Publicado em: 30/06/2025 às 10:10hs
A combinação entre produção limitada e demanda aquecida mantém os estoques de café do Brasil em níveis historicamente baixos. Segundo o analista de café da StoneX, Fernando Maximiliano, a safra brasileira de 2025 — somando arábica e conilon — será insuficiente para encerrar o ciclo com sobras significativas. “De forma geral, a produção não permitirá estoques de passagem confortáveis no final da temporada”, afirma.
Desde a safra 2020/21, o Brasil não consegue superar a marca de 60 milhões de sacas colhidas, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com a produção estagnada e a demanda global firme, os estoques foram se reduzindo progressivamente ao longo dos últimos cinco anos.
Mesmo sem uma safra expressiva em 2024, o Brasil bateu recordes de exportação, com embarques superiores a 50 milhões de sacas. Maximiliano aponta fatores que explicam esse desempenho: os altos preços internacionais e a antecipação do fim do Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (Recof/UDR), que levou a Europa a reforçar seus estoques. “Chegamos ao primeiro trimestre de 2025 com os estoques em níveis ainda mais baixos, e não há expectativa de que isso mude”, alerta.
Relatório recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima a safra brasileira 2025/26 em 65 milhões de sacas, sendo 40,9 milhões de arábica e 24,1 milhões de robusta. Mesmo assim, o estoque de passagem deve ficar em apenas 1,7 milhão de sacas. O analista Marcelo Moreira, da Archer Consulting, destaca que, de acordo com essas previsões, o volume que restará da safra 24/25 será de apenas 640 mil sacas — quantidade insuficiente até mesmo para um mês do consumo interno.
Com a entrada da nova safra no mercado, os preços do café vêm apresentando quedas acentuadas. Isso reduziu o interesse dos compradores pela recomposição dos estoques, como explica o analista e consultor Lúcio Dias. “Com o início do verão na Europa, América do Norte e Ásia, os compradores preferem consumir o que têm armazenado do que adquirir café nos níveis atuais de preço”, observa.
O analista Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, aponta que o estoque disponível no mercado está, na prática, esgotado. “Quem guardou café quando os preços estavam altos no início do ano não quer vender agora, diante da desvalorização. No ano passado, chegamos a março com escassez, e isso deve se repetir”, afirma. Ele também lembra que as expectativas já estão voltadas para a safra de 2026, mas que ainda é cedo para projeções concretas. “Mesmo que tenhamos uma boa colheita, dificilmente conseguiremos formar estoques confortáveis no curto prazo.”
Carvalhaes ainda destaca que esse cenário não é exclusivo do Brasil, afetando também a América Central, a Colômbia e outros países produtores. “Vamos continuar dependendo da produção anual para atender à demanda, sem margem de segurança.”
Apesar da escassez, o Conselho Nacional do Café (CNC) garante que não haverá falta de produto no mercado brasileiro. Mesmo com os estoques remanescentes em patamares mínimos, o setor mantém a confiança na capacidade de suprimento da cadeia produtiva.
A safra de 2025 confirma uma tendência de aperto nos estoques de café no Brasil, pressionando o mercado e exigindo atenção dos produtores, exportadores e compradores. A formação de estoques confortáveis segue como um desafio para o setor no curto e médio prazo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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