Publicado em: 08/08/2025 às 11:00hs
No mercado físico brasileiro, a comercialização do café está desacelerada. Os produtores adotam uma postura cautelosa diante de um cenário marcado por incertezas políticas, comerciais e flutuações repentinas nas bolsas de Nova Iorque e Londres. Mesmo com a entrada da safra 2025/26 no mercado, a falta de previsibilidade tem dificultado o fechamento de novos negócios.
Segundo levantamento da consultoria Safras & Mercado, no início de julho, apenas 31% da safra 2025/26 havia sido negociada, um índice inferior à média dos últimos cinco anos para o mesmo período, refletindo a retração dos cafeicultores.
Após os altos preços da safra 2024/25, os cafeicultores estão mais capitalizados, reduzindo a necessidade de vendas imediatas, conforme analisa Daniel Pinhata, analista da Datagro. Essa cautela é reforçada pela recente queda nas cotações internacionais, expectativa de possíveis recuperações nos preços e aumento das incertezas políticas no Brasil.
O especialista destaca que o clima, especialmente no período da florada entre setembro e outubro, será determinante para os preços futuros e o potencial produtivo da safra 2026/27. Embora os modelos climáticos indiquem condições próximas à normalidade, qualquer deterioração pode provocar alta nos preços, em função dos estoques globais ainda baixos e da demanda relativamente inelástica. Isso deve incentivar os produtores a adiar ainda mais as vendas.
Outro fator que trava as negociações são os preços praticados no mercado interno. Marcelo Moreira, analista da Archer Consulting, ressalta que no início do ano a saca do arábica chegou a ser vendida entre R$ 2.500 e R$ 3.000, enquanto a do robusta alcançou cerca de R$ 2.000. Atualmente, muitos produtores vendem apenas o necessário para cobrir custos imediatos, aguardando valorização, sobretudo após quebras de safra entre 15% e 30% em algumas regiões produtoras.
A imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos importados do Brasil, que não isentou o café como esperado pelo setor, tem causado apreensão. A medida impacta diretamente a comercialização e tem levado importadores americanos a suspenderem negociações até que haja uma definição nas relações comerciais entre os países.
Apesar da cautela no mercado físico, os preços do café registraram fortes ganhos nas bolsas internacionais na manhã desta sexta-feira. Por volta das 9h20 (horário de Brasília), o café arábica subiu cerca de 2% nos principais contratos futuros, com o vencimento de setembro/25 chegando a 307,35 cents/lbp. O robusta também avançou, registrando alta significativa nos contratos para setembro, novembro e janeiro próximos.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior indicam que as exportações brasileiras de café não torrado em julho caíram 20,4% em relação ao ano anterior. O volume menor de embarques do Brasil, somado a estoques historicamente baixos e clima irregular nas regiões produtoras, pressiona o mercado internacional. A taxa americana sobre o café brasileiro desorganiza ainda mais o setor global, conforme alerta o Boletim do Escritório Carvalhaes.
O analista Daniel Pinhata acredita que uma retomada mais expressiva das comercializações deve ocorrer somente após projeções mais seguras sobre a florada brasileira e a redução das incertezas nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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