Aveia, Trigo e Cevada

Trigo no Brasil e cenário internacional pressionado — entenda o momento do mercado

Colheita doméstica esquenta a oferta, mas ritmo de vendas varia por região


Publicado em: 26/11/2025 às 11:00hs

Trigo no Brasil e cenário internacional pressionado — entenda o momento do mercado
Foto: Canva

A comercialização do trigo no Brasil avança de forma desigual entre os estados. No TF Agroeconômica, os dados apontam que o Rio Grande do Sul lidera as negociações: cerca de 30% da safra estimada — entre 3,4 e 3,5 milhões de toneladas — já foi negociada, o que corresponderia a aproximadamente 1 milhão de toneladas considerando mercado interno e exportações. Indústrias oferecem entre R$ 1060 e R$ 1130 CIF, mas encontram menor atratividade frente à exportação — cotada a cerca de R$ 1035 FOB. No mercado físico, o preço “na pedra” em Panambi permanece em R$ 55.

Em Santa Catarina, a colheita recente aumentou as ofertas, mas permanece a distância entre a expectativa dos vendedores e o apetite dos compradores. Produtores pedem até R$ 1200 por tonelada FOB, enquanto compradores sugerem valores entre R$ 1100 e R$ 1150. No entanto, parte da oferta vem de fora — principalmente do Rio Grande do Sul (cerca de R$ 1080 FOB + frete) e de São Paulo (R$ 1250 CIF). Os moinhos catarinenses trabalham com faixa de R$ 1130 a R$ 1150 CIF. Já os preços aos triticultores, na maioria das regiões, mantêm-se entre R$ 61 e R$ 64,25 por saca.

No estado do Paraná, o avanço é mais lento, mas consistente. Com moinhos já abastecidos, as ofertas giram em torno de R$ 1200 CIF, especialmente em Curitiba e Campos Gerais, com foco nos contratos para janeiro. A qualidade do trigo colhido recentemente varia entre tipos dois e três — em alguns lotes, tipo um — devido às chuvas. No Norte do estado, as negociações para janeiro alcançam R$ 1250–1280 CIF; no Oeste, giram entre R$ 1200 e R$ 1220. O trigo importado encontrado nos portos tem preços de US$ 240–260. Recentemente, o preço pago aos agricultores subiu 0,32% na semana, atingindo média de R$ 64,03 por saca — movimento que reduz o prejuízo estimado pela Deral — embora a entidade ressalte a importância de novas operações para melhores resultados.

Oferta global e clima adverso impulsionam retração nas safras internacionais

Enquanto o Brasil convive com oferta regional variada, o panorama externo pressiona os mercados globais. Um relatório de um serviço agrícola dos Estados Unidos aponta que, em um país da Ásia Central, condições climáticas adversas — chuvas excessivas e temperaturas mais baixas — levaram à redução da área de trigo plantada, com agricultores priorizando oleaginosas de maior retorno. A safra projetada caiu para 15,5 milhões de toneladas, cerca de 1 milhão a menos que na temporada anterior. A umidade elevada elevou o risco de perdas e comprometeu a qualidade dos grãos, com parte da produção sendo reorientada ao uso em ração animal.

Com isso, as exportações desse país devem recuar para 8,6 milhões de toneladas — cerca de 1,6 milhão a menos que na safra anterior —, ainda que haja esforço para ampliar rotas alternativas de escoamento. Entre maio e setembro, por exemplo, foram embarcadas 17 mil toneladas para o Vietnã via corredor contínuo de contêineres, estratégia favorecida por subsídios ao transporte. Outra frente de atuação tem sido o envio de farinha produzida localmente — inclusive já houve a primeira remessa para os Estados Unidos, apoiada por agência governamental de comércio. No entanto, apesar da redução nas vendas de trigo em grão, exportações de farinhas de trigo e cevada seguiram firmes, impulsionadas por preços competitivos e regimes de isenção tributária em mercados como a China.

Integração entre mercados doméstico e internacional pede cautela estratégica

O contraste entre a oferta doméstica — com safra em curso e preços regionais distintos — e o enfraquecimento da oferta internacional evidencia a necessidade de negociação estratégica. No Brasil, os produtores enfrentam um mercado fragmentado, com moinhos com poder de barganha e importações influenciando os valores CIF e FOB. Já no mercado internacional, a retração global no fornecimento e os ajustes de rotas comerciais — como o uso de contêineres e redirecionamento para farinhas — sugerem menor liquidez e maior volatilidade.

Analistas recomendam que quem comercializa trigo — produtores, cooperativas e moinhos — adote postura cautelosa: priorizar vendas pontuais para gerar caixa ou liberar espaço nos armazéns, ou optar por contratos futuros, especialmente olhando para o primeiro semestre de 2026. Para moinhos, a cobertura antecipada de contratos longos pode representar vantagem, pois garante matéria-prima a preços ainda relativamente atrativos ante a perspectiva de oferta global mais restrita. 

Perspectivas para o primeiro semestre de 2026

Com o cenário atual — oferta elevada no Sul do Brasil, colheita em andamento em outras regiões, e oferta global ajustada — a expectativa é de que o mercado de trigo atravesse uma fase de transição. Preços internos podem experimentar pressão moderada no curto prazo, especialmente dependendo da qualidade do cereal e da demanda. Já no âmbito internacional, o desempenho dependerá da capacidade dos exportadores de manter rotas alternativas e da reação da demanda global a preços e disponibilidade de estoque.

Para quem estiver no campo, ou na indústria moageira, o momento exige planejamento cuidadoso. A diversificação de estratégias — venda imediata, contratos futuros ou armazenagem — poderá ser determinante para garantir melhores resultados financeiros em 2026.

Fonte: Portal do Agronegócio

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