Publicado em: 07/10/2025 às 20:00hs
Os exportadores brasileiros de café enfrentam prejuízos recorrentes devido à defasagem da infraestrutura portuária e aos gargalos logísticos. Em agosto de 2025, o setor acumulou perdas de R$ 5,9 milhões com armazenagem adicional, pré-stacking e detentions, motivadas pelo não embarque de 624.766 sacas, equivalente a 1.893 contêineres, segundo levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
O impacto financeiro vai além dos custos diretos: o país deixou de receber US$ 221,28 milhões (R$ 1,205 bilhão) em receita cambial apenas no mês passado, considerando o preço médio FOB de US$ 354,18 por saca e a cotação média do dólar de R$ 5,4463.
Para Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, o problema tende a se agravar caso não haja ampliação de capacidade e modernização nos portos brasileiros. “O agronegócio cresce rapidamente, mas a infraestrutura portuária não acompanha esse ritmo, gerando prejuízos constantes, especialmente para cargas que dependem de contêineres”, explica.
Segundo Heron, os portos estão saturados, com atrasos frequentes nas embarcações, e os investimentos em pátios e berços são urgentes para evitar perdas maiores.
O Cecafé vem articulando ações junto a governo, parlamentares e entidades do setor para reduzir os entraves logísticos. Entre os avanços, destaca-se a atuação junto ao deputado federal Arthur Maia, relator do Projeto de Lei (PL) 733/2025, que propõe um novo marco regulatório para o Sistema Portuário Brasileiro.
A entidade defende manutenção da modicidade e publicidade das tarifas, bem como participação equilibrada dos usuários de carga no Conselho de Autoridade Portuária (CAP), discutindo temas como dragagem, poligonais e integração com diversos modais (ferrovias, hidrovias e rodovias).
Em paralelo, foi protocolado pedido de audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados, para debater os impactos do esgotamento da infraestrutura portuária e acelerar o leilão do Tecon Santos 10.
Heron ressaltou que restrições impostas pelo colegiado da ANTAQ no processo do leilão podem levar à judicialização e atrasar a oferta de capacidade no Porto de Santos, maior embarcador de café do país. Segundo ele, a posição do CADE favorece a remoção dessas limitações, garantindo maior participação de empresas e evitando concentrar o mercado.
A meta do Cecafé é unir esforços com outras entidades para garantir celeridade no processo e reduzir os prejuízos causados por atrasos e gargalos logísticos.
O Boletim Detention Zero (DTZ), produzido pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, apontou que 50% dos navios (168 de 335) sofreram atrasos ou alterações de escalas nos principais portos brasileiros em agosto.
No Porto de Santos, responsável por 80,2% dos embarques de café de janeiro a agosto de 2025, 67% dos navios registraram atraso ou alteração de escala, sendo que o tempo máximo de espera foi de 47 dias. Quanto aos procedimentos de embarque, apenas 4% ultrapassaram quatro dias de gate aberto; 59% ficaram entre três e quatro dias, e 38% abaixo de dois dias.
No Porto do Rio de Janeiro, segundo maior exportador com 15,8% de participação, 38% dos navios sofreram atrasos, com o maior intervalo entre deadlines chegando a 36 dias. Entre os procedimentos de embarque, 44% tiveram mais de quatro dias de gate aberto, 37% entre três e quatro dias, e 19% menos de dois dias.
Fonte: Portal do Agronegócio
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