porto de Santos (SP). No caso de soja e milho, a produção dispersa gera disputa entre diferentes modais de transporte e portos de exportação, além de demandar maior infraestrutura de armazenagem.
Esses dados fazem parte do SITE-MLog (Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária), desenvolvido pela Embrapa Territorial. A plataforma gratuita permite a visualização geoespacial da produção e exportação de dez cadeias do agronegócio, além de informações sobre logística e infraestrutura.
Lançada em 2018 e atualizada em 2024, a ferramenta apoia gestores públicos, pesquisadores e investidores na formulação de políticas públicas, no planejamento de obras e em decisões estratégicas para o setor.
Fonte: Portal do Agronegócio
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