Aveia, Trigo e Cevada

Trigo enfrenta desafios com clima, câmbio e baixa de preços: especialistas orientam venda antecipada para evitar prejuízos

Produtores lidam com perdas de qualidade devido às chuvas no Sul e recuo nas cotações internacionais, enquanto consultorias recomendam uso de ferramentas de comercialização e travamento antecipado de preços


Publicado em: 01/12/2025 às 11:10hs

Trigo enfrenta desafios com clima, câmbio e baixa de preços: especialistas orientam venda antecipada para evitar prejuízos
Foto: Embrapa
Colheita nacional avança, mas clima afeta qualidade no Sul

O mercado brasileiro de trigo entra em uma fase de ajustes após o avanço da colheita, segundo avaliação do Itaú BBA. Apesar da redução da área plantada, a produtividade manteve desempenho satisfatório, o que deve resultar em uma produção levemente inferior ao ciclo anterior, conforme estimativas oficiais.

Entretanto, o cenário ganhou incerteza com as chuvas intensas, temporais e episódios de granizo registrados no Sul do país entre o fim de outubro e início de novembro. Os impactos mais significativos recaem sobre a qualidade do grão, com relatos de presença elevada de micotoxina DON, o que pode direcionar parte da produção para uso em ração animal, gerando prejuízos aos produtores.

Oferta global recorde pressiona cotações internacionais

No mercado externo, as cotações do trigo permanecem pressionadas pelo aumento da oferta global. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revisou para cima sua estimativa e projeta produção recorde de 829 milhões de toneladas em 2025/26, ante 800 milhões na safra anterior.

Após quatro ciclos consecutivos de queda, os estoques mundiais devem subir para 271,4 milhões de toneladas, ampliando o equilíbrio entre oferta e demanda. O crescimento é liderado por grandes exportadores, como União Europeia, Rússia, Canadá, Austrália e Argentina. Esta última, principal fornecedora do trigo importado pelo Brasil, deve colher 24 milhões de toneladas, mesmo com algumas regiões afetadas por umidade excessiva.

Câmbio favorece importações e reduz competitividade brasileira

Além da ampla oferta internacional, a valorização do real frente ao dólar tem aumentado a atratividade das importações e reduzido a competitividade do trigo brasileiro no mercado externo.

De acordo com o Itaú BBA, os próximos meses devem ser decisivos para definir o comportamento dos preços internos, com atenção especial ao câmbio e às condições climáticas na Argentina, fatores que tendem a influenciar diretamente a originação do produto no mercado doméstico.

Consultoria recomenda venda antecipada e uso do mercado futuro

Em meio à instabilidade de preços, a TF Agroeconômica reforça a importância de decisões rápidas e uso estratégico de ferramentas de comercialização. Segundo a consultoria, dezembro é historicamente o pior mês para vender trigo, com preços médios de R$ 61,85 por saca no Rio Grande do Sul e R$ 71,63 no Paraná, ambos abaixo do custo variável de R$ 74,63 calculado pelo Deral.

A orientação é travar preços antecipadamente e utilizar o mercado futuro como forma de garantir rentabilidade, mesmo diante de incertezas produtivas. Essas operações, que não exigem entrega física em caso de quebra de safra, permitem que produtores fixem valores e se protejam das oscilações.

Rentabilidade depende do momento certo de venda

A TF Agroeconômica lembra que o trigo pode garantir lucro quando comercializado no momento adequado. Nesta temporada, houve oportunidades de até R$ 91 por saca, com margem superior a 21%, mas poucos produtores aproveitaram. Também houve janelas a R$ 89 e R$ 81,75, todas com rentabilidade positiva, porém pouco exploradas por falta de conhecimento sobre fixação de preços em bolsa.

Segundo a consultoria, essas práticas não são especulativas e se assemelham às fixações tradicionais feitas em cooperativas, com o diferencial de proteger o produtor contra perdas de produtividade. Além disso, o uso dessas ferramentas beneficia cooperativas e empresas da cadeia, permitindo melhor planejamento comercial e gestão de riscos.

Falta de rentabilidade compromete produtividade e qualidade

Para a TF Agroeconômica, o preço é o maior adubo. Quando a remuneração é insuficiente, produtores reduzem investimentos, utilizam sementes próprias e diminuem tratos culturais, o que compromete a produtividade e a qualidade do trigo brasileiro.

A consultoria destaca que países como Estados Unidos, Argentina e membros da União Europeia já utilizam há décadas ferramentas de proteção de preços e mercados futuros, o que lhes confere maior estabilidade e segurança comercial.

Fonte: Portal do Agronegócio

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