Publicado em: 24/09/2014 às 14:50hs
Segundo os últimos dados, o Brasil é o segundo maior exportador de café para a Rússia, cedendo o primeiro lugar ao Vietnã. Mas de acordo com os produtores brasileiros, a demanda russa tende cada vez mais a preferir o café brasileiro. Mais do que isso: o café gourmet brasileiro.
Durante a feira internacional de alimentos World Food Expo Moscow 2014, a Voz da Rússia conversou com Vanusia Nogueira (foto: Voz da Rússia/Vladimir Kultygin), diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês). Segundo dela, os russos ainda têm um hábito muito forte de consumo de café solúvel. Mas atualmente, a tendência visa cada vez mais a favorecer o café arábica.
“Nós somos o maior produtor e exportador de cafés no mundo. Para a Rússia, exportamos muito café solúvel. A Rússia ainda não é um grande importador de cafés gourmets brasileiros, mas nós vemos no mercado russo um potencial muito grande para a exportação de cafés mais finos, principalmente para fazer o expresso. Eu acredito que isso tenha muito a ver com o fato de a relação aqui ser cada vez maior com a Suécia, a Noruega, onde tomam cafés muito finos, e, de outro lado, com Vladivostok, que está muito próximo ao Japão, que também tem o hábito de consumo de cafés muito finos. Eu acho que, à medida que a população russa tiver mais contato com esses mercados, vai experimentando o café mais fino, mais voltado ao expresso, não só o solúvel, e trarão isso para dentro do país”.
A BSCA participa nesta semana de três eventos em Moscou e em Vladivostok, dois pontos de entrada do hábito bom do café saboroso. Várias cafeterias e restaurantes russos já usam as variedades brasileiras. E, em lojas especializadas, é comum encontrar pelo menos uma ou duas opções do café brasileiro. O potencial russo demonstra uma tendência de crescimento, acredita Nogueira. “O comércio está aumentando e é assim que acontece no mundo inteiro. Foi isso que o Brasil viu no Japão nos anos 70, na Coreia do Sul e na Austrália na década passada e, nesse momento, a gente vê acontecendo na Rússia e na China”.
A mudança de hábitos significa certa mudança de cultura. O café fino, como o vinho bom, não é para se tomar e esquecer, é para saborear. Os consumidores aceitam cada vez mais apreciar o sabor fresco e real de um produto que ainda guarda a sua conexão à natureza, diz Vanusia Nogueira. "Vocês são os maiores consumidores do café solúvel do mundo, o que mostra que o russo gosta muito de café. Agora, sobe o hábito do café expresso. É um café mais fresco. O café solúvel foi industrializado há mais de um ano e o expresso é um café que foi colhido neste mês e torrado na semana passada, por isso tem muito mais aroma, muito mais sabor. Todos esses atributos estão mais presentes".
No entanto, no Brasil se consome mais o café filtrado. O stand brasileiro montado na exposição dava esta possibilidade também aos visitantes. O expresso é consumido no país, segundo Nogueira, principalmente em restaurantes e cafés.
Comentando as recentes pesquisas relacionadas ao sequenciamento do genoma do cafeeiro, ela sublinhou que isso pode trazer mais inovações à indústria e até fazer a produção mais sustentável.
“O objetivo do sequenciamento do genoma é definir a questão de melhoria de genomas para se ter uma variedade mais resistente a pragas e doenças, para usar menos agroquímicos na produção, para que a produção seja mais ambientalmente sustentável e também para a melhoria do café. Eu acho que a gente pode chamar isso de supercafé, mesmo. Mas estão procurando principalmente a questão de resistência a pragas para tornar os arábicas mais resistentes e de qualidade para as regiões brasileiras. Porque nem todo o café se produz da mesma forma em todos os locais, depende muito da região, do clima, das doenças presentes naquele meio ambiente. Recentemente, houve o problema de ferrugem, principalmente na América Central, e a gente tinha muita preocupação de aquela ferrugem chegar no Brasil. Mas parou no Peru e não chegou no Brasil, porque as variedades que são produzidas no nosso país já foram desenvolvidas com resistência à ferrugem. Hoje, o pessoal fala muito de uma variedade de arábica que se chama Geisha, no Panamá. O Geisha não se consegue produzir no Brasil, porque ele precisa de temperaturas muito mais baixas. E a gente vai medindo as temperaturas em várias regiões do Brasil, procurando regiões com temperaturas tão baixas que o Gueisha goste, mas nós temos o problema de geada durante o inverno”.
Porém, hoje em dia, a exportação do café brasileiro não experimenta a melhor época. O percentual dos volumes de exportação diminuiu para 2%-5% do volume total das exportações brasileiras. A diretora executiva da BSCA lamenta esta redução, devida, segundo ela, ao excessivo apoio estatal a outros itens de exportação mais prestigiados, como a carne. Mas o mercado russo, por agora, se mostra bastante prometedor e talvez possa levar a indústria a demonstrar de novo a importância do produto nacional.
Fonte: Voz da Rússia
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