Publicado em: 02/10/2025 às 20:00hs
O consumo global de café robusta segue em expansão, impulsionado especialmente por mercados emergentes e pelo aumento do consumo fora de casa. Bebidas prontas, cafés gelados e solúveis vêm ganhando espaço, favorecendo o grão conhecido por seu sabor intenso. Além disso, o café instantâneo está isento do regulamento europeu contra produtos associados ao desmatamento (EUDR), o que deve ampliar ainda mais a procura por formatos à base de robusta nos próximos anos.
Com uma cadeia de suprimentos estruturada e sistemas de rastreabilidade capazes de atender às exigências da União Europeia, o Brasil se posiciona como forte candidato a assumir a liderança mundial na produção de robusta, hoje ocupada pelo Vietnã. Segundo a Embrapa, o país conta com cerca de 28 milhões de hectares de pastagens degradadas aptas para a produção agrícola, o que possibilita ampliar a área plantada sem necessidade de desmatamento.
O maior entrave para o crescimento da produção, entretanto, é o clima. Nos últimos 50 anos, as principais regiões cafeeiras registraram aumento médio de 1,3°C a 1,6°C nas temperaturas máximas e redução das chuvas entre 93 mm e 211 mm. Ondas de calor, secas prolongadas e chuvas irregulares afetam diretamente a produtividade, colocando o clima como o maior limitador do setor.
Enquanto o café arábica sofre com temperaturas acima de 24°C e períodos de estiagem, o robusta – ou conilon, como é conhecido no Brasil – apresenta maior resistência ao calor, à seca e a doenças. Essa adaptabilidade tem permitido expansão da produção em estados como Espírito Santo, Rondônia e Bahia, além de ganhos de produtividade.
Para enfrentar a instabilidade climática, produtores brasileiros têm investido fortemente em irrigação. Hoje, cerca de 71% da área plantada com robusta já utiliza sistemas como gotejamento e microaspersão. O Atlas da Irrigação indica que a área irrigada pode saltar de 280 mil hectares para quase 364 mil até 2040, especialmente em regiões como Mato Grosso, onde há alto potencial para expansão.
Apesar da boa rentabilidade, os custos para iniciar uma lavoura de robusta são elevados. Estimativas apontam que o investimento inicial pode chegar a R$ 83,8 mil por hectare, considerando mudas, irrigação, maquinário e infraestrutura. O prazo de retorno, entretanto, é relativamente curto: cerca de quatro anos, segundo cálculos da Conab e do Cepea.
A possibilidade de expansão em áreas de pastagens degradadas coloca o Brasil em vantagem competitiva frente a países onde a produção ainda está associada a desmatamento. Essa estratégia fortalece a imagem do país como fornecedor sustentável e confiável, em sintonia com as exigências de consumidores e importadores internacionais.
Mesmo diante de desafios como custos crescentes, volatilidade de preços e incertezas geopolíticas, o robusta brasileiro está bem posicionado para crescer. O avanço em irrigação, pesquisa de novas variedades e rastreabilidade deve consolidar o país como referência mundial nesse segmento, enquanto a indústria nacional de café solúvel ganha fôlego para atender à demanda crescente.
Fonte: Portal do Agronegócio
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