Aveia, Trigo e Cevada

Uso reduzido de sementes certificadas ameaça qualidade do trigo gaúcho, alertam especialistas

Mesmo com avanços genéticos e recordes produtivos, Rio Grande do Sul enfrenta queda no uso de sementes certificadas, o que coloca em risco a competitividade e a segurança alimentar


Publicado em: 12/12/2025 às 11:35hs

Uso reduzido de sementes certificadas ameaça qualidade do trigo gaúcho, alertam especialistas
Rio Grande do Sul lidera produção, mas enfrenta desafios

O Rio Grande do Sul mantém sua posição como maior produtor de trigo do Brasil, respondendo por quase metade da produção nacional. A safra 2025/26 deve alcançar 7,5 milhões de toneladas no país, segundo estimativas da StoneX, sendo 3,7 milhões de toneladas provenientes do território gaúcho.

De acordo com a Emater/RS-Ascar, o Estado cultivou 1,14 milhão de hectares, com produtividade média de 3.261 kg/ha. O cenário, contudo, exige cautela. “O agricultor precisou decidir com cuidado em quais culturas investir após as adversidades climáticas da safra de verão”, explica Arthur Machado, desenvolvedor de mercado da APASSUL (Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do RS).

Segundo ele, o trigo continua sendo uma opção estratégica, impulsionada por cultivares mais produtivas, resistentes e de alta qualidade industrial, resultado de anos de aprimoramento genético no Estado.

Queda no uso de sementes certificadas acende alerta

Apesar dos avanços tecnológicos, o uso de sementes certificadas no Rio Grande do Sul caiu para 48%, o menor índice dos últimos anos, segundo a APASSUL. Isso significa que mais da metade das lavouras são plantadas com sementes salvas ou de origem desconhecida, comprometendo a rastreabilidade, segurança alimentar e qualidade industrial.

Na prática, apenas 4,8 hectares em cada 10 utilizam sementes certificadas — o que afeta diretamente a produtividade e a reputação do trigo gaúcho. “A semente é o início de tudo. Sem ela, não há genética, produtividade ou qualidade industrial”, ressalta Machado.

Avanços genéticos não chegam ao campo sem base sólida

Nos últimos anos, o melhoramento genético do trigo trouxe variedades com maior resistência a doenças, estabilidade produtiva e melhor perfil industrial. Esse salto tecnológico garantiu retornos econômicos e sustentabilidade, elevando a competitividade do trigo gaúcho no mercado nacional.

Entretanto, para Pedro Basso, CEO da SCV e conselheiro da APASSUL, o desafio está na adoção dessas tecnologias. “É preciso que mais produtores invistam em sementes de alta qualidade para que o trigo do RS seja realmente maior e melhor”, afirma.

O pesquisador da Embrapa Trigo, Giovani Faé, reforça: “O uso insuficiente de sementes certificadas impede que o salto tecnológico chegue ao campo. Quando o produtor opta por sementes sem origem confiável, ele rompe a rastreabilidade e compromete toda a cadeia produtiva.”

Cadeia do trigo tem papel estratégico na segurança alimentar

A cadeia do trigo é uma das mais integradas do agronegócio brasileiro, conectando produtores, moinhos, indústrias e comércio. “Os obtentores e multiplicadores de sementes asseguram a pureza genética e a rastreabilidade; o agricultor planta o futuro; os moinhos garantem a qualidade da farinha; e a indústria transforma isso em alimento e renda”, explica Machado.

Apesar dos esforços produtivos, o Brasil ainda não é autossuficiente em trigo. Segundo a Secex/Cepea, até maio de 2025 o país importou 3,09 milhões de toneladas, o maior volume em 24 anos. Nos últimos dez anos, o Brasil gastou mais de US$ 11,3 bilhões na compra líquida do cereal, conforme dados da Embrapa Trigo.

Oportunidade para crescimento sustentável

A APASSUL alerta que a redução no uso de sementes certificadas, somada a fatores como custos elevados, falta de crédito e instabilidade climática, coloca em risco o futuro da cultura no Estado.

“O produtor que investe em sementes certificadas garante rastreabilidade, inovação e sustentabilidade para sua lavoura”, afirma Márcio Só e Silva, CEO da Semevinea Genética Avançada.

Faé, da Embrapa Trigo, acrescenta que o trigo cultivado com sementes certificadas contribui para o sequestro de carbono, fortalecendo o papel do cereal na agricultura sustentável. “O Rio Grande do Sul tem potencial de aumentar em mais de 40% sua produção de trigo de alta qualidade. Mas isso depende da adoção de sementes com procedência e genética comprovada”, reforça o pesquisador.

Financiamento e inovação garantem futuro da pesquisa

O ciclo de melhoramento genético depende do financiamento contínuo da pesquisa. Segundo Arthur Machado, o royalty do germoplasma — cerca de R$ 11 a R$ 12 por saca de 40 kg — é fundamental para sustentar os programas de inovação.

Empresas do setor destinam, em média, 20% do faturamento para pesquisa e desenvolvimento (P&D), garantindo a evolução constante das cultivares e a competitividade do trigo brasileiro.

Fonte: Portal do Agronegócio

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