Publicado em: 28/08/2024 às 19:20hs
A cafeicultura brasileira enfrenta seu quarto ano consecutivo de desafios climáticos, colocando em risco a produtividade das lavouras. Com a colheita da safra atual praticamente finalizada, alcançando 98% segundo o último levantamento da Safras e Mercado, as estimativas apontam para uma quebra de produção entre 20% e 30% nas principais regiões produtoras do país.
Neste contexto, a colheita se encerra sob condições climáticas atípicas, marcadas por um inverno de temperaturas elevadas e ausência de chuvas em diversas áreas, o que traz novas preocupações para a florada da safra 2025.
As atenções dos produtores se voltam agora para as chuvas esperadas em setembro, fundamentais para a florada que deve surgir nas próximas semanas. Regiões como o Alto da Mogiana Paulista, o Sul de Minas e o Cerrado Mineiro já enfrentam um sério déficit hídrico, que pode comprometer o desenvolvimento das lavouras se as precipitações não ocorrerem.
De acordo com os últimos dados da Fundação Procafé, a situação é alarmante. Entre janeiro e julho deste ano, a região de Varginha, por exemplo, apresentou um déficit de 234 milímetros abaixo da média, refletindo uma realidade preocupante em todo o Sul de Minas. Na Mogiana Paulista, o déficit hídrico chegou a 220 milímetros, enquanto no Triângulo Mineiro, cidades como Araguari enfrentam uma carência de 250 mm. Patrocínio e Araxá também sofrem com déficits expressivos de 122 mm e 135 mm, respectivamente.
Esses números, referentes ao mês de julho, podem se agravar em agosto, caso as chuvas continuem escassas, alerta a Fundação Procafé.
Nos últimos anos, o inverno nas regiões produtoras de café tem sido marcado por temperaturas anormalmente altas. Tanto para as variedades arábica quanto conilon, o clima seco e as temperaturas acima da média aumentam a preocupação para a safra de 2025.
Rodrigo Naves Paiva, pesquisador da Fundação Procafé, explica que a florada depende diretamente das chuvas, e a ausência delas pode prejudicar a fixação das flores. "As lavouras já estão sofrendo com o déficit hídrico e as altas temperaturas. Além disso, as plantas, debilitadas após a colheita, podem ter sua recuperação comprometida," destaca Rodrigo.
Em julho, as temperaturas registradas ficaram 1,9°C acima da média histórica, e a previsão de ausência de chuvas até o final de agosto agrava ainda mais o cenário. Para setembro, espera-se que as regiões produtoras em Minas Gerais recebam cerca de 70 mm de chuva. Entretanto, se essa previsão não se concretizar, o estresse hídrico poderá piorar, prejudicando ainda mais a produção.
Apesar das preocupações, a geada registrada no Cerrado Mineiro, conhecida como geada de capote, não representa uma ameaça significativa para a próxima safra. Contudo, o déficit hídrico é uma preocupação maior, especialmente em regiões como o Sul de Minas, onde as condições são igualmente desafiadoras.
Para os cafeicultores, a necessidade de um manejo eficiente no pós-colheita e pré-florada é imperativa. Rodrigo Naves ressalta a importância de aplicar os nutrientes necessários ao solo, retornar a palha de café à lavoura e realizar todas as adubações essenciais para preparar as plantas para as chuvas, quando elas vierem.
Além disso, o clima atual favorece o surgimento de pragas como o bicho-mineiro e o ácaro vermelho, o que exige atenção redobrada dos produtores. "Com o clima seco, a planta fica muito empoeirada, e muitas vezes não é possível aplicar defensivos, exceto em casos excepcionais," alerta Rodrigo.
O cenário exige cautela e planejamento estratégico por parte dos cafeicultores, que enfrentam um futuro incerto em meio às adversidades climáticas, com potencial impacto na produção de café do Brasil para a safra 2025/26.
Fonte: Portal do Agronegócio
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