Publicado em: 24/06/2025 às 10:30hs
Mesmo em plena entressafra, os preços do trigo seguem em queda nos principais estados produtores da região Sul, refletindo um cenário de baixa demanda, aumento da oferta e dificuldades nas negociações. A situação impacta diretamente a rentabilidade dos produtores, especialmente no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
No Rio Grande do Sul, a combinação de contratos renovados para o próximo trimestre, dólar em baixa e cotação internacional pressionada dificulta as compras pelos moinhos, que enfrentam margens apertadas. A safra passada ainda encontra alguma demanda para embarques em agosto, mas julho já está completamente comprometido. Os preços variam entre R$ 1.330 e R$ 1.430 por tonelada, sem novas referências claras.
Em Santa Catarina, a chegada de trigo gaúcho e a sobra de sementes colaboram para manter o mercado parado e os preços deprimidos. Na região de Ijuí, o trigo panificação foi negociado a R$ 1.300, acrescido de R$ 140 de frete. Já os preços "na pedra" seguem estáveis há semanas: R$ 78,00/saca em Canoinhas e R$ 75,00 em Chapecó.
A estimativa nacional de produção está em 7,3 milhões de toneladas, abaixo das 7,89 milhões do ano passado. Se confirmadas a menor área plantada e a redução na produtividade, os preços podem reagir somente a partir de fevereiro de 2026.
No Paraná, a forte presença de trigo importado da Argentina e do Paraguai, somada à fraca demanda interna, empurra os preços para baixo. Atualmente, os compradores aceitam no máximo R$ 1.450 CIF, enquanto vendedores pedem R$ 1.500 FOB. Para a próxima safra, os contratos indicam valores semelhantes entre outubro e novembro, com moinhos já abastecidos até setembro.
A produção paranaense deve ficar entre 2,5 e 2,8 milhões de toneladas, o que reforça a dependência do trigo externo. Segundo o Deral, o custo de produção está estimado em R$ 73,53/saca, o que reduz a margem de lucro do produtor para 7,03%, um índice positivo, mas em declínio.
No cenário externo, o trigo também registra fortes perdas. Na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), os preços encerraram a sessão com quedas expressivas, influenciadas principalmente pela fraca demanda pelo produto dos Estados Unidos e o avanço da colheita de inverno, que deve se intensificar nos próximos dias e ampliar a oferta global.
Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), as inspeções de exportação de trigo na semana encerrada em 19 de junho totalizaram 254.782 toneladas, bem abaixo das 388.752 toneladas da semana anterior e das 344.652 toneladas no mesmo período de 2023. No acumulado do ano-safra (iniciado em 1º de junho), as inspeções somam 844.868 toneladas, contra 1.053.528 toneladas no ciclo anterior.
Outro fator que contribuiu para a queda foi a melhora nas estimativas da safra de trigo da Rússia. Analistas internacionais elevaram em 4,5 milhões de toneladas a projeção para 2025/26, que agora atinge 84,8 milhões de toneladas, superando as 81,3 milhões da safra anterior.
O mercado de trigo, tanto no Brasil quanto no exterior, atravessa um momento de incertezas, marcado por pressão de preços, margens reduzidas e excesso de oferta. Enquanto os produtores brasileiros enfrentam lucros cada vez menores, o mercado internacional sofre com baixa demanda e expectativas de colheitas robustas. A recuperação nos preços pode depender da redução de área plantada e de um eventual ajuste na oferta global ao longo dos próximos ciclos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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