Publicado em: 23/10/2024 às 18:00hs
O intercâmbio comercial entre a China e Minas Gerais tem se intensificado, principalmente através da exportação do café, um dos principais produtos do estado. De acordo com dados recentes, entre 2019 e 2023, as exportações do grão para o país asiático cresceram mais de 1.120% em receita e 780% em volume. As vendas saltaram de US$ 20,5 milhões e 135 mil sacas em 2019 para impressionantes US$ 250 milhões e 1,2 milhão de sacas em 2023. Esse aumento no volume de exportações também reflete a valorização do preço da saca de café, que cresceu 40% nos últimos cinco anos, evidenciando a aceitação do café mineiro no mercado chinês.
Para cafeicultores como Allan Botrel, da Fazenda Monjolo, localizada em Três Pontas, essa ascensão é promissora. Com uma tradição familiar de cinco gerações na produção de café, Allan se envolve em todos os aspectos da cadeia produtiva e, atualmente, além de gerir a fazenda, atua na área de exportação da Cooperativa dos Produtores de Cafés Especiais Santo Antônio Estate Coffee Ltda (Sancoffee). Desde 2017, a Fazenda Monjolo tem exportado café, e embora o mercado chinês ainda não seja o principal destino das suas vendas, o crescimento tem sido notável. Para Allan, a rastreabilidade e a associação com práticas sustentáveis são diferenciais que tornam o café mineiro atrativo no exterior. “Esses fatores são altamente demandados por esses mercados e representam uma oportunidade de agregar valor. Programas estaduais, como o Certifica Minas, são fundamentais para garantir a adequação das propriedades, proporcionando maior segurança ao produtor e confiança aos consumidores”, analisa.
A importância da certificação é ressaltada por Lívia Martinez, extensionista agropecuária da Emater-MG em Três Pontas. Segundo ela, a primeira pergunta que o cafeicultor deve fazer ao considerar a exportação é sobre quem pode auxiliar nesse processo, sendo crucial contar com traders, cooperativas e assistência técnica. Para garantir a exportação, é essencial que o café atenda às normas de segurança fitossanitária e tenha a devida identificação de origem. “O programa Certifica Minas Café é um suporte importante para agricultores que desejam alcançar esse nível de excelência. Ele promove a competitividade e permite que pequenos produtores e agricultores familiares consigam agregar valor em todo o ciclo produtivo. O diagnóstico inicial das propriedades visa orientá-los a se adequar às legislações vigentes, abrangendo práticas que vão desde o cuidado ambiental até a saúde dos agricultores e suas famílias”, explica Lívia.
Para Thales Fernandes, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o reconhecimento da qualidade do café mineiro no vasto mercado chinês é uma oportunidade de expansão comercial. “Esses números expressivos para o café demonstram que temos qualidade, infraestrutura e segurança para atender a outras demandas alimentares no cenário global. É um resultado do compromisso dos produtores e do trabalho sério do Governo de Minas em apoiá-los em todas as etapas do processo”, avalia.
Embora a China tenha sempre importado café de Minas Gerais, a demanda começou a crescer acentuadamente a partir de 2018, com um salto considerável após a pandemia. Em 2019, o país ocupava a 21ª posição entre os destinos das exportações mineiras de café, avançando para a 8ª posição em 2023. O desempenho das exportações para a China continua forte em 2024, com receita de US$ 134 milhões e 627 mil sacas enviadas entre janeiro e setembro, representando aumentos de 35% no valor e 23% na quantidade em relação ao ano anterior, conforme revela Manoela Oliveira, assessora técnica da Superintendência de Inovação e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O aumento no consumo de café na China também é impulsionado por um fenômeno cultural. O café, tradicionalmente eclipsado pelo chá, tem conquistado espaço, especialmente entre os jovens, incluindo muitas mulheres que trazem consigo o hábito de consumir café de outros países. Atualmente, estima-se que cerca de 330 milhões de pessoas na China consomem café, conforme dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Essa crescente demanda ficou evidente com o acordo firmado entre o Brasil e a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee, que se comprometeu a adquirir aproximadamente 120 mil toneladas de café brasileiro, totalizando cerca de US$ 500 milhões. A empresa, que possui mais de 16 mil lojas na China, também se comprometeu a promover e comercializar ativamente o café brasileiro entre seus clientes e parceiros.
Fonte: Portal do Agronegócio
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