Publicado em: 10/10/2025 às 11:40hs
A ampla disponibilidade de trigo no mercado gaúcho tem provocado forte queda nos preços pagos aos produtores. Segundo a TF Agroeconômica, o Rio Grande do Sul enfrenta um desequilíbrio entre oferta e demanda, com mais de 2,5 milhões de toneladas ainda disponíveis — fator que explica o recuo contínuo nas cotações.
Dados da Emater/RS-Ascar mostram que as lavouras seguem em boas condições: 58% das áreas estão em enchimento de grãos e 18% em maturação fisiológica, com potencial produtivo elevado, podendo ultrapassar 3.900 kg/ha nas regiões mais tecnificadas. No entanto, o excesso de chuvas e as geadas no início do ciclo afetaram parte das lavouras, reduzindo o número de espigas por metro quadrado em algumas áreas.
A colheita ainda é inicial, com menos de 1% da área total colhida. Aproximadamente 140 mil toneladas da nova safra já foram comercializadas, sendo 90 mil destinadas à exportação — volume bem inferior à média histórica de 350 mil toneladas para o período.
Com moinhos locais e de outros estados menos ativos, muitos produtores têm recorrido ao porto de Rio Grande, onde negócios ocorrem em torno de R$ 1.160,00 por tonelada sobre rodas, o que representa cerca de R$ 1.000,00 no interior. Os preços nas principais praças gaúchas seguem em queda, variando entre R$ 61,00 e R$ 64,00 por saca.
Em Santa Catarina, a colheita avança lentamente e os preços recuaram para R$ 62,00 a R$ 72,25 por saca, enquanto os moinhos continuam comprando de outras regiões. Já no Paraná, com mais de 60% da área colhida, a demanda começa a reagir, sustentando preços entre R$ 1.220,00 e R$ 1.280,00 por tonelada, segundo o Cepea.
O mercado internacional também segue pressionado. Na Bolsa de Chicago (CBOT), os contratos de dezembro/25 para o trigo recuaram para US$ 505,50 por bushel, refletindo a valorização do dólar frente a outras moedas e o aumento da concorrência global nas exportações.
A Tunísia abriu uma licitação para a compra de 100 mil toneladas de trigo soft, enquanto a Bolsa de Comércio de Rosário elevou a estimativa da safra argentina 2025/26 para 23 milhões de toneladas, impulsionada pelos bons rendimentos e pela boa umidade do solo.
Com isso, os contratos com entrega em dezembro fecharam a US$ 5,06 ½ por bushel, queda de 0,14%, e os de março de 2026 caíram 0,23%, para US$ 5,24 por bushel.
No Brasil, as cotações do trigo seguem caminhos distintos. O Cepea registrou R$ 1.242,83 por tonelada no Paraná (+0,71%) e R$ 1.186,12 no Rio Grande do Sul (-0,24%). A TF Agroeconômica relata rumores de que a Conab estuda lançar um Programa de Escoamento da Produção (PEPRO) para cooperativas e produtores gaúchos, voltado ao atendimento de até 200 mil toneladas de trigo destinadas ao Norte e Nordeste. A medida exigiria cerca de R$ 75 milhões em recursos e visa garantir competitividade frente ao trigo argentino, que continua com prêmios mais atrativos.
A tendência de baixa não se restringe ao trigo. A soja opera em recuo, com o contrato novembro/25 cotado a US$ 1.014,50 por bushel, após queda de 7,75 cents. A volta da China ao mercado, após o feriado nacional, resultou na compra de seis carregamentos de soja brasileira e dois da nova safra, mas a realização de lucros pelos fundos limitou os ganhos em Chicago.
O milho também acompanha a tendência negativa, cotado a US$ 417,25/bushel para dezembro/25. A queda é sustentada pela colheita recorde nos Estados Unidos e pela redução da previsão de importação da China para 6 milhões de toneladas na safra 2025/26.
No mercado interno, o Cepea registrou R$ 65,19/saca (-0,17%), enquanto na B3 o contrato de novembro/25 avançou 0,64%, para R$ 67,24/saca.
O cenário para o trigo no curto prazo é de pressão contínua sobre os preços, tanto pela abundante oferta no Sul do Brasil quanto pela força do dólar no mercado internacional, que reduz a competitividade das exportações.
Mesmo com boas expectativas de produtividade, o setor segue atento às possíveis medidas de apoio da Conab e ao comportamento das cotações externas, fatores que devem determinar o rumo das negociações nas próximas semanas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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