Publicado em: 06/11/2013 às 09:10hs
Colonizado por imigrantes italianos, o Vale do Tabocas, no município de Santa Teresa, se destaca pelo cultivo do café e da uva. Na localidade, a família do senhor Luiz Carlos Batisti (foto ao lado) cultiva as duas culturas agrícolas. Desde 1952 moram no local, descendentes dos italianos que migraram para a região serrana capixaba. O jeito simples e dedicado que Batisti trabalha com sua lavoura de café não omite o interesse pela qualidade e resultados do seu esforço. Os grãos cultivados pelo produtor foram exportados recentemente para Cuba. A negociação foi realizada pela Cooperativa Agropecuária Centro-Serrana (Coopeavi), selecionada pelo governo cubano, para ofertar o produto. A primeira entrega, realizada em maio, foi de 7.800 sacas e beneficiou cerca de 50 famílias de agricultores. Em agosto, a cooperativa enviou mais 12.600 sacas. Para fornecer o café, a Coopeavi participou de um processo de seleção organizado pelo governo cubano que incluiu cinco cooperativas. Três foram aprovadas pela CubaCafé, estatal
cubana responsável pela torrefação e distribuição do café no país. A Coopeavi foi a escolhida por dispor de maior quantidade, melhor infraestrutura e ter experiência na exportação do produto.
A conquista desse novo mercado só foi possível graças ao processo de produção adotado no campo pelos cafeicultores visando a qualidade superior do grão. Em seus seis hectares de café, sendo cinco de arábica e um de Conilon, Luiz Carlos procura manter todo processo de cultivo e beneficiamento dentro dos padrões. “Sigo as orientações técnicas”, resume seu sucesso na produção. Um dos diferenciais é no momento de beneficiar o grão. O café cereja descascado é mais valorizado no mercado devido a qualidade superior. “Recebi R$ 50,00 a mais na saca desse café”, diz Batisti.
Em São Domingos do Norte, a busca pela qualidade também é constante na propriedade do Isaac Venturim. Na terceira geração de produtores de café, o jovem investe na atividade unindo tradição e inovação. “É uma mistura de sangue e gestão. O café está em nossas veias e a condução da atividade deve ser de forma empresarial”, diz. Após estudos com renovação da lavoura e adoção de técnicas de cultivo, o produtor começou a trabalhar na propriedade, mas foi através de um projeto de assistência técnica gerencial que a produção deu um salto. Com o programa Educampo, uma parceria da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel) e o Serviço Nacional de Apoio as Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), Isaac Venturim e um grupo de produtores conseguiram avançar na gestão, reduzindo custos e aumentando produtividade das lavouras. “Melhoramos vários processos e chegou num ponto que faltava a qualidade”, lembra. Foi aí que resolveram dar mais um passo e apostar no café cereja descascado.
Com estrutura de beneficiamento adequada e orientações profissionais (veja abaixo o passo a passo), o produtor passou a buscar esse mercado diferenciado. Hoje, o cafeicultor consegue produzir 82% do seu café sendo ‘cereja descascado’. Para o produtor, o mercado caminha para esse sentido. “Tirando o investimento com a estrutura de máquinas, não custa mais caro produzir esse tipo de café. O preço é o mesmo. E você vai investir em um novo mercado”, destaca Isaac Venturim. O exemplo veio na última safra. Com a queda na produção estadual devido as condições de clima, o bônus de 16%, na média, que conseguiu com o café superior ajudou a reduzir os impactos da produção menor do que a esperada na colheita.
Além da exportação para Cuba, a Coopeavi também fechou acordo para exportação de 200 toneladas do grão para Itália, mais precisamente para o Porto de Gênova. Essa venda beneficia cerca de 130 famílias da região serrana do Espírito Santo. Antes do embarque, em ambas as negociações, o café foi processado com o objetivo de eliminar defeitos para alcançar os padrões exigidos pelo importador, sendo separados e ensacados somente os grãos de boa qualidade. Esses lotes de café são adquiridos com diferentes padrões de qualidade. Na unidade de armazenamento, com o acompanhamento de profissionais qualificados, os grãos são processados para chegar aos padrões comercializados.
