Publicado em: 29/04/2024 às 15:30hs
Com a perspectiva de aumento da demanda por biocombustíveis no Brasil, o agronegócio se prepara para enfrentar desafios ambientais significativos. Para atender ao crescente mercado, é necessário expandir as áreas de plantio, mas sem causar mais danos ambientais. A solução? Plantar em áreas já degradadas, uma aposta estratégica para minimizar o impacto ecológico.
Esse aumento na demanda é impulsionado pelo Projeto de Lei (PL) dos "Combustíveis do Futuro", aprovado pela Câmara dos Deputados e atualmente em tramitação no Senado. O PL prevê uma maior mistura de etanol na gasolina, passando de 27,5% para 35%, e também uma elevação progressiva do biodiesel no diesel, que deve atingir 20% até 2030, podendo chegar a 25%. Como resultado, a pressão sobre a produção agrícola para atender a essa demanda também aumentará.
Além disso, a necessidade de produzir mais alimentos também é um fator determinante. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil será responsável por 40% da produção mundial de alimentos até 2050, o que exigirá uma expansão significativa das áreas agrícolas.
Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), publicado em fevereiro, indica a existência de cerca de 28 milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser convertidas em terras agrícolas. Esse número representa um aumento de aproximadamente 35% na área total plantada em relação à safra 2022/2023. Para garantir que a expansão não cause desmatamento, a legislação brasileira, como o Cadastro Ambiental Rural, oferece mecanismos para monitorar e controlar as propriedades.
Contudo, Ricardo Fujii, especialista em conservação do WWF-Brasil, adverte que a fiscalização precisa ser intensificada para garantir o cumprimento das leis ambientais. Ele também sugere a necessidade de endurecimento das penalidades para coibir a ilegalidade. Fujii afirma que programas de crédito, como o Plano Safra, poderiam ser mais rigorosos para garantir que apenas produtores com cadastro regular tenham acesso aos recursos.
Para o setor de biodiesel, a pressão recai principalmente sobre o cultivo de soja. Embora outros óleos vegetais e o sebo bovino possam ser usados, cerca de 70% do biodiesel brasileiro é produzido a partir do óleo de soja, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Daniel Amaral, diretor de economia e assuntos regulatórios da Abiove, afirma que o desafio não é a falta de soja, mas sim a capacidade de processá-la. Ele acredita que, com investimentos na capacidade de processamento, o Brasil pode atender a demanda por biodiesel sem problemas.
Para o etanol, a safra 2023/24 deve ultrapassar 34 bilhões de litros, com a maior parte proveniente da cana-de-açúcar, mas com uma crescente participação do milho. A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) estima que a produção de etanol de milho pode aumentar em 1,4 bilhão de litros, alcançando 7,7 bilhões de litros, o que seria suficiente para atender à demanda proposta pelo PL.
Para Marilda Rosado, sócia do escritório Rennó, Penteado, Sampaio Advogados, a produção de milho e soja no Brasil é altamente tecnológica. No Centro-Oeste, por exemplo, o milho é frequentemente plantado como segunda safra após a soja, uma estratégia que pode ajudar a atender à crescente demanda por biocombustíveis.
Com esse movimento, o agronegócio brasileiro busca equilibrar crescimento com responsabilidade ambiental, utilizando áreas já degradadas para aumentar a produção de biocombustíveis, evitando desmatamentos e reforçando a sustentabilidade.
Fonte: Portal do Agronegócio
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