Publicado em: 19/08/2025 às 10:53hs
Os preços do trigo no Brasil registraram queda nas últimas semanas, pressionados por fatores como desvalorização do dólar, retração internacional e importações aquecidas. Mesmo com estimativas de safra ligeiramente menor para 2025, os estoques internos elevados e a competitividade do trigo estrangeiro impactam as cotações domésticas.
De acordo com dados da Conab e análises do Cepea, a área cultivada com trigo no Brasil em 2025 está estimada em 2,55 milhões de hectares, uma queda de 16,7% em relação à safra anterior. O recuo reflete o desânimo dos produtores diante de margens apertadas e incertezas climáticas, especialmente no Sul do país, principal região produtora.
Apesar da redução da área, a produtividade tende a crescer 19%, chegando a 3,07 t/ha, o que deve resultar em uma produção total de 7,81 milhões de toneladas, apenas 1% abaixo da safra de 2024. O aumento da produtividade contribui para suavizar a perda de volume, mas não é suficiente para conter a pressão sobre os preços.
No Sul do Brasil, o mercado de trigo permanece lento, com negócios esporádicos e destaque para a comercialização antecipada da nova safra.
Rio Grande do Sul: foram negociadas cerca de 90 mil toneladas, sendo 60 mil destinadas à exportação e 30 mil para moinhos locais. Os preços variaram entre R$ 1.280 e R$ 1.350/t, dependendo de qualidade e região. A moagem reduzida e margens estreitas têm limitado novas compras.
Santa Catarina: a safra apresenta bom desenvolvimento, apesar de chuvas abaixo da média em algumas regiões. A produção estimada é de 359,7 mil toneladas, queda de 16,77% sobre o ciclo anterior. Os preços pagos aos produtores recuaram para R$ 72 a R$ 78/saca, refletindo a forte oferta gaúcha e a competitividade do trigo importado em Paranaguá.
Paraná: o mercado spot apresentou leve retração, em torno de R$ 1.400 CIF, enquanto os preços futuros giraram em R$ 1.300 CIF. Negócios isolados com trigo paraguaio foram realizados a R$ 1.440 CIF. O preço pago aos produtores caiu 0,23% para R$ 75,87/saca, ainda acima do custo médio de produção (R$ 72,89).
O mercado externo, especialmente a Argentina, também influencia os preços locais, com expectativas de maior produção e estoques reforçando a oferta e derrubando os valores internacionais.
O trigo importado tem se mostrado mais competitivo frente ao cereal nacional, beneficiado pela desvalorização do dólar e retração de preços internacionais. Essa condição aumenta o interesse da indústria moageira por grãos estrangeiros e limita a demanda pelo produto brasileiro.
Segundo o Cepea, os estoques elevados de passagem, impulsionados pelas importações ao longo de 2024, criam um colchão de segurança no abastecimento interno, mas dificultam a valorização do trigo nacional.
Para os produtores brasileiros, o cenário exige reavaliação estratégica sobre custos, momento de venda e possíveis alternativas de cultivo. Embora a produtividade crescente represente uma oportunidade de maior eficiência, o mercado integrado globalmente e sua volatilidade exigem planejamento e políticas de apoio à comercialização.
Especialistas apontam que, apesar da pressão sobre os preços, o momento pode ser usado para reorganizar a cadeia produtiva, investir em tecnologia e buscar maior competitividade frente às importações.
Fonte: Portal do Agronegócio
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