A iniciativa da Coopeavi de fomentar o mercado externo do café conilon, de acordo com João Elvídio, gerente de mercado de café da cooperativa, é, além de abrir novas oportunidades, tentar dar sustentabilidade aos preços internamente, já que as indústrias brasileiras ficam avaliando a quantidade de café produzido no país. “Em 2011, sabendo que Cuba estava fazendo uma grande importação do Conilon brasileiro, começamos o contato com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Em 2012, os cubanos visitaram cinco cooperativas no país e viram que a Coopeavi atendia nos quesitos de quantidade, infraestrutura, qualidade e experiência na exportação do produto. Com isso, fomos credenciados para essa exportação e, em 2013, fechamos o primeiro negócio”, relata Elvídio. Em seguida, o negócio com os italianos foi fechado. “Isso só foi fechado porque trabalhamos o aspecto da qualidade com o setor produtivo”, destaca o gerente de mercado de café. Em ambos os casos, os requisitos para exportação foram bem trabalhados, com o mínimo possível de interferência de cheiro ou sabor de fumaça. Para isso, a secagem deve ser conduzida corretamente, de preferência com fogo indireto.
O cuidado com a exportação deve ser constante pelos negociadores para manter as margens de lucro mesmo com fatores variáveis, como câmbio e logística. “Os processos devem ser bem definidos para não comprometer a margem”, diz João Elvídio. Segundo ele, apesar das oscilações, sempre há um diferencial que é repassado aos produtores. Nesses dois casos de exportações, variou entre 2% e 5% no valor do mercado convencional, podendo elevar de acordo com o momento.
Com os dois casos de aberturas de novos mercados e visualizando a tendência da cafeicultura com a melhoria de qualidade, o setor cafeeiro acredita em novas oportunidades nos próximos anos. A expectativa é aumentar os embarques para o exterior, inclusive aumentando as exportações para Cuba que tem aprovado o produto capixaba. Para isso, será necessário continuar o trabalho de conscientização das boas práticas agrícolas nos tratos culturais dos cafezais. Esse tem sido um foco, nos últimos anos, das instituições públicas e privadas ligadas ao setor rural estadual. “Nos últimos cinco anos, estamos realizando um grande investimento para trabalhar o conceito de qualidade do café conilon. E, analisando o cenário atual, podemos observar que o conilon é a grande novidade no momento do mercado consumidor de café”, destaca Evair Vieira de Melo, especialista em degustação de café e presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Em São Domingos do Norte, o produtor Isaac Venturim segue o recado e está no caminho certo. “Não tenho medo de não vender meu café. O mercado está consolidado para o bom produto. Qualidade é o futuro esperado para todos produtos, inclusive o café”, diz o produtor que já ficou entre os primeiros colocados em importantes concursos de qualidade realizados no Espírito Santo e recebeu mais de 200 produtores para conhecer seu método de trabalho. Em Santa Teresa, mesmo após os 60 anos, Luiz Carlos Batisti também continua sua rotina em busca de novos mercados. “Se o produto tiver qualidade tem condições de continuar sendo exportado. Se eu tiver condição e alguém para apoiar, queremos continuar exportando. Tem que investir em qualidade para poder ficar no mercado”, finaliza. Não só para poder ficar no mercado, mas para conquistar novas oportunidades e ampliar os horizontes da cafeicultura capixaba, levando o produto de volta as terras de alguns dos imigrantes que desbravaram o Espírito Santo, além de outros países. “Aquela casa ali foi construída em 1905 pelos imigrantes italianos. E o café da nossa região está indo pra lá”, despede-se Batisti, mostrando a casa em frente ao terreiro da sua propriedade.
A receita para produzir o café Conilon cereja descascado
No Córrego Sábia, o produtor Isaac Venturim explica o processo que conduz para o pós colheita de qualidade do café Conilon cereja descascado.
Colher o café maduro é o primeiro passo para iniciar. Com menos de 12 horas tem que transportar para o beneficiamento para não fermentar o grão.
Ao chegar ao galpão, os grãos são colocados no Lavador que faz uma pré limpeza inicial em uma peneira retirando impurezas como paus, folhas etc.
Depois, a máquina separa os cafés maduros e verdes do seco. Os grãos secos passam direto pela máquina e vai ter uma secagem de forma diferenciada. Essa máquina consegue processar cerca de 150 sacas por hora.
Os grãos verdes e maduros vão para o Descascador. Nessa máquina, uma peneira prensa o grão. O maduro é descascado e desce para outro procedimento. Já o grão verde não descasca e é separado. Cada um vai secar de forma diferente.
O café maduro passa, agora, pelo Desmucilador, onde é retirado o excesso do ‘mel’ do café. Depois, uma centrífuga leva os grãos para o secador e tira o excesso de água, economizando tempo de secagem.
Já no Secador, os grãos ficam por 18 horas na fornalha de fogo indireto. Depois, o café está pronto para ser pilado e torrado.
Fonte: Campo Vivo
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